quarta-feira, 22 de novembro de 2023
Servidora diz ser vítima de perseguição e de um "teatro adoecedor da Polícia Civil"; a PCMG ainda não explicou o motivo da ida até a casa dela, mas fontes afirmam preocupação com a saúde mental
As negociações com a delegada Monah Zein, que se recusa a deixar o seu apartamento, continuam na manhã desta quarta-feira (22). São quase 24 horas de conversas, que mobilizam familiares e amigos da servidora, além de equipes da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e do Samu em frente ao prédio onde ela reside, no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha. As negociações começaram por volta das 9h dessa terça-feira (21).
Ainda não se tem informações sobre o que motivou a ida das equipes da Polícia Civil ao apartamento da delegada. Fontes ligadas à instituição afirmaram para a reportagem de O TEMPO que ela teria enviado mensagens de conteúdo emocional sensível, o que teria gerado preocupação para membros da instituição em relação à saúde mental da servidora.
A versão da PCMG é contestada pelos advogados da delegada. Eles afirmam que sua cliente seria vítima de perseguições de outros servidores da instituição em que ele trabalha. Em nota enviada para a imprensa, eles lamentaram o estado de saúde delicado dela, atribuindo essa condição as “retaliações” enfrentadas por ela durante a carreira.
"É lamentável a postura do chefe de polícia, bem como do governador do Estado, em relação às condições de trabalho impostas a todos os servidores, levando infelizmente a grande maioria a um estado de saúde deplorável", afirmou a defesa.
Os policiais chegaram ao endereço da delegada por volta das 9h dessa terça-feira (21) e subiram as escadas do prédio equipados com escudos de proteção. Houve um contato entre a policial e os demais agentes, que tentaram disparar um taser contra ela.
A mulher, em seguida, teria efetuado pelo menos três disparos, sem atingir nenhum policial. Desde então, ela se trancou no apartamento e ficou incomunicável. A informação sobre os tiros foi confirmada pela Polícia Civil em nota, que pode ser lida na íntegra ao término da reportagem.
A servidora realizou uma live durante a tarde dessa terça-feira (21), mostrando parte da abordagem e da negociação feita pelos policiais. Na transmissão, ela acusou vários servidores da Polícia Civil de assédio.
"Eles tiraram minha saúde, vocês não têm ideia do que fizeram. Foi torpe, foi vil", disse. Ela afirmou ainda que a entrada dos policiais em seu prédio é uma violação. "Eles não têm mandado [judicial]. Agora, eu que estou presa em cativeiro", continuou.
Monah relatou, durante o vídeo, que deveria ter voltado para o serviço nesta terça-feira (21). No entanto, não quis comparecer à delegacia. "Isso é um absurdo, eles tiram a minha vida e vêm aqui. Trabalho para pagar psiquiatra e advogado", disse. Monah esclareceu que, em nenhum momento, disse que tiraria a própria vida.
"Não tenho coragem de tomar banho [por ter medo do meu apartamento ser invadido], querem que eu entregue minha arma. Como vou ficar aqui desarmada?", questionou.
Durante a noite, em um post nas redes sociais, ela afirmou a Polícia Civil transformou a situação em um “teatro adoecedor”. Ela também criticou a presença dos policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) à porta de sua casa, negou ter pensado em cometer suicídio e acusou a instituição de assédio.
"Nem traficante passa por essa humilhação às 23h. Retirem essas pessoas da porta da minha casa", solicitou a delegada. Além disso, expressou sua intenção de dormir e, no dia seguinte, buscar "o Exercício" ou "mudar de cidade". "Estão perturbando meus vizinhos, fazendo parecer que sou louca. Nem criminoso passa pelo que estão fazendo comigo", acrescentou a delegada.
A mãe da delegada Monah Zein chegou ao apartamento da filha após viajar do Paraná até Minas Gerais na noite dessa terça-feira (21). A familiar de Monah entrou pela garagem do prédio sem falar com a imprensa em uma viatura da Polícia Civil.
Os policiais decidiram procurar familiares da delegada com o objetivo de convencê-la a deixar o apartamento. Há preocupação com o quadro de saúde dela. A mãe pegou um voo às pressas, desembarcou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, e recebeu escolta policial até o apartamento.
Nas redes sociais, a delegada questionou a estratégia dos policiais. “Pegam uma mãe que não entende que eles não são meus amigos. Cabeça explodindo”, publicou.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que encontra-se em andamento ocorrência envolvendo uma delegada da instituição, que desferiu disparos com uma arma de fogo dentro de uma residência, no bairro Ouro Preto, em Belo Horizonte, na tarde desta terça-feira (21/11).
Não houve feridos e a situação segue sendo acompanhada pelas equipes de negociação da PCMG, com auxílio do Centro de Apoio Biopsicossocial da Polícia Civil, Corregedoria Geral de Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/negociacoes-com-delegada-presa-em-apartamento-em-bh-chegam-a-quase-24h-1.3279344