Mercado

Adensamento demográfico

Em três anos, 210 mil pessoas migraram para apartamentos em SP

Por Mariana Ribeiro Desimone

domingo, 27 de julho de 2014


Em SP, 210 mil pessoas trocam casas por prédio

Verticalização e adensamento são palavras-chave para explicar e entender o boom imobiliário paulistano. E novos dados ilustram isso: São Paulo ganhou mil prédios residenciais e 210 mil moradores de apartamentos nos últimos cinco anos. Esse tipo de moradia representa 37% (um em cada três) do total dos domicílios paulistanos.
 
É o que aponta um levantamento realizado pela empresa de administração de condomínios Lello - obtido com exclusividade pelo Estado. Segurança e praticidade são os principais atrativos que levam o paulistano a trocar a casa por um apartamento. "Mudei principalmente por causa da segurança. Mas também acho bom não precisar me preocupar em cuidar do quintal ou da piscina", afirma a publicitária Ana Paula da Costa Bezerra, de 44 anos, que vive em um apartamento no Morumbi com os dois filhos.
 
"A casa era grande e tinha muitas escadas. Por causa da minha idade, não posso ficar subindo e descendo o tempo todo. Sem contar que a casa dava muito trabalho. Como as escadas viraram um problema, a mudança serviu como um ajuste para esta fase da minha vida", justifica a dona de casa Heliana Correa Carvalho, de 70 anos, que vive em um apartamento na Granja Julieta, na zona sul, há três anos.
 
"Segurança. A principal vantagem em morar em apartamento é poder ficar em casa sozinha sem medo", resume a escriturária Daniela Martins Ortega, de 34 anos, que se mudou com marido e filho para um apartamento no Butantã, na zona oeste.
 
O raio X mostra ainda que os 21 mil condomínios residenciais paulistanos - considerando apenas os com mais de três andares e orçamento superior a R$ 24 mil por ano - empregam 6 mil pessoas como zeladores, porteiros, faxineiros e garagistas e movimentam R$ 13,2 bilhões por ano, valor superior ao orçamento anual de capitais brasileiras como Curitiba e Porto Alegre.
 
Desse total, R$ 5,9 bilhões são destinados ao pagamento de funcionários e encargos trabalhistas e outros R$ 2,3 bilhões são gastos com o consumo de água. Os outros principais gastos de um condomínio são com energia elétrica e contratos de manutenção e conservação.
 
Geografia. O levantamento da empresa também mostra a distribuição dos imóveis. Do total de condomínios residenciais na cidade, 47,3% ficam na zona sul. Outros 33,4% estão localizados na zona oeste, 11,5% na zona leste e 7,8% na região norte.
 
Em média, cada prédio tem 70 apartamentos. Do total, 15,1 mil condomínios são os chamados "clássicos", com taxa média mensal de R$ 487. Outros 2,5 mil prédios são de médio para alto padrão, com condomínio mensal médio de R$ 718. Os condomínios denominados "grandes conjuntos", com três ou mais torres, somam 1.350. Nesses locais a cota média é de R$ 250 por mês.
 
São considerados de alto padrão 830 empreendimentos, com taxa média mensal de R$ 1,3 mil. Há 650 do tipo "clube" (com taxa média de R$ 586 por mês) e 120 "econômicos" (R$ 95 por mês).
 
Para especialistas, a verticalização é um processo irreversível, que se acentuará ainda mais nos próximos anos. "O fenômeno existe porque tem demanda: as pessoas querem morar em bairros com melhor estrutura e, aí, o único jeito é adensar", explica o arquiteto e urbanista Pedro Paes Lira, diretor para o Brasil da empresa de Arquitetura, Engenharia e Consultoria espanhola IDOM-ACXT. "A concorrência pelo espaço é o que faz com que os novos lançamentos sejam verticalizados."
 
Novatos. A pesquisa também mostra que são duas as principais dúvidas dos novatos na vida de condomínio: como funciona a divisão das despesas em um prédio e qual é o sistema de utilização das vagas de garagem. A empresa de administração afirma que, nos últimos anos, esse tipo de questionamento tem sido "mais intenso", justamente por causa desse fenômeno que leva cada vez mais paulistanos a trocar casa por apartamento. "Para estes, é uma vida totalmente nova e diferente, com regras estabelecidas", comenta Angélica Arbex, gerente da Lello.
 
Entretanto, na contramão dessas dúvidas vem outro dado, que reflete a baixa atuação dos moradores na política do prédio onde moram: 60% dos paulistanos que vivem em condomínio simplesmente ignoram as reuniões. Em média, um prédio realiza duas assembleias por ano.
 
São encontros importantes - apesar de muitas vezes cansativos, com duração de até três horas - porque definem desde mudanças nas regras até se o dinheiro do condomínio será investido em uma reforma, por exemplo. "Esse baixo quórum é verificado até mesmo nas assembleias para a eleição do síndico e a aprovação das contas", afirma a gerente.
 
A publicitária Ana Paula, por exemplo, admite que não participa das reuniões - mas reconhece que são nelas que acabam determinadas as prioridades para o condomínio. "Nem todos participam. Então, a minoria decide", comenta.
 
"Eu participo das assembleias. Acho que me ajuda com algumas coisas", afirma a dona de casa Heliana. A escriturária Daniela diz que também costuma ir às reuniões - porém, tem uma opinião crítica. "Não acredito que resolva alguma coisa. A síndica do meu prédio está no cargo há oito anos. Ela fica falando e as pessoas concordam com ela", diz.
 
As assembleias "campeãs de audiência", quando o número de presentes chega a 80% dos condôminos, são aquelas que têm em sua pauta sorteio de vagas de garagem. Nesse caso, as regras são claras: quem não comparece acaba ficando com os piores lugares para estacionar os veículos no condomínio.
 
Para realizar o levantamento, a Lello divide a cidade em 180 "quarteirões" - conjuntos de 100 a 200 condomínios. Todos os meses, essas regiões são percorridas, a pé, por funcionários da empresa. Com questionários na mão, eles abordam porteiros e síndicos. Os dados são checados por telefone por uma equipe de teleatendimento. "A nossa amostragem abrange 96% dos condomínios paulistanos", afirma Angélica.

Fonte: http://www.dgabc.com.br/