26/09/24 06:09 - Atualizado há 55 dias
Hoje, vamos falar sobre "gostabilidade", um termo que se refere à capacidade de ser agradável ou simpático aos olhos dos outros, gerando empatia ou simpatia. Mas o que isso tem a ver com a gestão de um condomínio?
Será que o síndico deve se preocupar em ser "gostável" ou focar exclusivamente em cumprir seu papel? Deve ele se adaptar ao perfil de cada condomínio ou estabelecer um estilo de gestão clara e coerente?
Essa reflexão é necessária. Afinal, o trabalho de um síndico exige um delicado equilíbrio entre a necessidade de manter a ordem e a expectativa, muitas vezes irreal, de estar disponível a qualquer momento.
Talvez o maior desafio seja educar os moradores para compreender que o síndico também tem seus dias de descanso, horários, assim como qualquer outra pessoa.
Como mudar a mentalidade de moradores que acreditam que o síndico está disponível 24 horas por dia?
Esse desafio exige uma combinação de comunicação clara, educação e estabelecimento de limites bem definidos.
Primeiramente, é importante que o síndico deixe explícitos os horários de atendimento e os canais adequados para contato. Isso pode ser feito através de comunicados periódicos, informativos no grupo de WhatsApp do condomínio, além de comunicados nas áreas comuns.
Outro ponto essencial é educar os moradores sobre o papel do síndico e o que é realmente de sua responsabilidade. Muitas demandas surgem de mal-entendidos sobre as funções do síndico, sendo fundamental esclarecer o que ele pode ou não resolver.
Por fim, é necessário ser firme quanto ao cumprimento desses limites. A mudança cultural dentro do condomínio é gradual, mas com paciência e persistência, os moradores começam a perceber e aceitar que o síndico também tem direito a descanso e à sua vida pessoal.
Quem nunca recebeu uma mensagem de WhatsApp fora do horário comercial com o clássico "Desculpe atrapalhar seu descanso, mas..."? Seja tarde da noite, durante o fim de semana ou em pleno feriado, as cobranças chegam a qualquer momento.
E no âmbito condominial, frequentemente, essas mensagens tratam de questões que não são urgentes ou não são responsabilidade do síndico.
Mesmo que se deixe claro que o síndico responde dentro do horário comercial, há sempre aqueles que insistem, com frases como:
"Vou falar agora porque na segunda-feira saio cedo para o trabalho e acabo esquecendo."
"Desculpe incomodar, mas..."
"São X horas e estou ouvindo barulho de furadeira."
"Síndico, que horas a luz vai voltar?"
É preciso desfazer a expectativa ilusória de alguns moradores de que o síndico esteja disponível para resolver qualquer problema a qualquer hora. Embora o condomínio funcione 24/7, o síndico, não. E quando se trata de síndico profissional, há quem ofereça atendimento emergencial, ainda assim para um escopo reduzido de situações.
Para muita situações, há funcionários ou prestadores de serviço que devem ser acionados - e não o síndico. Embora o síndico precise assumir o papel didático e consistente de educar os moradores, é muito importante que os moradores estejam abertos ao aprendizado da vida em comum e das suas responsabilidades como parte integrante da coletividade.
Dessa forma, a função do síndico fica mais leve, poupando-o de desgastes desnecessários, preservando seu lado humano e vida pessoal.
Portanto, o nível de gostabilidade na gestão condominial provavelmente será proporcional ao compromisso de ambos os lados - síndicos e moradores - de cumprirem com seus papéis e responsabilidades, praticarem a empatia e respeitarem os limites, abandonando de vez o peso das expectativas e frustrações alheias.
(*) Rose Brandão é formada em Administração de Empresas pela FMU. Certificada em Administração de Condomínios pelo Secovi-SP. Atua como Síndica Profissional na empresa Exclusiva Síndico.