segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Um dia após o temporal que deixou uma pessoa morta, ruas e estação de Metrô alagadas e carros ilhados, prefeito Ricardo Nunes disse que cidade estava preparada e não havia o que ser feito para conter água que invadiu estação.
A cidade de São Paulo viveu um dia de caos na última sexta-feira (24) com ruas alagadas, cachoeira e correnteza em estações do Metrô e carros levados pela enxurrada. A capital registrou o terceiro maior volume de chuva desde o início das medições do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em 1961 — foram 125,4 mm acumulados.
O artista plástico Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, morreu na chuva histórica após a enxurrada invadir sua residência na Vila Madalena, na Zona Oeste. A água atingiu a altura aproximada de 2 metros.
Um dia após o temporal, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que a cidade estava preparada e não havia o que fazer para conter a força da água que invadiu a estação Jardim São Paulo, da Linha 1-Azul do Metrô, onde passageiros tiveram que se agarrar a grades para não serem levados pela correnteza.
“Num volume de água igual aquele [na estação São Paulo do Metrô], não adianta, você vai ter problema. É humanamente impossível conter, com a quantidade de água e aquele volume, no mesmo local em um espaço curto de tempo. Ali é um vale. Tivemos situações no passado de ter essa situação, agora é trabalhar para fazer bombeamento”, afirmou.
Diferentemente do que Nunes declarou, há diversas medidas que podem ser adotadas para minimizar e evitar os danos provocados por temporais como o de sexta, afirmam especialistas ouvidos pelo g1 e pela GloboNews.
As mudanças climáticas e o aumento dos eventos meteorológicos extremos também não são mais novidade e fazem parte do cotidiano dos paulistanos.
Dados levantados pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP), por exemplo, revelam que o acumulado de chuva na capital paulista cresceu 5,5 mm por ano, em média, entre 1933 e 2023.
Somado a esse cenário, o sistema de drenagem defasado e as áreas impermeabilizadas (como asfalto e calçadas que impedem a absorção da água) da cidade também são grandes obstáculos a serem superados pelos gestores públicos.
Ao g1, Pedro Camarinha, engenheiro e pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), explica que áreas mais impermeabilizadas aceleram o escoamento da água da chuva, aumentando a pressão sobre o sistema de drenagem.
Contudo, a infraestrutura de São Paulo está defasada para as condições climáticas atuais e não suporta mais as pancadas de chuvas que estão cada vez mais intensas e repentinas.
“Quanto maior for essa impermeabilização, mais rápido vai ser o escoamento superficial e mais rapidamente pode sobrecarregar o sistema de drenagem que foi projetado com alguns parâmetros específicos que, para boa parte de São Paulo, são parâmetros antigos. Era para um clima mais antigo, e esse clima tem mudado ao longo do tempo", destaca Camarinha.
O professor do Instituto das Cidades da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Kazuo Nakano também destaca que a cidade está sofrendo com inundações em áreas que não inundavam, tradicionalmente, como no Centro expandido, na região da Pompeia e até mesmo dentro do Metrô.
"O que está acontecendo é que a cidade está dando sinais de um colapso no seu sistema de drenagem, porque nas últimas décadas teve muita intervenção no espaço da cidade, muitas obras de infraestrutura [...] principalmente nos sistemas de drenagem na cidade que não teve adaptação necessária a esses processos de transformação do tecido urbano, mas também a esses processos de mudanças climáticas que está entrando em uma situação de emergência climática", disse Nakano à GloboNews.
Além das mudanças climáticas globais, o pesquisador do Cemaden relembra que São Paulo é uma grande ilha de calor — caracterizada pela temperatura mais elevada em comparação com as regiões vizinhas — em razão da quantidade de prédios, asfalto e da falta de áreas verdes.
"Então ela guarda muito calor ao longo dos dias, que em determinadas situações serve de combustível adicional à tempestade. O que explica, por exemplo, parte desse evento de sexta-feira. Se você olhar, não teve essa chuva no entorno de São Paulo, não foi uma coincidência. E além dessa ilha de calor, tem muito material particulado sendo emitido, principalmente pelos carros, que serve para ser um núcleo de condensação das nuvens", explica Camarinha.
Questionado sobre as medidas que a prefeitura tem adotado na prevenção das enchentes na segunda-feira (27), o prefeito Ricardo Nunes afirmou que há oito piscinões em construção em parceria com os governos estadual e federal. Esta é uma das promessas do plano de governo do emedebista.
Nunes também disse que, no primeiro mandato, foram investidos R$ 7,6 bilhões em drenagem, microdrenagem, canalização de córrego e contenção de encostas.
Contudo, na avaliação do pesquisador do Cemaden, o gestor deveria apostar em obras com múltiplas funcionalidades, como os parques lineares — que são infraestruturas verdes projetadas para acompanhar o curso de rios ou córregos, desempenhando papel importante no escoamento da água durante as enchentes e na redução dos alagamentos.
Além de ser uma solução ecológica e urbanística, Camarinha aponta que esse tipo de parque também tem a função social — o que não acontece com os piscinões.
Um exemplo de sucesso citado pelo pesquisador é o Projeto Cheonggyecheon, em Seul, na Coreia do Sul, que recuperou um córrego, reduziu enchentes e revitalizou o centro urbano.
"Fazer um híbrido entre soluções baseadas na natureza, parques lineares, áreas grandes permeáveis, junto com sistemas tradicionais de engenharia se tornam uma boa opção. Colocando mais árvore em geral, a cidade vai esfriando um pouco mais localmente e vai ajudando na ilha de calor", complementou.
Outra solução apontada pelo professor do Instituto Cidades da Unifesp é a instalação de mecanismo de captação, armazenamento e reúso da água da chuva nos imóveis espalhados pela cidade, com o objetivo de reduzir o impacto no sistema de drenagem.
Para Kazuo Nakano, também é necessário investir mais na prevenção e não apenas na Defesa Civil, "fazendo estudo de análise de risco na cidade diante das ameaças climáticas e ver quais são as vulnerabilidades da população, em especial a de renda mais baixa, e quais são as suscetibilidades a essas inundações em diferentes partes da cidade".
Desde o dia 1° dezembro, a Defesa Civil já contabilizou 17 mortes no Estado de São Paulo relacionadas às chuvas de verão. A última vítima é um menino de apenas 7 anos que morreu no domingo (26) ao ser levado pela enxurrada dentro de um parque em Embu das Artes, na Grande São Paulo.
Segundo o balanço do órgão, oito vítimas foram diretamente relacionadas aos temporais no estado, enquanto sete morreram em razão de deslizamentos e outras duas, dos vendavais.
Região de Brasilândia registrou alagamentos na tarde dessa segunda-feira (27). Zonas Norte, Oeste e Centro entraram em estação de atenção às 16h05, segundo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE).
A chuva que atingiu a cidade de São Paulo nessa segunda-feira (27) deixou ruas da Zona Norte alagadas. O Globocop, da TV Globo, registrou vias alagadas na região da Brasilândia.
A região entrou em estado de atenção às 16h05 com a Zona Oeste, o Centro e as marginais Tietê e Pinheiros. O término ocorreu às 17h25.
Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da prefeitura, áreas de chuva formadas pela entrada da brisa marítima associadas ao tempo abafado atuaram na cidade. Os maiores índices registrados foram:
Em nota, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana informou que a Defesa Civil atendeu 54 ocorrências das 7h às 19h desta segunda-feira (27). Foram 39 ocorrências para queda de árvores, sendo: 18 na Zona Leste, 12 na Zona Norte, 3 na Zona Sul e 6 na região Centro-Oeste.
Além disso, foram 12 chamados para desabamentos, sendo três na Zona Leste, seis na Zona Norte, um na Zona Sul e dois na região Centro-Oeste. Também foram três chamados para deslizamentos: um na Zona Leste, um na Zona Sul e um na região Centro-Oeste.
Barueri também registrou pontos de alagamento. Segundo a prefeitura, um deles foi na Avenida Anibal Corrêa com a Estrada dos Pinheiros, no Parque Viana, às 16h55. Três viaturas promoveram o fechamento da via até o escoamento da água.
Houve também na Alameda Araguaia com a avenida Sylvio Honório Alvares Penteado, em Tamboré, onde agentes de trânsito com uma viatura promoveram o fechamento da via até o escoamento da água.
Em Carapicuíba, a cidade registrou somente um ponto de alagamento, na Marginal do Cadaval. Não houve registros de queda de árvores.
Os próximos dias seguem com condições típicas de verão, ou seja, sol entre nuvens, tempo abafado e pancadas de chuva no final das tardes.
A terça-feira (28) segue com sol entre nuvens e tempo abafado. Os termômetros variam entre mínimas de 19°C e máximas que podem superar os 28°C. As instabilidades voltam a ganhar força entre a tarde e o início da noite, provocando chuvas na forma de pancadas de moderada a forte intensidade.
Na quarta-feira (29) persistem as condições típicas de verão, com sol entre nuvens e tempo abafado. As temperaturas variam entre mínimas de 20°C e máximas que podem superar os 29°C.
Entre o meio da tarde e o início da noite retornam as condições para chuvas na forma de pancadas com intensidade variando de moderada a forte na Grande São Paulo.
Defesa Civil monta gabinete de crise nesta segunda (27/1) e terça (28/1) para coordenar ações devido aos eventos climáticos
Após três dias de fortes chuvas, a semana começa com mais previsões de precipitações intensas, que devem se concentrar principalmente na região metropolitana de São Paulo. A Defesa Civil do estado montará um gabinete de crise presencial, que deve funcionar até terça-feira (28/1), para coordenar as ações relacionadas ao evento climático.
Saiba mais sobre a previsão:
Até esse domingo (26/1), o governo do estado confirmou 17 mortes decorrentes das chuvas em São Paulo desde o início de dezembro.
Devido às fortes chuvas, a linha 1-Azul do metrô foi fechada na altura das estações Jardim São Paulo, Parada Inglesa e Tucuruvi na última sexta-feira (24/1) e só voltou a funcionar na manhã desta segunda.
Câmera de segurança registrou a sequência dos acontecimentos na Rua Romeu Perrotti, nesta sexta-feira (24).
@g1 Chuva em SP - A enxurrada provocada pela chuva forte desta sexta-feira em São Paulo derrubou o muro de um prédio, arrastou carros e destruiu o portão de uma casa na região da Vila Madalena. A sequência dos acontecimentos foi registrada por uma câmera de segurança. Nas imagens, a estrutura é derrubada pela força d'água, gerando uma espécie de onda que carregou carros estacionados para a residência em frente. #g1 #tiktoknotícias #chuva #vilamadalena #sp ♬ som original - g1
A enxurrada provocada pela chuva forte desta sexta-feira (24) derrubou o muro de um prédio, arrastou carros e destruiu o portão de uma casa na região da Vila Madalena, na Zona Oeste de São Paulo.
O caso ocorreu na Rua Romeu Perrotti. A sequência dos acontecimentos foi registrada por uma câmera de segurança.
Nas imagens, a estrutura é derrubada pela força d'água, gerando uma espécie de onda que carregou carros estacionados para a residência em frente.
"O muro caiu silenciosamente. Quando nós vimos, este carro estava dentro da minha casa, foi ele que abriu o portão. O meu estava do lado de fora e ficou nesse estado, perda total, e o pior é que nós não temos seguro", relatou Sônia Policarpo, moradora da casa invadida por um automóvel.
"Nós perdemos tudo... fogão, geladeira, freezer, micro-ondas, televisão, sofá, mas graças a deus não perdemos a nossa vida. Nós estamos em pé pra tentar recuperar o que nos foi tirado", disse a aposentada.
A mulher relatou que moradores da região já haviam procurado a subprefeitura de Pinheiros para reclamar sobre o muro do condomínio, por acreditarem que a estrutura estava comprometida. Segundo ela, uma vistoria foi realizada e a estrutura foi considerada segura.
"O síndico deste prédio fez alguns furos no muro, dizendo que, se chovesse, a água iria escapar por essas frestinhas que ele fez. Só que não foi o que aconteceu, o muro desabou".
O g1 questionou a Secretaria de Subprefeituras sobre a denúncia e a vistoria mencionadas, mas não recebeu um retorno até a última atualização desta reportagem.
Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/01/25/video-enxurrada-derruba-muro-de-predio-arrasta-carros-e-destroi-portao-de-casa-na-vila-madalena-na-zona-oeste-de-sp.ghtml