Ambiente

Coleta Seletiva

Condomínios em algumas regiões de São Paulo tem dificuldade para reciclar

Por Mariana Ribeiro Desimone

terça-feira, 5 de julho de 2011


 Paulistanos enfrentam dificuldades para encaminhar lixo reciclável

São Paulo recicla menos de 1% das 155 toneladas de resíduos produzidos diariamente e impõe esforço extra a cidadãos conscientes
 
Moradores da capital paulista dedicam tempo e esforço para separar materiais recicláveis, mas na hora de dar a destinação adequada ao que poupam de impacto ambiental, não há coleta seletiva, nem locais na cidade para receber os resíduos. A Rede Brasil Atual colheu uma série de depoimentos que mostram dificuldades causadas pela má qualidade dos serviços prestados pela prefeitura de São Paulo.
 
Para a microempresária Renata Turbiani, não há papel de bala, embalagem ou recipiente que fuja ao rigor da separação de materiais. Tudo que passa por suas mãos, depois de utilizado, é separado, lavado e acondicionado na cozinha de seu apartamento, de 60 metros quadrados.
 
Renata não vê problemas em reduzir o espaço da casa para o que ela considera um esforço de cidadania. O entrave mesmo é encontrar um local adequado na capital paulista para descartar os materiais recicláveis, com a certeza absoluta de que serão reaproveitados.  
 
“Por incrível que pareça não há local para (coletar) materiais recicláveis próximo à (rua) Frei Caneca (região central da capital paulista)”, informa.
 
A jornalista Clarissa Beretz, moradora de Higienópolis, vive situação semelhante. Sem a menor cerimônia, o hall de entrada do apartamento transformou-se em depósito de recicláveis. A exemplo da microempresária Renata, além de separar e lavar os materiais destinados à reciclagem em casa, ela precisa levá-los para locais distantes de sua residência para dar destinação correta aos resíduos.
 
“É uma vivência. É fácil incorporar. Não consigo mais virar um prato de comida em cima de lixo que não é lixo, é material reciclável e pode gerar muita coisa legal, inclusive renda para muita gente”, ensina Clarissa.
E isso apesar de uma lista de 41 estações de entrega voluntária de materiais reaproveitáveis, chamados de Ecopontos, e de cerca de 530 caminhões que atuam na coleta seletiva, segundo dados da prefeitura. “A saga é longa”, adianta Clarissa sobre seu empenho na reciclagem de materiais. 
 
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Serviços, a capital paulista produz cerca de 17,5 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, entre lixo domiciliar, de saúde, de varrição e entulho. Apenas  0,89% é reciclado. Uma média de 155 toneladas são recolhidas diariamente via coleta seletiva. “Estou sempre preocupada porque a destinação compromete todo o processo de separação que a gente faz em casa”, alerta a jornalista.

 

Malabarismo

Desde que o caminhão de coleta seletiva a serviço da prefeitura deixou de servir sua rua, Renata faz malabarismo para garantir a reciclagem dos resíduos. Ela enche sacos com os materiais e os leva de carro a São Bernardo do Campo, cidade vizinha à capital paulista na Região Metropolitana de São Paulo. “É o maior transtorno, mas morro de dó de jogar no meio do lixo comum, então levo para São Bernardo porque perto da casa da minha mãe tem mais lugares que recebem materiais recicláveis”, narra.
 
Renata cresceu com o exemplo da mãe de separar resíduos e se sente extremamente incomodada com a falta de políticas públicas na capital paulista. “É desestimulante, mas estou persistindo pelo valor social e ambiental da reciclagem.”
 
Paulistanos produzem cerca de 17,5 mil toneladas de resíduos por dia, entre lixo domiciliar, de saúde, de varrição e entulho. 0,89% é reciclado, uma média de 155 toneladas diárias.
 
Na opinião da microempresária, deveria ser obrigatória a separação do lixo nos prédios. “Eu observo o shopping que eu frequento. Eles simplesmente descartam todo o lixo. Imagine se separassem”, diz. “Tanta gente vive da reciclagem, mas os lixões e o lixo na rua ainda são a nossa realidade”, lamenta.
 
Para Renata, “falta ação da prefeitura”, mas os moradores de toda a cidade têm responsabilidade sobre o excesso de resíduos e a falta de reciclagem. “Muito (dessa situação) é culpa dos moradores. Meus pais ensinaram que não se joga nem papel de chiclete no chão, guarda-se no bolso ou na bolsa”, diz. “O carro do meu irmão parece uma lata de lixo”, brinca em alusão ao hábito da família de reciclar materiais depois de utilizados.
 

Saga

Em busca do descarte correto dos materiais que cuidadosamente separa, Clarissa vive uma “saga” para conseguir cooperação de vizinhos e implantação da reciclagem em seu prédio.
 
Inserida em temas relacionados à sustentabilidade desde a infância, ela decidiu propor aos vizinhos a separação de resíduos para reciclagem. Conseguiu o apoio da síndica, enviou circular aos vizinhos, mas a iniciativa não vingou, por falta de estrutura do prédio para armazenamento dos recicláveis até a retirada dos materiais. “As pessoas acham que precisam de quatro latões coloridos (um para cada tipo de material, plástico, papel, vidro e metal). Essa ideia que paira na cabeça das pessoas até atrapalha”, alerta. 
 
Na tentativa de resolver a questão, enviou nova circular avisando que dois latões resolveriam o problema, mas não foi possível comprá-los para cada andar. A síndica começou a alegar que reciclar gasta mais sacos de lixo que entregar todo o resíduo sem separação. Novas adaptações foram feitas e alguns moradores aderiram.
 
“É desestimulante, mas estou persistindo pelo valor social e ambiental da reciclagem”, diz Renata.
No entanto, ainda havia o problema de retirada do material e encaminhamento para local adequado. Clarissa procurou o atendimento telefônico da prefeitura, o 156. Sem sucesso. Não conseguiu informações. Ligou para a empresa pública que cuida da limpeza urbana do município (Limpurb) e nada.
 
Conseguiu que uma cooperativa fizesse palestra no prédio e que catadores retirassem momentaneamente os materiais. Os sacos necessários para acondicionamento voltaram a ser problema e inviabilizaram a relação com os catadores que “queriam tudo organizado”.
 
Clarissa tentou uma empresa especializada, que até pagaria pelo material a ser recolhido. Mas o volume não compensou o pagamento. A jornalista ofereceu os materiais como doação. Mas por falta de porteiro no prédio, na época, a empresa acabou desistindo.
 
A saída foi separar tudo em casa mesmo e até recolher de alguns vizinhos que lavam e separam o lixo e contar com o auxílio da mãe, que leva os materiais para a zona norte de São Paulo. “Funciona melhor (o descarte em pontos apropriados) na zona norte. Perto de casa não tem Ecoponto”, descreve.  
 
“As pessoas estão separando, mas o poder público não consegue fazer a ponte”, critica. De volta à prefeitura, ela procurou a ouvidoria e registrou protocolo de reclamação em relação ao atendimento do serviço 156. “A prefeitura não instrui os atendentes”, alegou.
 
Para alegria da jornalista, a ouvidoria respondeu com a indicação de um caminhão para materiais recicláveis que passaria pela sua rua às sextas-feiras à noite. Clarissa fez "campana" até o veículo passar. Descobriu que tratava-se de um lixeiro comum, não de coleta seletiva. O desânimo bateu. “A gente não sabe para onde correr. É um desprezo do poder público”, avalia.
 
Novamente se animou quando soube de uma empresa que recolhe materiais para reciclagem no edifício vizinho. “Fiz plantão para ter contato com o pessoal do prédio”, narra. Dias depois, Clarissa voltou a ter esperança, com a nova administração em seu prédio. “Acho que vamos conseguir fazer a reciclagem aqui”, diz. “É um alívio reciclar. Ter consciência que está contribuindo”, expõe.
 
Ela considera que a separação é um hábito que se torna corriqueiro. "Não consigo mais virar um prato de comida em cima de lixo que não é lixo, em cima de material reciclável que pode virar muita coisa legal, inclusive renda para muita gente”, ensina.
 

Oito vezes mais

Procurada, a prefeitura de São Paulo respondeu que o Programa de Coleta Seletiva na cidade tem poucos anos de existência, “mas teve grandes avanços e vai crescer mais ainda”. 
 
“Entre os anos de 2003 e 2010 o volume cresceu oito vezes mais, coletando uma média diária de 155 toneladas. Atualmente o programa atende 74 distritos, gerando renda e inclusão social. Hoje são 20 Centrais de Triagem, incluindo uma de material eletrônico e mais de mil famílias beneficiadas pelo programa”, citou a assessoria de imprensa do Executivo. 

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br