Por Alexandre Marques (*)
O Brasil sofreu uma derrota como nunca antes, retumbante, humilhante, desconcertante, na Copa que se encerrou. Achar que a culpa é dos jogadores e da comissão técnica pela derrocada é de uma ingenuidade pueril, afirmação somente defendida por quem não conhece a realidade do futebol em nosso país.
Os 170 milhões de técnicos de futebol certamente tinham soluções mirabolantes para o jogo desencontrado, desregulado, destemperado de nossa nação verde e amarela que já foi chamada de “canarinho”, em alusão ao canto majestático desse pássaro - como se nossos jogadores cantassem e encantassem com as chuteiras nos pés, com a mesma facilidade, naturalidade e beleza que o passarinho. Porém, há muito que não somos mais o país do futebol, atrevo-me a dizer que, pelo menos, desde a copa de 1970, quando a seleção canarinha, encantou o mundo. De lá para cá, o que se viu, foi uma seleção e dirigentes que acreditaram na mítica camisa verde e amarela e na lenda de que realmente o brasileiro já nasceu jogando futebol e isso é o suficiente.
Na verdade o erro desta seleção, bem como das que a antecederam é muito mais profundo, tem raízes nos cartéis dos clubes e confederações que regulam e dirigem nosso futebol. E, enfim, o sucateamento de nosso sistema de administração de futebol, a crença em deuses infalíveis à frente destas gestões, a política e a cartolagem que se misturam com a identidade dos clubes a ponto de não sabermos onde termina um e começa outro é que foi a grande responsável por esta derrota!
Estamos precisando rever conceitos, inovar em jogadas e atuação há pelo menos 20 anos! Ganhamos os últimos dos títulos (tetra e penta), muito mais pela má qualidade de nossos opositores naquelas copas do que por mérito nosso, e isso é certo. Desta vez essa máxima não serviu, assim que jogamos com seleções realmente preparadas a máscara do despreparo caiu revelando um time totalmente despreparado para lidar com a adversidade.
Perdemos para uma seleção que vem investindo no futebol de base há quase 30 anos. Para quem não sabe, a Alemanha vem se organizando para virar uma grande seleção desde 1990, quando ganhou sua última Copa. Investindo não só na construção de grandes estádios e na disseminação do jogo de futebol, como investindo da mesma forma em estádios e centros de treinamento nas menores cidades lá existentes, fazendo do futebol um meio de inclusão social e de inserção aos mais desfavorecidos (e lá existe isso também), a uma vida digna e meritória pelo futebol.
A “Bundesliga”, liga alemã, procura jovens por todo país, identifica meninos e meninas como talentos, atraindo-os para centros de treinamento, especialmente construídos para esse fim. Lá recebem atenção dos mesmos técnicos dos grandes times e que treinam a seleção (sim, pois possuem um sistema de formação de técnicos profissionais com a mesma importância dos centros de formação de jogadores), estudo direcionado, capacitação geral, etc.,. Assim, estes jovens enxergam no futebol a grande oportunidade de suas vidas e, como tudo que fazem por lá, levam isso muito a sério.
Mas, vocês devem estar se perguntando, o que isso tem a ver com gestão de condomínio? Tudo!
O fracasso de nossa seleção não se deu de uma hora para outra, mas, como já dito aqui com um planejamento equivocado, estratégia de atuação, técnica de atuação e gestão defasados. Da mesma forma, uma gestão ruinosa, tumultuada, fadada ao fracasso não ocorre de uma hora para outra. É delineada desde o princípio por ideias arcaicas, desatualizadas, modelo de administração antigo, sem aproveitar o que existe de melhor em termos de novas tecnologias, ainda mais, quando estas ferramentas estão à disposição, a mão da gestão atual.
A perpetuação, muitas vezes, nefasta de uma gestão no poder, arcaica, apegada a valores, métodos e conceitos antigos, por vezes de mais de uma década, faz com que a administração mostre-se morosa, falha e sem a devida transparência e ética que as pessoas exigem e esperam nos dias de hoje.
E, como velhos técnicos de futebol ou cartolas, esses síndicos, conselheiros e demais partícipes da gestão condominial tendem a gerir o condomínio, como se fosse este uma extensão de sua casa, onde sua opinião certamente prevalece, independentemente de maiores formalismos ou vontades, o que, como sabemos, é altamente contraproducente.
Então, com esta postura reiterada, o verdadeiro abuso de poder a frente da gestão leva o condomínio, com seus partícipes e atores a uma administração fadada a lapsos de entendimento, à má arrecadação financeira, mau planejamento estratégico. Onde nenhum outro membro da gestão questiona as decisões, da mesma forma que o jogador titular não questiona as orientações do “professor”, “mestre”, “maestro”, etc., resultando em tragédia, como sabemos.
Portanto, fica a dica a pretexto da copa e o fracasso experimentado pelo Brasil. Você que é síndico, subsíndico, conselheiro, administrador, cuidado para não praticar a cartolagem, politicagem em sua gestão a ponto de inviabilizar a administração do condomínio. Atue, na verdade, como um técnico moderno, que sabe que a melhor estratégia de jogo é avaliar o jogo, o tempo todo e adaptar-se a ele, e não, o contrário, querer que o jogo se adapte as suas regras.
De resto, é só treinar...
(*) Alexandre MarquesAdvogado militante Consultor em Direito Condominal; Colunista SíndicoNet; Pós-Graduando em Direito Civil e Processo Civil; Especialista em Processo Civil pela ESA e Direito Imobiliário pelo UniFMU; Relator do Tribunal de Ética da OAB/SP , Diretor de Ensino da Assosíndicos (Associação de Síndicos de Condomínio Comerciais e Residenciais do Estado de São Paulo); Conferencista da OAB/SP, CRECI e SECOVI/RO; Sindicato dos Corretores de Imóveis de São Paulo, Conferencista convidado pela Faculdade Dois de Julho - Salvador/ BA, no curso de Pós-Graduação, Co-Autor do Audiolivro: “Tudo o que você precisa ouvir sobre Locação”, Editora Saraiva, Articulista de vários meios de mídia escrita e falada.