1 de cada 3 jundiaienses vive em condomínios
Aproximadamente 120 mil pessoas estão ligadas a um síndico na cidade. Três ‘Cs’ são o maior problema
KADIJA RODRIGUES
Jundiaí conta com aproximadamente 460 condomínios verticais e horizontais, que abrigam cerca de 120 mil pessoas - para uma cidade de 370 mil habitantes, segundo o IBGE, isso significa que praticamente um terço da população jundiaiense mora em apartamentos ou em casas cercadas por muros e que contam com portaria, área de lazer e, claro, um síndico para cuidar de tudo.
E hoje é o Dia Nacional do Síndico, profissional ou voluntário cada vez mais requisitado em Jundiaí - onde o número de imóveis novos à venda só aumenta a cada ano, a maioria absoluta de apartamentos.
Dados do Censo 2010 e da Prefeitura de Jundiaí mostram o rápido crescimento desse segmento e, automaticamente, o mercado de negócios que gira em torno do universo dos condomínios - mais de 15 mil unidades construídas de 2006 para cá e cerca de R$ 300 milhões movimentados ao ano.
Fernando Angelucci Fernandes, dono da SíndicoProh - empresa especializada em prestar serviços de síndico para condomínios, está há três anos no mercado. Diz que viu um grande espaço para crescer e se lançou no negócio. Hoje, não se arrepende, pelo contrário.
“O conceito de condomínios mudou e faltam voluntários para atuar na atividade de síndico”, afirma. Antes de transformar sua empresa de representação comercial em prestadora de serviços, teve experiências no cargo, e isso tanto em prédios comerciais quanto residenciais.
Para Fernando, a falta de concorrência para o cargo é por conta da demanda exigida: o profissional responde juridicamente e criminalmente pelo condomínio. “Sem contar que a gente precisa ser um pouco de psicólogo, educador, pensar nas manutenções”, explica.
Ele dá a dica do sucesso, embora não revele quantos condomínios gerencie: “Tenho dois supervisores que trabalham em conjunto, além dos zeladores, que considero o braço direito do síndico, em todos os prédios”, diz. “O meu celular fica ligado 24 horas e realmente você tem que se dedicar 100% ao serviço para que dê certo”.
Tempo integral
Foi para se dedicar totalmente na administração do condomínio Bosque dos Jatobás, no Engordadouro, que Fabíola Martho desistiu de atuar na sua formação de direito, mas diz utilizar as leis para o seu dia a dia. “No caso dos condomínios de casas, funciona como associação e existe um presidente que é remunerado”, explica.
Ela está no comando há 4 anos e conta adorar o que faz. Para Fabíola é preciso ter punho firme e mostrar qual é o seu papel e até onde você pode administrar. “Briga de vizinho não é meu problema”, diz. Ela recebe de 4 a 5 salários mínimos para tocar uma atividade que explica ser dinâmica e sem rotinas.
Condomínio abre outras chances de negócios
O mercado de negócios em condomínios vai além da contratação ou não de um síndico. Com mais tempo de mercado, empresas de prestação de serviços e administradoras de condomínio também garantem uma fatia, como é o caso da LGM - especializada em fornecer mão de obra de portaria, jardinagem e limpeza.
Segundo a diretora Odete Amaro, para a parceria dar certo é preciso ter um comprometimento e proximidade entre o corpo administrativo do condomínio, os condôminos e a empresa prestadora de serviço. “E temos essa ciência, uma vez que 90% da nossa carteira de clientes é para a prestação de serviços”, afirma, ao dizer que também atua na segurança, com produtos.
A mesma visão é de Edison Cortizo, que atua na administração de condomínios há 30 anos. “Damos desde a orientação jurídica até contábil e fiscal para o síndico”. Sua empresa administra cerca de 150 prédios em Jundiaí.
Já o jornalista Gustavo Beraldi enxergou a oportunidade de fazer parcerias com esses profissionais e desenvolver jornais internos para serem distribuídos aos condôminos com as informações que o síndico precisa passar e hoje circula por diversas partes da cidade.
Junto de Ronaldo Gonçalves e Janice Slakedvicius, ele começou com o “Informação Exata” há quase três anos. Eram apenas dois condomínios em que entravam. Hoje, já somam 23 na carteira e uma remuneração individual de, no mínimo, R$ 3 mil ao mês.
Dificuldades servem de lição para a vida toda
Nem tudo são flores para a atividade de síndico e tem muitos que preferem não passar por essa experiência novamente, como é o caso do engenheiro de produção Marcos Antônio Quintino, 56 anos. Ele administrou por dois anos um dos condomínios do Residencial Anchieta.
Segundo Marcos, foi na empolgação de que poderia administrar melhor que viu uma razão para que concorresse à vaga. “Quando vi que as contas estavam comprometidas negativamente, acabei notando que não tinha sido uma boa decisão aquela”, afirma.
O síndico, para ele, tem muitas atribuições administrativas e ainda somam os conflitos entre as pessoas. “Sem contar que todo mundo desconfia da idoneidade do profissional, principalmente se ele é voluntário”.
Em contrapartida, Marcos acredita que o maior legado é saber quem são os vizinhos de verdade. “Em condomínio, poucos são aqueles que somam, porém quando você os encontra, são pessoas verdadeiras”, diz.
Ele ainda reforça que o estatuto de condomínio deveria ter uma cláusula que obrigasse um rodízio de síndico por cada moradia. “Há muitas pessoas que criticam, porém quando se pede colaboração, elas simplesmente viram as costas”.
Pensamento que é compartilhado com a psicóloga Mônica Marcondes, 42. Ela está no seu primeiro ano como síndica do Condomínio Palas Atena, no Anhangabaú, e diz que não pensa em se reeleger.
“É difícil, exige-se muito do responsável e quando se tem um outro emprego, como é o meu caso, o desgaste é muito grande, afinal você está administrando uma empresa”, afirma. “Todo mundo deveria passar por essa fase, porque a experiência é única, você entra nos bastidores do condomínio, mas não deixa de ser puxado”, diz.
Quem gosta dessa história de Mônica ser síndica são seus quatro filhos. “Para eles ser síndica é muito mais divertido do que eu ser psicóloga”, brinca.
Os três ‘Cs’ é que dão aquele trabalhão...
Ser síndico não é fácil e precisa ter muito jogo de cintura. Quem garante são dois extremos que escolheram essa função em Jundiaí: de um lado, Douglas Siqueira, 33 anos e, de outro, Arlindo Francisco Carbol, 75. E é a voz da experiência quem garante: “Eu digo que os prédios têm três ‘Cs’ de problemas: carro, cachorro e criança. Por isso, você tem que saber lidar com uma boa conversa e ter muita paciência”.
Já Douglas conta que encara uma grande responsabilidade nos últimos seis meses, desde que assumiu a função no Residencial Chácara Primavera, no Eloy Chaves. São 768 apartamentos e cerca de 3 mil pessoas que estão sob seus olhos diariamente. Como também tem uma função paralela à de síndico, os horários precisam ser regrados.
Ele avalia as pendências do condomínio, vai para o trabalho e continua a falar das atividades dos prédios à noite. “O que desanima um pouco é a falta de participação dos condôminos. Dos 3 mil, apenas uns cem vão às assembleias, é preciso ter muito jogo de cintura”, diz ao afirmar que 5% de moradores dão dor de cabeça a ponto de uma vez até precisar registrar um boletim de ocorrência para se prevenir.
Enquanto Douglas começa a criar sua experiência nesse mundo, seu Arlindo acumula oito anos de dedicação ao condomínio Villagio Di Roma, no Vianelo. Para ele, qualquer condomínio tem os moradores que obedecem e os que não obedecem. Tanto Arlindo quanto Douglas são síndicos voluntários e o único benefício é a isenção do pagamento do condomínio.
300
milhões por ano. Essa é a estimativa de quanto o segmento de condomínios movimenta em Jundiaí.
150 a 2.000
reais é o valor em que varia o preço do condomínio na cidade, segundo o especialista Edison Cortizo, da Cortizo Imóveis.
Perfil
Segundo Fernando, da SíndicoProh, o mandato é de um a dois anos e a pessoa pode se recandidatar quantas vezes quiser. O síndico voluntário, geralmente, ganha a isenção do condomínio. Já os profissionais podem receber até R$ 4 mil por mês. Jundiaí conta com 450 síndicos.
Fonte: http://www.redebomdia.com.br