Imóvel de veraneio
Será que realmente vale a pena comprar uma casa na praia?
Não vale a pena comprar casa de praia
Samy Dana
A chegada do verão deixa muita gente com aquela vontade de curtir uns dias no litoral. Há quem não abra mão de passar a virada de ano na praia e acredita ser uma boa ideia comprar um imóvel para ter a liberdade de ir com frequência.
Além disso, a vontade de adquirir a casa pode levar à ilusão de que a compra seria um bom investimento, tendo em vista a possibilidade de alugar o imóvel por temporadas.
Bom, antes de mais nada, é preciso fazer um alerta de que aqui age um fenômeno psicológico conhecido como viés de confirmação: uma vez que temos uma ideia em mente, tendemos a concordar com mais facilidade com tudo aquilo que reforce nossos argumentos e tendemos a rejeitar ideias que entrem em contradição com as nossas.
O grande problema, neste sentido, é que o nosso senso crítico fica prejudicado para tomar uma grande decisão financeira.
Então, se você acredita que a compra de um imóvel no litoral seja uma boa ideia, vale a pena colocar algumas contas na ponta do lápis para repensar essa decisão.
Para efeito de comparação, farei uma simulação das despesas para manter uma casa em um condomínio em Ubatuba, no litoral de São Paulo. Em seguida, vou mostrar como seria o resultado se o dinheiro fosse investido em renda fixa.
Em uma busca em anúncios imobiliários, encontrei um imóvel em um condomínio fechado pelo valor de R$ 900 mil. Somados, os valores de IPTU e de condomínio chegam a R$ 6.200 por ano.
Além disso, vamos considerar ainda outros R$ 6.000 anuais para custear o pagamento de serviços esporádicos de limpeza e jardinagem Além do valor necessário para a compra do imóvel, temos uma despesa anual de R$ 12.200 - sem considerar reajustes e inflação.
Vamos imaginar que a diária média para alugar o imóvel em temporadas seria de R$ 500. Sendo assim, para cobrir somente as despesas anuais - sem considerar eventuais manutenções - seria preciso alugar a casa por cerca de 25 dias.
Não parece algo absurdo de ser alcançado em um ano, mas vale lembrar que o que entrar além disso não pode ser considerado lucro: tendo em vista o montante que foi despendido para a compra do imóvel.
Se considerarmos apenas os R$ 900 mil usados para comprar a casa, seria necessário manter o imóvel alugado por praticamente cinco anos - considerando a mesma média de R$ 500 por dia - para recuperar o que foi gasto.
Você pode se questionar: “Samy, você não está considerando a inflação e a valorização do imóvel”. Pois bem, a comparação sem considerar esses fatores serve somente como forma de simplificar o cálculo.
Na prática, se a média da diária sobe ao longo dos anos, as despesas também crescem. Quanto ao valor do imóvel, ainda que haja uma forte valorização, o patrimônio está ali parado. Para ter o retorno, seria necessário dar a sorte de fechar um excelente negócio na venda. Em contrapartida, com um investimento o dinheiro fica rendendo sem que você precise fazer esforço.
Veja só, se os R$ 912.200 - que seriam usados para comprar e manter a casa ao longo de um ano - fossem investidos em Tesouro Selic, que é um título público do Tesouro Direto atrelado à taxa básica de juros da economia, o cenário seria muito mais animador.
Com base em uma simulação feita no próprio site do Tesouro Direto, considerando um título adquirido em novembro deste ano, com vencimento para daqui a dez anos, a rentabilidade líquida seria de 12,18% ao ano.
Descontando todas as taxas e o Imposto de Renda, o montante se transformaria em R$ 2.875.070,64 no momento do resgate.
Vale ressaltar que consideramos apenas um título do Tesouro - como forma de facilitar o cálculo. Se o montante fosse investido em uma carteira diversificada - mesmo considerando somente opções conservadoras - o dinheiro poderia render ainda mais.
Pense bem: somente com os mais de R$ 12 mil que você gastaria anualmente para manter a casa, seria possível fazer uma excelente viagem por ano - ainda com a opção de variar destinos. Manter uma casa na praia é um luxo que sai caro, raramente você conseguirá aproveitá-la o suficiente para compensar as despesas.
Fonte: http://g1.globo.com/