quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Jaime Gómez percebeu problemas graves em edifício, minimizados por construtora; tragédia acabou acontecendo e acaba de completar um ano. A queda de um edifício novo em folha em um bairro de luxo em Medellín, na Colômbia, deixou 11 pessoas mortas em 2013 e causou comoção no país à época.
Mas a tragédia teria sido muito pior se não tivesse sido a ação de um geólogo, que conseguiu evitar que 22 famílias morressem no local.
A história começa exatamente um ano atrás, com um telefonema de uma das mulheres que haviam acabado de se mudar para o edifício Space: ela ligou ao serviço de emergências de Medellín (segunda maior cidade colombiana) avisando que seu apartamento de 60 metros quadrados, pelo qual havia pago o equivalente a R$ 250 mil, estava repleto de rachaduras, como se tivesse passado por um terremoto.
Poucas horas depois, a denúncia acabou chegando a Jaime Enrique Gómez, funcionário do Departamento Administrativo de Gestão de Risco de Desastres (DAGRD), que logo percebeu a gravidade da situação.
"Me reportaram que a senhora havia escutado um rangido, visto rachaduras e não sabia o que fazer", disse Gómez à BBC Mundo. "Era um prédio de 22 andares, recém-entregue, e isso não era um bom sinal."
Gómez agarrou seu jaleco e seu capacete e foi ao Space, edifício de 161 apartamentos que havia custado US$ 15 milhões e dominava a paisagem do bairro El Poblado, o mais exclusivo da cidade.
A empresa responsável pelo projeto era a Lérida CDO, construtora conhecida e de propriedade do político Álvaro Villegas.
E Gómez notou que o prédio tinha problemas assim que o viu: as janelas estavam tortas, e as rachaduras apareciam logo na fachada.
Na frente do prédio, os novos proprietários dos apartamentos o esperavam angustiados. Não sabiam o que estava acontecendo com o prédio onde haviam investido todas as suas economias.
"Eles não sabiam se ficavam ou se saíam dos apartamentos", relembra Gómez.
Logo começaram a revisar o interior da torre 6 - a última que havia sido entregue e de onde haviam se originado as queixas -, mesmo depois de a equipe da Lérida CDO ter garantido que não havia riscos na edificação.
A inspeção, porém, identificou pinturas descascadas, pisos quebrados, sérios danos nas paredes e, o pior, uma coluna partida em dois, com cabos de aço expostos após ceder à pressão da estrutura.
"Ninguém poderia estar nesse prédio", relembra Gómez.
Um prestigioso engenheiro local, Jorge Aristizábal Ochoa, fazia parte da equipe da Lérida CDO e disse à imprensa na época que o edifício tinha um "problema estrutural que estava sendo resolvido" e que não havia "risco de colapso nem de segurança às pessoas".
Mas Gómez decidiu recomendar às 22 famílias que estavam ali que elas deveriam evacuar o prédio. "Expliquei a seriedade da situação e o grupo, de umas 90 pessoas, decidiu que ia deixar suas casas."
Cerca de 36 horas depois, na noite de 12 de outubro de 2013, os 22 andares da torre 6 do Space desmoronaram subitamente, matando 11 pessoas - em sua maioria operários que tentavam corrigir os danos na estrutura.
Passado um ano, um grupo de especialistas da Universidade de Los Andes acaba de entregar um relatório sobre as causas da tragédia.
"Não foi um problema de material nem de sobrecarga; o edifício foi mal concebido. Não cumpria com a normativa de sismo-resistência e estava deficiente em sua capacidade", diz o relatório.
A imprensa colombiana, depois de conhecer a atuação de Gómez, apelidou-o de "herói do Space" e "o homem que salvou 22 famílias".
"É como a história do Titanic", afirma Gómez à BBC Mundo. "Ninguém nunca acha que um edifício construído em uma região assim (nobre) possa cair. Mas havia também arrogância de algumas pessoas que achavam que podiam corrigir o problema em um mês."
Fonte: http://g1.globo.com/