10/10/16 10:54 - Atualizado há 8 anos
Muitas vezes, conseguir um quórum qualificado é um dos maiores pesadelos de um síndico.
O que dizer, então, do desafio de mudar toda a natureza de um empreendimento - um local que antes era uma cooperativa habitacional e hoje é um condomínio -, e ainda ter que buscar uma construtora interessada em finalizar duas das três torres prometidas no projeto inicial, que não foram entregues e que faziam parte de uma área de preservação ambiental?
Uma tarefa quase para Hércules!
Parece impossível. Mas, sim, o advogado e administrador Moisés Oliveira Santos, 51, conseguiu. Ele é síndico do seu condomínio desde 2009.
Nessa época, o local era uma cooperativa habitacional, que contava, no projeto, com três torres, mas havia apenas uma finalizada e habitada. E, o que seria uma maneira mais acessível de comprar um imóvel - via cooperativa -, acabou se tornando um problema enorme.
“Em 2006 houve um aumento muito grande da inadimplência entre os cooperados. Com isso, a construção dos outros blocos ficou seriamente comprometida. Uma torre de 17 andares sem nenhuma estrutura e outra torre do mesmo tamanho, que estavam em construção desde 2002, ficaram paradas”, conta Moisés.
Para deixar a situação ainda mais complexa, o terreno era da cooperativa. Com isso, ficava extremamente difícil achar uma empresa que se interessasse em finalizar o empreendimento.
“Todos queriam o mesmo: ver o condomínio finalizado”, explica.
Para isso, o gestor precisava pôr em dia os documentos da cooperativa. A tarefa demorou cerca de três anos para ser finalizada.
Nesse período, Moisés percebeu que haveria muito trabalho pela frente. Se demitiu do seu trabalho no setor de hotelaria para se dedicar integralmente ao condomínio.
“Com a documentação em dia, consegui uma construtora que se comprometeu a finalizar as torres e as áreas comuns – após 13 outras empresas terem rejeitado o projeto”, aponta Moisés.
Em 2010, aos 44 anos, Moisés ingressou em uma faculdade de Direito (já era formando em administração), porque percebeu que precisaria de mais informação para atingir seu tão almejado objetivo.
“Foi muito bom ter sido síndico esse período todo. Como fui projetista quando mais jovem, já consegui incluir no projeto das torres diversas medidas de economia para o condomínio, como reúso de água, por exemplo”, relata o síndico.
Em 2012, a segunda torre foi entregue aos cooperados. Nessa época, também foi votada a troca de nome do empreendimento. Quem antes era “Fortaleza” virou agora “Be life”.
Em julho de 2013, começou a construção da última torre.
“Dois anos depois, o condomínio estava todo entregue. Algo que antes estava se arrastando há quase dez anos, conseguimos levar adiante e terminar. Tudo dentro da lei”, conta Moisés.
Outro empecilho para a finalização da construção da torre que faltava era a área de preservação permanente (APP) que existe dentro do condomínio, que conta com cerca de 3,5 mil m².
“Desde que assumi o condomínio, a única vez que fizemos arrecadação extra foi para cuidar do solo da APP. Chamamos uma empresa especializada, para ter certeza de que a área seria bem cuidada”, explica.
Apesar de estar em uma área considerada periférica em São Paulo, entre a cidade, Taboão da Serra e Embu das Artes, o gestor aponta que o empreendimento é o único na região que pode ser considerado um condomínio-clube.
“Temos piscinas, quadra, churrasqueira, academias, salões de festa, sala de jogos, entre outros itens. Estamos, sim, na periferia, mas entrando no condomínio a realidade é outra”, argumenta o gestor.
Para manter o valor do condomínio, que atualmente varia de R$ 312 a R$ 345 mensais, o teto de duas torres foi alugado para empresas de telecomunicação
Para ele, o mais importante é administrar o dia-a-dia do condomínio com transparência – e ao lado de pessoas interessadas em levar o condomínio adiante.
“Temos um subsíndico por torre. São pessoas nas quais eu confio inteiramente. Temos comissões, grupos de whatsapp. É importante, para todos, saber o que acontece no condomínio”.
Uma medida adotada pela gestão de Moisés é o “dia do condômino”. O último domingo do mês é dedicado a quem mora no local.
“É esse o momento de levar os três últimos balancetes para quem quiser ver, e explicar os gastos. Mostrar as benfeitorias que estão acontecendo, programar eventos como festas de halloween e de final de ano”, conta o gestor.
Ele argumenta que esses momentos de encontro são ótimos para avaliar não apenas o seu papel, mas também o dos subsíndicos e conselheiros.
"Os moradores percebem quem está realmente engajado com o dia-a-dia do condomínio, e quem não está. É bom também porque conseguem ver como é trabalhoso executar uma função por aqui. Por isso, quem se candidata geralmente já tem uma dimensão da responsabilidade que o cargo oferece", argumenta ele.
Atualmente, o síndico recebe uma ajuda de custo de R$ 2 mil mensais pela função.
Sobre a série 'Síndico do mês':
Esse é o oitavo case publicado pelo SíndicoNet sobre "gestores da vida real". Nossa ideia é mostrar como é o dia-a-dia dos síndicos brasileiros. O primeiro a participar foi um gestor jovem, que optou por ser síndico para agregar a sua vida profissional. O segundo foi o síndico do Copan, um cartão-postal de São Paulo. O terceiro, um gestor preocupado com a representatividade no seu condomínio. O quarto, um porteiro que chegou ao time A dos síndicos profissionais. O quinto, um síndico que passou de morador a síndico profissional. O sexto, um síndico que deixou seu condomínio em dia com o meio ambiente. A sétima, uma gestora que aposta em planos customizados para seus clientes. Quer participar? Escreva para gente aqui!