29/04/22 08:58 - Atualizado há 2 anos
Por Jaques Bushatsky*
Enfim, nos acostumamos a reclamar de ruídos, a medi-los, a compará-los com os limites postos na legislação, a concatenar o vocábulo “barulho” com os termos “reclamação”, “antissocial”, “polícia”, “síndico”. A razão disso? O mau uso do imóvel, o desrespeito ao direito do condomínio, do vizinho.
convido ao pensamento, nem tudo é irritação ou aborrecimento. Moramos em cidades, por esta ou aquela razão é aqui que a nossa vida segue, é aqui que crescemos, fazemos, acumulamos memórias...devanear com a gaitinha do afiador de facas, o apito do guarda noturno transmite certa segurança.
morador de cidade já não foi dormir em sítios e acordou cedinhogalinhas d´angola, talvez até eliminando os escorpiões no terreno?
reclamou na praia da batida das ondas, do passarinho madrugador? Os barulhos de onde vivemos fazem parte de nossa experiencia e compõem nossa memória, estranhamos a sua falta.
Lygia Fagundes Telles, em prosa intimista "A disciplina do amor", escreveu:
O vizinho do andar superior – e que nunca cheguei a ver – fazia às vezes ruídos esquisitíssimosnovos inquilinos que chegaram são silenciosos.ouço no silêncio o som de uma pena raspando no papel Continuo esperando. ”Ruídos não são fatalmente ruins, talvez sejam como tantos compostos químicos: na dose certa, fazem bem, na errada, matam. Por isso, nesse imenso foro de discussões condominiais, que tal olharmos, a começar por este aspecto sonoro, para tudo de bom que temos ao viver aqui?
E não estranhe esta convocação numa publicação jurídica, pois tudo que o Direito almeja é, tão somente, a paz social, o bom desenvolvimento das pessoas.
Realmente, este jeito melhor humorado de enxergar nos recordará do que nos levou a morar neste prédio, do que sentimos saudades quando viajamos, de muita coisa boa que nos cerca no dia a dia.
Lógico, este novo despertar para o que é bom findará conduzindo nosso trato com vizinhos e com os trabalhadores do prédio, facilitará o entendimento de cada um sobre aquilo que na vivência, uns denominam percalços, mas os mais saudáveis chamam de coisas, coisinhas da vida.
barulhinhos, servem para nos enternecermos e vivermos cada vez mais plenamente.
(*) Jaques Bushatsky é advogado; pró-reitor da UniSecovi; integrante do Conselho Jurídico da Presidência do Secovi-SP; sócio correspondente da ABAMI (Associação Brasileira dos Advogados do Mercado Imobiliário para S. Paulo); coordenador da Comissão de Locação e Compartilhamento de Espaços do Ibradim e sócio da Advocacia Bushatsky.