Ambiente

Área de preservação

Condomínio ocupa cinco quilômetros e ameaça vegetação e fauna

Por Mariana Ribeiro Desimone

terça-feira, 5 de junho de 2012


Condomínio ocupa cinco quilômetros e ameaça restinga na Serra do Mar

Em toda da extensão do condomínio Morada da Praia, ocupada por casas, ficava uma floresta de restinga. A área é tão importante para o ecossistema que no local foi criado em 2011 o Parque Estadual da Restinga.
 
Neide Duarte
 
O desmatamento é uma ameaça presente bem perto de nós. Veja na segunda reportagem da série especial sobre a Serra do Mar.
 
A repórter Neide Duarte foi a uma estrada, em Itanhaém, que vai dar na Serra do Mar, para conhecer o papagaio da cara-roxa, um dos animais mais ameaçados de extinção. O biólogo Lafaiete Alarcon da Silva, gestor do Núcleo Itariru da Serra do Mar, diz que acompanha a população de papagaios há seis anos.“Em praticamente três incursões mensais”, conta.
 
O Bom Dia Brasil foi atrás dos batedores, tentando encontrar o bando, mas é muito difícil vê-los chegando ou saindo do dormitório escolhido. A equipe encontrou alguns deles presos no viveiro de uma ONG em Itanhaém. Eles foram vítimas do tráfico de animais. Foram apreendidos pelo Ibama e levados para o local.
 
O papagaio de cara-roxa depende unicamente da restinga para sobreviver. Como ele, muitas outras espécies estão ameaçadas, assim como está ameaçada a própria restinga. O ecossistema de restinga é uma das áreas mais valiosas do planeta em biodiversidade e também uma das mais ameaçadas.
 
Um condomínio atrai mais de 30 mil pessoas na alta temporada, na da Riviera de São Lourenço, na cidade de Bertioga. Para dar continuidade ao empreendimento, foram desmatados cerca de 400 hectares de uma floresta de restinga, com autorização dos órgãos ambientais. “Isso é um crime. Eu, como promotora que luto para proteger o meio ambiente, vejo isso como um crime. É lamentável essa autorização”, comenta a promotora pública Almachia Acerbi.
 
Antes que toda a restinga fosse derrubada, o Ministério Público embargou a ampliação do empreendimento. “Isso é só o começo de uma grande batalha”, afirma a promotora.
 
“Mesmo a Mata Atlântica tendo toda essa importância, ela se localiza geograficamente em uma região onde você tem as praias. Então, acho que isso tem de ser discutido. Falar só que não pode ocupar fica muito difícil, porque é um território que sofre uma pressão muito grande humana”, o consultor ambiental Ítalo Mazzarella, da Riviera de São Lourenço.
 
A pouco mais de dez quilômetros da Riviera de São Lourenço está o condomínio Morada da Praia. Construído no começo dos anos 80, o condomínio ocupa uma área de cinco quilômetros de comprimento. Em toda essa extensão, hoje ocupada por casas, ficava uma floresta de restinga. “Aqui é uma restinga. Inclusive, todos nós sabemos que hoje esse condomínio não seria aprovado. Com as atuais legislações, nunca”, Jorge Pascucci, da Associação de Moradores da Morada da Praia.
 
O guarda dos parques Leandro Sampaio é quem sobrevoa a região em um paraglider e mostra o que restou da paisagem. A área é tão importante para o ecossistema da floresta de restinga que no local foi criado em 2011 o Parque Estadual da Restinga.
 
Pelas ruas do condomínio, a natureza perdida está pronta para ganhar vida outra vez sempre que aparecer uma oportunidade. Em uma esquina, em um antigo lote, alagado pelas águas da chuva e pelo processo natural da restinga, virou a moradia de uma família que reconhece no ambiente seu verdadeiro lar.

Fonte: http://g1.globo.com