Ambiente

Manejo do lixo

Em MG, condomínio trata resíduos antes de enviar para o aterro

Por Mariana Ribeiro Desimone

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


Condomínio de Uberlândia trata lixo para enviar ao aterro

 
Depois de 15 anos insistindo em ideias para incentivar as pessoas a adotarem ações sustentáveis, o professor Manfred Fehr, do curso de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), conseguiu mobilizar 70% das famílias do condomínio onde mora, no Centro da cidade, a não enviarem lixo ao aterro sanitário. Além disso, hoje o edifício é o único da cidade, segundo o morador, que paga uma empresa especializada para tratar os resíduos considerados contaminantes, como os coletados nos banheiros e as fraldas descartáveis. O tratamento de lixo hoje é comum apenas aos hospitais, clínicas e estabelecimentos afins.
 
O edifício onde mora o professor Manfred Fehr tem 48 apartamentos que, juntos, produzem 100 kg de resíduos, de todos os tipos, por dia. Do total, 67 kg são reciclados e 33 kg ainda não. Hoje, o condomínio já consegue vender o alumínio e o vidro. Os restos de alimentos são coletados por fazendeiros e destinados à pecuária.
 
Os materiais secos como papelão, papel, garrafas pet e latas de aço têm mercado garantido na logística reversa, que tem a reciclagem e o reaproveitamento como bases. Os materiais que não são vendidos são disponibilizados em um depósito externo para os coletores de recicláveis.
 
Já o material considerado patogênico é tratado antes de ser enviado ao aterro. Por semana são recolhidos em média 190 quilos destes resíduos, cujo tratamento custa em torno de R$ 280 ao condomínio.
 
“A lei me obriga a tratá-los como resíduos patogênicos de enfermaria e de banheiro e preciso pagar por isso. Esse material gera ônus financeiros, mas como queremos atender à legislação temos orgulho em dar o exemplo”, disse o professor Manfred Fehr, que é vice-síndico.
 
O tratamento é feito por uma empresa credenciada que emite certificado de esterilização e se responsabiliza pela destinação correta dos resíduos depois de tratados. “Orgulho-me de mostrar que estamos cumprindo a lei e as pessoas aprendendo a separar esse material. “Antigamente jogavam tudo em um único saco e deixavam na porta. Nos últimos 15 anos conseguimos mudar esses hábitos.”
 

Professor colocou estudo acadêmico em prática no condomínio onde mora

 
O que move o professor Manfred Fehr a praticar e a incentivar ações que contribuem com o meio ambiente é o seu ideal. Em 1997, quando o conceito de sustentabilidade ainda era pouco difundido, ele decidiu aprofundar os estudos sobre logística reversa. O professor formou grupos de alunos que passaram a estudar o assunto para entender como a logística reversa funcionaria na prática e quais resultados poderiam ser obtidos com a sua implantação.
 
O ponto principal era não gerar lixo para ser depositado no aterro sanitário. Era um estudo ousado, até porque o aterro sanitário de Uberlândia, criado em 1995, ainda estava no início de suas operações.
 
“As pessoas nunca tinham ouvido falar disso e achavam uma coisa estranha. Nos últimos anos é que a ideia se espalhou”, disse Manfred Fehr, que acumulou experiência profissional em 33 países de todos os continentes.
 
Hoje, aposentado, ele continua trabalhando como voluntário e colaborador do Instituto de Geografia da UFU.
 
O trabalho acadêmico foi levado para o condomínio onde o professor mora. Foi montada uma estrutura no prédio que permitia a separação dos materiais e a coleta seletiva.
 
Segundo Manfred Fehr, para que a ideia funcionasse era preciso pôr em prática a separação dos resíduos na fonte, infraestrutura de coleta e a logística reversa que levasse o material. “É um processo de aprendizado lento e difícil.” A logística reversa, neste caso, é feita pelos catadores, sucateiros e atacadistas de recicláveis.
 

Iniciativa desviou do aterro 330 toneladas de resíduos em 15 anos

 
Em 15 anos, com a separação na fonte, o condomínio onde mora o professor de Geografia Manfred Fehr desviou cerca de 330 toneladas de lixo do aterro sanitário. Segundo ele, esse número corresponde à produção diária da cidade inteira.
 
“Se os 365 condomínios da cidade entrassem no esquema, a cada 14 anos poderíamos fechar o aterro por um ano inteiro. É um convite”, disse.
 
Em 1997, quando foi feita a primeira análise quantitativa dos resíduos, o desvio para a logística reversa – ou seja, para a reciclagem ou reutilização – era zero. Todos os resíduos produzidos nos apartamentos eram levados ao aterro.
 
Com o tempo, os moradores começaram a participar do projeto e a reciclagem iniciou. Em 2007, o desvio do aterro de 67% dos resíduos foi considerado o patamar máximo possível. Em 2012, essas famílias conseguem desviar do aterro quase 100% dos resíduos que produzem. Os únicos que ainda vão para o aterro são os considerados contaminantes, depois de passarem por tratamento.
 
Mas a mudança de conceitos no condomínio não foi uma tarefa fácil.
 
“Demora muito para mostrar resultados, por ser questão cultural e psicológica. Tem que pegar um por um e tentar convencer.” Manfred Fehr, hoje com 76 anos, diz que existe uma satisfação pessoal de dever cumprido com o meio ambiente. “Eu fiz minha parte, o que pude fazer eu fiz e isso me dá uma grande satisfação de vida.”

 

Fonte: http://www.correiodeuberlandia.com.br