28/02/20 05:17 - Atualizado há 3 anos
Por Roberto Piernikarz*
Numa das piores enchentes de sua história, São Paulo praticamente parou após as chuvas fortíssimas, que caíram por horas e horas na madrugada do dia 10 de fevereiro.
Além de tantas vias alagadas e interditadas por muito tempo, incluindo as duas Marginais, a população sofreu onde é mais doloroso: dentro de suas moradias.
Muitas casas foram devastadas por ruas que viraram rios e até os prédios (nos quais os moradores têm seus lares livres de alagamentos), as consequências foram severas em uma área específica: as garagens.
Poucas vezes antes se viu tantos veículos praticamente boiando nas garagens. Alguns proprietários, que não tinham seguro completo, perderam muito dinheiro com a perda total ou quase total de seus carros e camionetes.
Talvez o caso mais emblemático foi o da Lamborghini de R$ 1,6 milhão, que estava estacionada em um prédio da Vila Leopoldina e não era segurada. Seu reparo, se for possível, foi estimado em quase 50% do valor da máquina.
Salvadores de patrimônios, os zeladores atentos ainda conseguiram salvar muitos veículos, avisando os moradores quando as garagens começaram a encher de água. Alguns conseguiram retirar seus carros e estacionaram com segurança fora dos prédios, mas isso só foi possível nos condomínios em frente a vias que não estavam alagadas.
Para que a ação emergencial do zelador funcione bem, os moradores precisam deixar um telefone de contato, caso não estejam no condomínio.
Além disso, os condôminos que não estão em seus lares, ainda precisam deixar a chave de seus carros com fácil acesso para qualquer outra pessoa que esteja presente.
Melhor que o desespero para salvar seu carro no meio do caos é ter uma cobertura total individual.
“Todos os seguros de veículos que vendemos são totais. É o seguro chamado ´compreensivo´. Ele cobre tudo, até carro submerso, total ou parcialmente, na água doce; desde que o motorista não tenha tentando atravessar uma via alagada”, afirma Fernanda Araújo Martinez, da FFA corretora de seguros, empresa há décadas no mercado.
“Só negociamos um seguro que não é total quando o próprio cliente pede isso. Por exemplo, para arcar com um contrato mais barato, muita gente pede o seguro apenas contra roubo, furto e incêndio”.
Por lei, é obrigatório que os condomínios tenham seguro contra incêndio ou destruição total ou parcial. As coberturas são a ampla ou a tradicional, esta a mais usada, que cobre incêndio, dano elétrico, vendaval, vidros, portões de garagem e impacto de aeronaves, entre outros. Alagamentos nas garagens não estão incluídos nesse contrato tradicional.
A agente de seguros Fernanda Araújo, que também trabalha com condomínios, alerta que são raríssimos os empreendimentos residenciais que têm cobertura ampla (muito mais cara que a tradicional), com cobertura para veículos inundados.
Os prédios costumam ter seguro apenas para danos que uma inundação traz aos lugares físicos e outros elementos das torres, como os elevadores, por exemplo. E isso precisa aparecer em cláusulas específicas.
Dito isso, é responsabilidade do síndico tomar muito cuidado com o contrato de seguro. Muitas vezes, apólices mais básicas e tradicionais não cobrem nem esses prejuízos que um alagamento gera nas instalações do condomínio.
Há ainda um perigoso desconhecimento dos moradores sobre o conteúdo dos seguros de seus prédios. Em um condomínio de alto padrão num dos epicentros dos alagamentos de 10 de fevereiro, a rua Massacá, no Alto de Pinheiros, os moradores com quem conversei simplesmente não sabiam o que o seguro iria ressarcir.
Alguns desses condôminos perderam seus carros, engolidos pela água no subsolo, e boa parte perdeu também itens pessoais valiosos que estavam guardados em depósitos nos andares das garagens.
Além da importância primordial dos seguros, o síndico precisa estar atento também com a prevenção. Fazem parte dela a manutenção e revisão de equipamentos de drenagem da água da chuva, em específico as bombas e grupos geradores de energia.
É essencial também checar se há na guarita alarme de uma vasão exagerada de água e se esse item está funcionando bem. Ralos e calhas devem estar sempre limpos.
Se comprovada a falta de manutenção ou operação equivocada de algum sistema de prevenção, o síndico pode ser responsabilizado.
Finalmente, é prudente em condomínios próximos a áreas alagáveis, estudar e fazer obras para que as garagens estejam mais protegidas nas próximas chuvas fortes e longas, fenômeno que é cada vez mais comum devido ao aquecimento global.
Um dos itens mais eficazes contra alagamentos nos subsolos dos prédios são comportas, espécies de barragens, mas exigem funcionários muito bem treinados para serem operadas.
(*) Roberto Piernikarz é Diretor Geral da BBZ Administradora de Condomínios; Bacharel em Administração de Empresas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Atua no setor há mais de 17 anos, tendo sido responsável pela implantação de mais de 300 condomínios, e participado da capacitação de mais de 1000 síndicos profissionais, além de ter colaborado com diversas matérias publicadas nos principais meios de comunicação do país. Colunista do Site do IG.