Condomínios podem ter alavancado IDH de Nova Lima, melhor de MG
Aumento do índice na cidade tem que ser relativizado, diz pesquisador. Prefeito garante que políticas sociais trouxeram bons resultados.
Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) entre as 853 cidades de Minas Gerais, e aparece em 17º lugar no ranking nacional. Em uma escala que vai de 0 a 1 e que avalia três fatores - educação, renda e longevidade -, o município tem índice de 0,813, considerado muito alto. Ele detém também a maior renda per capita mineira: R$ 1.731,84, o que reflete índice de 0,864, o sétimo maior do país. Consulte o IDH do seu município.
Em comparação com os dados relativos a 2000, os números de Nova Lima chamam atenção. Em uma década, o crescimento do IDHM foi de quase 20%. Entretanto, "a melhora tem que ser relativizada". A afirmação é do pesquisador Olinto Nogueira, que coordenou a equipe da Fundação João Pinheiro na execução do levantamento, realizado também pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Nogueira frisa que o índice obtido por Nova Lima pode ter sido impulsionado por uma "característica especial" da cidade. O município da Região Metropolitana - distante cerca de 20 quilômetros da capital mineira - concentra grande número de condomínios de luxo, que são praticamente uma extensão da Zona Sul de Belo Horizonte, área nobre da cidade. "As pessoas que moram nesses condomínios têm mais interação com Belo Horizonte que com o município de Nova Lima", avalia o pesquisador da Fundação João Pinheiro.
Nogueira enfatiza que esta análise ainda é uma hipótese, que poderá ser comprovada com o maior detalhamento dos dados. Ele explica que, em dezembro, 16 Regiões Metropolitanas do país serão mapeadas, especificando o IDH por bairros. "O simples ato de atravessar uma rua pode dividir o IDH de uma cidade", afirma.
Apesar da ponderação, os moradores do município concordam com a suposição do pesquisador. Para o técnico em informática Emerson Reis, de 36 anos, a renda per capita de R$ 1.731, 84 não condiz com a realidade da população de Nova Lima. Segundo ele, a média aumentou justamente por causa de moradores de condomínios de luxo da cidade.
"No geral é salário mínimo mesmo. Para eu chegar nesse valor da média, eu tenho que executar três tipos de emprego. Trabalho como técnico, trabalho com escritório, e ainda trabalho freelancer, para poder mais ou menos chegar ai", disse o morador do município.
A desigualdade de renda na cidade não é uma impressão somente da população. Mesmo com o alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Minas Gerais, Nova Lima não é um exemplo positivo quando se observa a desigualdade de renda, medido pelo Índice Gini. Em 2010, a nota obtida pela cidade é de 0,68, numa escala de 0 a 1, em que, quanto maior o índice, maior é a concentração de renda.
"O Gini dele [município de Nova Lima] é maior que o do Brasil. O que posso garantir, se o Brasil é considerado uma das piores desigualdades de renda do mundo, imagine a de Nova Lima. A desigualdade de renda do Brasil é 0,60, a de Nova Lima é pior. E piorou ao longo do tempo", pondera o pesquisador Olinto Nogueira, levando em conta os índices em 1991 (0,55) e em 2000 (0,64).
O funcionário público Pablo Gurgel, de 34 anos, também morador da cidade, acrescenta que o custo na cidade tem aumentado rapidamente nos últimos anos. "Eu vejo as pessoas reclamando muito dos preços. O custo de vida em si vem crescendo muito".
Outro morador que tem a mesma impressão sobre a alta nos preços é o comerciante Roberto Mendes Cota, de 59 anos. "O custo de vida aqui é muito caro, os aluguéis. Vem muita gente e aí vai subindo. Um apartamento aqui é mais caro do que em Belo Horizonte", afirmou.
Cota falou também que a média da renda calculada está acima da real situação da população da cidade. "Eu acho que o índice está alto. Se prevalecer mesmo dentro dos bairros, as pessoas vivem bem pior. Tem muita gente abaixo da média, principalmente os aposentados".
Prefeitura discorda de leitura de dados
Para o prefeito de Nova Lima, Cássio Magnani Júnior, a leitura dos dados feita pelo pesquisador Olinto Nogueira não condiz, de fato, com a realidade do município. "Em parte sim" é a resposta do chefe do Executivo municipal quando questionado se os condomínios são os responsáveis por alavancar a melhora do IDH da cidade. "Uma parte da nossa população é de condomínios, mas é uma parte muito pequena, nosso município é muito maior que os condomínios", pontua.
De acordo com o prefeito, o índice de 0,813 foi alcançado por meio da política social, que classifica como "muito efetiva". "Na área da educação, temos o maior Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] do anel metropolitano. Temos programas sociais muito amplos. Além do Bolsa Família, temos um programa municipal de distribuição de renda. Na área da saúde, o investimento é muito grande", justifica.
Entre as ações voltadas para o ensino, o prefeito ainda destaca que são oferecidos gratuitamente aos jovens cursos de inglês e de espanhol. Entretanto, O IDHM relativo à educação é o único que não atingiu o índice muito alto em Nova Lima. Neste quesito, com 0,704 - considerado alto -, a cidade cai para o 20º lugar do ranking estadual e 305º na listagem nacional.
Quanto à desigualdade de renda na cidade, Cássio Magnani Júnior diz que este não é um fenômeno que nasceu na cidade, mas "migrou" para lá com a chegada dos condomínios. "Nós temos junto aos condomínios também os operários que sempre fizeram parte da cidade. A distância entre as duas realidades é que às vezes dá essa desigualdade. A vinda dos condomínios, com condição muito elevada é que criou essa desigualdade", diz.
O G1 também questionou Cássio Magnani Júnior sobre a renda per capita de Nova Lima. Perguntado se acredita que o valor de R$ 1.731,84 reflete a realidade do rendimento mensal de um morador do centro da cidade ele diz que, na média, pode representar.
O prefeito, porém, garante que os operários nova-limenses, apesar de não compartilharem do alto poder aquisitivo dos vizinhos dos condomínios, têm uma "boa condição de vida". "Nossa população histórica, nativa, tem uma qualidade de vida muito boa por causa das politicas publicas adotadas", reforça.
Fonte: http://g1.globo.com/