“Amor, acabou”, disse homem à esposa depois de matar casal em SP
Em entrevista ao repórter Valmir Salaro, a viúva do homem que assassinou o casal do andar de cima, na grande São Paulo, e depois se matou, ainda tenta entender o ataque de fúria.
Dona Hevany não defende o ato violento do marido, Vicente d'Alessio. “Tenho vergonha da atitude dele de ter matado duas pessoas, sabe, eu fico muito triste pelo que ele fez. Acho que ninguém no mundo tem o direito de tirar a vida de ninguém. E nem a própria vida”.
Por que um empresário de 62 anos, que se recuperava de uma doença grave, que tinha muitos amigos, cometeu um crime brutal? A companheira de 15 anos, que prefere não mostrar o rosto, tenta explicar.
“Eu acho que foi um surto de loucura assim, por causa da situação, não era louco, a doença dele não mexeu com a cabeça dele, nada disso, porque ele fez exames recentemente, passou na consulta segunda-feira, ele tava ótimo”.
O casal vivia em Santana do Parnaíba, na grande São Paulo. No andar de cima, moravam Fabio, Mirian e a filha de um ano e meio. Os vizinhos não eram amigos. Ao contrario, viraram inimigos dentro do condomínio.
Na noite de quinta-feira, quatro tiros acabaram com as duas famílias: Vicente assassinou o casal vizinho, mas não a criança, e, em seguida, se matou. O motivo: uma briga por causa de barulho.
Amigos de Vicente ainda procuram uma explicação. “Nesses trinta anos que nós convivemos, nunca tive nada que visse uma reação dele, radicais, nervosas”, Claudio Sanches, afirma amigo de Vicente.
“Acho que foi aqueles 5 minutos que a gente não consegue contar até 10”, diz Vitor Arouca, amigo de Vicente.
A única testemunha do momento de fúria do marido foi Dona Hevany. Ao Fantástico ela contou detalhes das confusões entre as duas famílias.
O marido tinha uma doença que ataca o sistema nervoso. Vicente passou cinco meses internado. Ele se recuperava em casa quando o conflito entre os dois casais se agravou. Primeiro, o casal de cima acusava Vicente e Hevany de fazer muito barulho.
Dona Hevany nega e chegou a dar seu telefone para Fabio, para que ele ligasse quando se sentisse incomodado. E Fábio ligou.
“Meu telefone tocava, ficava assim, alguns minutos em silencio. Aí eu falei: ‘alô, alô. Ah, Dona Hevany, é o Fabio Rubim aqui de cima. Tem criança correndo aí no seu apartamento e gritando? Eu falei: ‘Não Fabio, como eu te falei, não tem ninguém aqui em casa. To só eu e o Vicente. - Ah, tá bom! Desligava o telefone. Passava 2, 3 dias ele ligava de novo”.
Até que esses telefonemas também viraram motivo de atrito.
“Meu marido foi ficando invocado dele ficar ligando, aí eu peguei e fiz uma carta lá na portaria, falei: ‘olha seu Fabio, como você já deu pra perceber nas 4 ou 5 vezes que o senhor ligou na minha casa, não é da minha casa o barulho. Então, por favor, o senhor esta proibido a ligar na minha casa, tá me incomodando”, explica.
Fábio parou de telefonar. Mas a partir disso, segundo Hevany, foi o casal de cima que passou a fazer barulho. A situação foi piorando. Até que um dia antes do crime...
“Parecia que ela tava quebrando tudo no apartamento. Sabe que parece que você está quebrando as coisas, um móvel, uma cadeira, alguma coisa assim. Aí quando foi 11 horas, meia-noite, parou”, conta.
Na noite de quinta-feira, dia da tragédia, a situação se repetiu. E Vicente não aguentou.
“Ele saiu na varanda de tão nervoso e gritou:- ‘Ah, meu, vamos para com esse barulho, vocês estão me deixando louco aqui embaixo’. Eu falei: ‘Para Vicente, pelo amor de Deus, olha a baixaria, eu vou ficar com vergonha’. Ele falou: ‘Vai pra dentro e não se mete’”.
A mulher não conseguiu conter o marido. “Meu marido sempre teve arma, quando eu vi, ele tava pondo a arma aqui. Aí eu comecei a gritar desesperadamente”.
Mas ninguém apareceu. Vicente foi para o apartamento do vizinho. De acordo com a investigação, quando viu a arma, Fábio correu em direção aos dormitórios. Mas foi perseguido e atingido no corredor, com dois tiros. Miriam, que estava no quarto com a filha, ainda tentou fechar a porta. Mas não teve tempo. Ela também foi baleada com um tiro e morreu.
“Eu escutei tiro e eu gritava mais ainda. Aí eu corri pra dentro do apartamento porque eu vi que ele tava voltando. Aí quando ele entrou dentro do apartamento eu disse: ‘O que você fez? O que você fez?”, conta.
“Ele bateu aqui e disse assim: ‘Amor, acabou. Você ta entendendo? Acabou! Agora a sua vida é por você. Tenha juízo, se cuida’. E aí ele subiu no elevador e foi embora. Quando o elevador desceu uns dois andares, aí, eu escutei o tiro”.
As famílias do casal Miriam e Fábio foram procuradas pelo Fantástico, mas não quiseram falar.
“Vai ser muito difícil continuar minha vida sem ele, que foi meu companheiro tantos anos, a gente era muito unido”, conta.
Fonte: http://g1.globo.com/