segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Patrick Sinn pagou US$ 18 mil pelo carro, mas uma série de acontecimentos o obrigou a deixá-lo estacionada na garagem de um prédio em Toronto. O veículo dos anos 70 será leiloado, e especula-se que ele pode ser arrematado por US$ 600 mil Sempre que você estaciona seu carro em alguma vaga, é quase um procedimento padrão dar uma última olhada para trás, certificando-se que o veículo continua ali, à medida que você caminha e se distancia dele. Patrick Sinn possivelmente fez isso, ainda mais que seu carro era nada menos que uma Ferrari 365 GTB/4 Daytona Berlinetta de 1971, ao estacionar o esportivo na garagem de um prédio de Toronto, no Canadá, em 1989. E foi lá, ao lado direito da vaga de número 4242, que ela permaneceu intocada até novembro passado. Ferrari ficou intocada por 25 anos Você não leu errado. A Ferrari permaneceu 25 anos "adormecida" em uma garagem, mas Sinn não a esqueceu lá. Alguns bons anos depois de adquirir o carro italiano, Sinn, hoje com 77 anos, não sabia o que fazer com a Ferrari porque já tinha um Mercedes-Benz 280 SL e um segundo carro, da Ford, para uso diário. Ele então entrou em contato com a RM Auctions, casa de leilões especializada em carros. O desfecho deste contato acontecerá em 14 de março de 2015, data do leilão da Ferrari, a ser realizado na Flórida (EUA). O próprio Sinn deu um depoimento para o site da RM contando toda a história por trás do automóvel, da compra até o momento de se desfazer dele. Leia abaixo:
"Era o ano de 1971. Eu tinha acabado de esquiar em Chamonix-Mont-Blanc, na França, e estava indo para Genebra, de onde pegaria um voo para casa. Eu estava aguardando no aeroporto pelo voo, que estava atrasado, então eu tinha o dia inteiro para ficar lá sem fazer nada. Ouvi falar sobre o Salão Internacional do Automóvel de Genebra, então pensei por que não ir até lá ver os novos modelos.
Quando cheguei, a Ferrari tinha exposto duas Daytona e uma 246 Dino. Foi a primeira vez que vi uma Daytona e me apaixonei. Sentei no carro, andei em torno dele milhões de vezes e disse para mim mesmo: 'Preciso comprar uma'. Falei com vendedor no salão e perguntei como poderia comprar. Ele disse: 'Você pode ir em qualquer loja da Ferrari e fazer o pedido'. Respondi:
'Bom, como estou na Europa, não irei esperar. Vou encomendar o carro na fábrica; é o jeito mais rápido e dessa forma eu posso escolher a cor e acessórios'.
Então, ao invés de voltar para Toronto de Genebra, cancelei meu voo e comprei uma passagem para Milão. Quando cheguei no aeroporto, aluguei um carro e dirigi até Modena, onde fica o escritório da Ferrari. Entrei e disse para o cavalheiro que eu queria comprar uma Daytona. Ele me apresentou ao sr. Boni, o gerente de vendas, que me mostrou uma lista com os preços, opções, cores e interior. Assinei o contrato para comprar a Daytona, escolhi a cor Vermelho Bordeaux com base metálica e também escolhi os bancos com duas cores. Me disseram para retornar no verão seguinte, quando o carro estivesse pronto, porque falei que queria pegar o carro direto da fábrica e dirigir pela Europa antes de volta. Eles concordaram e disseram que licenciariam uma placa da Europa para que eu pudesse andar por lá. Aproximadamente US$ 18 mil e mais um pouco de dinheiro por conta de alguns opcionais depois, saí da Ferrari com a encomenda. O carro ficou pronto em julho de 1971, então voei para Milão, fui até a fábrica e me apossei da nova Daytona. Durante toda a minha estadia eu fiquei hospedado no InterContinental Hotel, em Genebra. Enquanto relaxava na piscina, fui tomado pela admiração de vários estrangeiros de toda a Europa querendo falar comigo sobre a Daytona. Me pareceu que os europeus, em geral, sabem mais sobre Ferraris que os norte-americanos. Rapidamente fiz novos amigos na piscina. Eles davam uma volta no meu carro, e, em troca, me apresentavam a cidade, me levavam para restaurantes e discotecas, e todos nós aproveitávamos as novas amizades. Depois disso, peguei a Autobahn em direção a Zurique e fui muito bem recebido no Dolger Grand Hotel. Após cerca de um mês dirigindo pela Europa, deixei o carro na fábrica para fazer a primeira troca de óleo e uma revisão do motor antes de mandá-lo para os EUA. Dirigi até o sul de Marselha, onde peguei o QE 2 (navio Queen Elizabeth 2), que partiria de lá rumo a Nova York. Eles permitiram que o carro ficasse abaixo do deque, de forma que pude dirigir até Toronto depois de atracarmos em Nova York. Todos os dias eu descia para checar se não havia nenhum dano na Ferrari por causa do mar. Claro, na fronteira, eles me disseram que não era permitido entrar com o carro no Canadá porque não atendia todas as normas de segurança e meio ambiente. Mas eles me deixaram entrar de qualquer forma; tentei convencê-los de se tratava de um caso único e que o risco ao meio ambiente não era tão grave. Depois de um tempo, eles me deixaram ir. Acho que naquele tempo, em 1971, não havia muitas importações e certamente não o suficiente para que eles se preocupassem. Em 1989, meu pai faleceu. Tive que ir voando para Hong Kong assumir seus negócios com meus dois irmãos. Como saí na pressa, suspendi o carro com tijolos, o cobri e saí pensando que voltaria em alguns meses. As coisas não saíram como o esperado. Haviam muitos assuntos legais para resolver após o enterro, então acabei ficando em Hong Kong por seis anos.
Finalmente voltei para Toronto, onde me envolvi com negócios imobiliários e me mantive muito ocupado. Como eu já tinha um Mercedes-Benz 280 SL e um Ford para dirigir, eu não precisava andar com a Ferrari. Nunca fui a um leilão de carros na minha vida, mas vendo o carro na garagem, onde o chão é lavado quatro vezes por ano, percebi que o carro estava começando a perder seu brilho. Eu tinha duas alternativas: gastar um bom dinheiro restaurando-o ou vender meu amado brinquedo e deixar alguém se divertir com ele. Optei pela última, percebendo que, aos 77 anos de idade, eu não iria aproveitar o carro como antes porque tinha outras prioridades na vida. Então por que não deixar outro apaixonado por Ferraris fazer isso? Li que a RM é a maior casa de leilões especializada em Ferraris antigas, acompanhei seus leilões de perto por um tempo. Decidi dar uma ligada para eles e ver o que acontece." Com motor de 352 cavalos, a Ferrari 365 GTB/4 Daytona Berlinetta pode atingir 276 km/h, mas esta, com 93,5 mil km rodados, precisará de uma revisão mecânica antes de voltar às ruas, alerta a casa de leilão. De acordo com sites especializados como Jalopnik e Motor Trend, o antigo carro de Patrick Sinn pode ser arrematado por mais de US$ 600 mil (cerca de R$ 1,57 milhão).
Fonte: www.midianews.com.br