segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Com a ideia de que aquilo que se aprende em casa é reproduzido em qualquer lugar, moradores de condomínio se mobilizam em defesa do meio ambiente. Assim, crianças aprenderam a ser cuidadoras do jardim É em casa que nascem ensinamentos sobre boas atitudes. Quando a casa tem jardim, pode ser também escola de respeito ao meio ambiente. Sabendo disso, a fotógrafa Maria Rosa Rodrigues resolveu ser professora. Sem deixar de lado a câmera fotográfica, aos 56 anos decidiu usar a ampla zona verde do condomínio em que mora, na Maraponga, para ensinar que arrancar a florzinha, as folhas ou a planta toda é errado. Os alunos? As crianças vizinhas. Dona Rosa, como é chamada, começou a mostrar como se planta, rega, preserva. Ensinou uns que hoje ensinam outros ali e em qualquer lugar. Assim, criou o projeto Lagune Ecológico, que leva o nome do condomínio e chega a reunir 30 crianças à noite e nos fins de semana. São elas as protagonistas da história, como gosta de destacar dona Rosa. Com isso, onde antes havia vazio, agora brotam plantas de todo tipo. Nascem lições.
“A gente aprende a repartir”, reconhece Pedro Vinícius Moreno, 11, um dos participantes. “Sem as plantas a gente não consegue sobreviver”, define Wivinny Jonatan, 12. “Além de cultivar, é preciso trabalhar em equipe”, lembra Sérgio Pereira, 13.
O projeto ensina ainda a importância da economia de água, da parceria para realização das tarefas e da natureza no nosso convívio com a cidade. “Quem preserva em casa preserva mundo afora” é lema do projeto. Por saber isso, Tayane Moura, 11, reagiu ao ver uma pessoa arrancando uma planta no prédio da tia. “Eu falei que não podia, mas ela levou. Fiquei triste”, recorda-se. A transformação dos pequenos é motivo de alegria e orgulho dos pais. Larissa Martins, 25, é mãe de André Luiz, de cinco anos, e lembra que, antes do projeto, o menino, pela falta de jeito, às vezes maltratava o verde. “Agora em casa a gente colocou um jarrinho e ele cuida”, orgulha-se. No condomínio, ela conta, a postura das crianças só provocou mudanças positivas. “Eles ajudam na limpeza apanhando qualquer papel que está no chão”, comenta. Duas das crianças lideram o grupo e são responsáveis por ensinar quem está chegando e por ajudar dona Rosa. Rayza Gouveia, 11, e Felipe Douglas, 10, são os “subsíndicos”. Trajam avental azul, diferente do verde usado pelos demais participantes. Rayza garante que depois que todo o condomínio (que tem 14 blocos e mais de 400 apartamentos) estiver com plantas, o cuidado permanecerá. “Não é só plantar. Tem que cuidar”.
O projeto é apoiado pela gerência do condomínio. Zeladores ficam com a parte mais pesada das tarefas, como o preparo da terra. Mas grande parte das plantas surge por sementes colhidas ali mesmo, como as das flores noturnas (as preferidas das crianças), ou por iniciativa dos próprios moradores. Assim florescem novos caramanchões, vasos com flores e um pé de manjericão - a única planta “de comer” do jardim, ensina dona Rosa. O pé fica ao lado da janela da fotógrafa, de onde o papagaio Lula grita “Lula viu” para alertar quem deseja surrupiar flores e plantas. Foi ali onde o plantio começou. Dali para todos e todo o jardim. Porque, lembra dona Rosa, ninguém sozinho consegue proteger tudo. “As plantas são nossas. De todos”, ensina Gabriella Sousa, 14.
Fonte: http://www.opovo.com.br/