04/08/22 05:00 - Atualizado há 2 anos
Tudo isso começou em 1998, quando Antônio Carlos chegou para morar no edifício Araruna. A gata de rua veterana do gatil é Chiquinha, que já vivia zanzando pelo subsolo do condomínio, enquanto o mais novo morador começava a ter os primeiros contatos com ONG's de proteção animal.
Não era por menos. Próximo ao prédio fica o parque do Aterro do Flamengo, um local sempre rodeado de gatos de rua – muitos dos quais eram encontrados machucados ou doentes –, mas que contava com um grupo que resgatava, cuidava e preparava esses bichinhos para adoção.
Genuinamente, Antônio entrou para o Projeto Resgate de Animais, grupo de proteção aos animais do parque do Aterro do Flamengo, e somente mais tarde, tornou-se também síndico do Araruna, cargo o qual ocupa há doze anos. Foi a partir daí que seus dois ofícios passaram a se complementar e serem determinantes para o projeto do gatil do condomínio.
Nessa época, os gatos do parque que não tinham se adaptado à adoção eram levados por Antônio, provisoriamente, para o condomínio, enquanto Chiquinha dava à luz quatro filhotes.
população felina do condomínio crescer a ponto do tema ser debatido em assembleia:"O assunto foi levantado por uma moradora e dali surgiu a ideia de construir um gatil no condomínio para os gatos permanecerem", descreve Antônio.
potes de comida e água espalhados organizadamente pelo andar térreo."Em 2017, aproveitamos o andamento de uma reforma na parte dos fundos do condomínio para adaptar a construção desse lugar para os gatos", afirma Antônio.
Tudo ali é feito com muito carinho. "Às vezes um morador se desfaz de algum móvel quebrado ou antigo, até mesmo materiais reciclados, e transformo em abrigo para eles", explica Antônio.
Além disso, grades com telas nos portões do condomínio impedem o acesso dos bichinhos à rua, deixando-os seguros ali dentro.
gatos circulam livremente pelo térreo não incomodam nem atrapalham a movimentação dos demais moradores:
não se opuseram no dia a diacachorros dos próprios moradores ficam juntos. É bem tranquilo, porque todos já estão acostumados", reforça.se esparramam pelos pufes, bancos e tapetes da portaria, distribuindo carisma e chamando a atenção de quem passa pela rua. A impressão que o condomínio transmite é de um local extremamente acolhedor.
"As pessoas passam em frente ao prédio e param para tirar fotos, acham um barato!", se empolga Antônio.
cuidou da castração e vacinação veterinária auxilia o gestor com esses afazeres."Alguns vizinhos contribuem de boa vontade com ração, sachês e outros agrados para os gatos, além de brincar com eles. Mas eu quem crio e sou responsável", reforça.
Por meio dos contatos obtidos como membro do grupo do parque é que Antônio consegue adquirir os sacos de ração por valores mais em conta.
É verdade que o assunto "pets em condomínio" causa inúmeros problemas de convivência entre os donos, agora dá para imaginar quantas situações podem ser criadas ali dentro com animais abandonados?
Tal fenômeno, aliás, tem sido um enorme desafio para síndicos nos últimos anos, que precisam se atentar a possíveis problemáticas como:
Assista ao vídeo completo do André Junqueira sobre adoção de animal de rua pelo condomínio:
Vale lembrar que a reunião em que o assunto do gatil de Antônio foi deliberado, o cenário que se via ali era bastante comum da vida e gestão em condomínios: de centenas de apartamentos, pouco mais de vinte condôminos estavam presentes na assembleia.
Com tamanha ausência, seria normal que muitos moradores do Edifício Araruna se incomodassem com a presença dos gatos e contestassem o síndico. Mas na realidade, além do amor de Antônio Carlos em acolher os felinos, a tolerância e o respeito aos animais falaram mais alto entre a vizinhança.
A legislação brasileira traz uma proteção ampla aos animais, contra maus-tratos e atos de crueldade, e o judiciário já tem se manifestado nesse sentido. Veja abaixo alguns casos:
Em todo caso, existem outras opções alternativas para os cuidados ou encaminhamento de animal que apareça no condomínio. Que tal essas?