08/07/20 03:43 - Atualizado há 4 anos
Como já era de se esperar, a maioria dos participantes (72,53%) citou que os serviços de limpeza devem permanecer mais intensos - com o elevadíssimo nível de contágio do coronavírus, não poderia ser diferente.
Apesar de noticiários sobre brigas, desacatados e conflitos de interesse dentro dos condomínios, na grande maioria dos empreendimentos, síndicos e gestores estão encontrando forte apoio às medidas para conter o contágio de COVID-19.
89% afirmaram que os moradores estão aceitando as normas transitórias aplicadas durante a pandemia.A pesquisa "Condomínios e COVID-19" foi realizada pelo SíndicoNet de 29/06 a 06/07 com o intuito de ouvir síndicos e gestores sobre os impactos da pandemia nos condomínios, as ações adotadas, dificuldades sentidas, comportamento dos moradores e tendências e mudanças pós-pandemia.
Além disso, 97% dos participantes afirmaram que recomendariam o portal SíndicoNet, que vem oferecendo conteúdos diários para apoiar a gestão de síndicos durante a atual crise.
Entrevistamos três síndicos de diferentes regiões do Brasil e um especialista em tecnologia e tendências no setor condominial para comentar os resultados. Confira!
Chegou finalmente a hora de condomínios abolirem as pastas físicas de prestação de contas, boletos recebidos na portaria com assinatura de protocolo e registro de ata de forma tradicional em cartórios?
A possibilidade de contaminação do coronavírus por superfícies forçou a redução drástica do uso do malote e daquela papelada toda, com certeza. E para quê voltar atrás?
chegou a hora da digitalização por três razões:Seguido de limpeza mais intensa, que já está incorporada às rotinas e provou ser boa prática independe da pandemia, os síndicos participantes da pesquisa (65,76%) apontaram o home office como a grande mudança que veio para ficar.
"Home office é, de fato, a maior tendência que deve permanecer. Pudemos ver o impacto disso no trânsito de Florianópolis, que reduziu drasticamente durante a pandemia.
O brasileiro está aprendendo a trabalhar de forma remota, apresentando melhores níveis de concentração e produtividade, e os gestores estão vendo com bons olhos. Traz benefícios e economia para os dois lados", afirma o síndico Fabio Quintanilha.
E como fica o condomínio com muito mais gente em home office?
E o condomínio e as pessoas vão se adaptar. Sempre vai ter uma obra, uma reforma, normais no dia a dia condominial", afirma José Faustino dos Santos Júnior, síndico há quatro anos do condomínio onde mora em São Luís.
"Essas duas tecnologias ajudam os condomínios a ter mais segurança, transparência, tranquilidade e convivência. É um caminho sem volta", afirma Odirley Rocha, diretor comercial da Kiper e especialista em tendências tecnológicas para o setor condominial.
curva da adoção da tecnologia acelerou nos condomínio. Muitos empreendimentos que só implantariam portaria remota nos próximos dois anos, mas, com a COVID-19, anteciparam para 2020. A pandemia colaborou para a entrada de produtos tecnológicos nos condomínios. Acabaram-se as dúvidas", opina Odirley Rocha.
Segundo ele, o fato de 11,23% de condomínios debaterem e considerarem portaria remota no rol de novas tecnologias na pesquisa SíndicoNet já mostra um grande avanço. "Há três anos, portaria remota nem aparecia em estudo porque era algo muito inovador."
Portaria remota está na agenda de projetos futuros do condomínio de José Faustino, em São Luís, cidade em que a segurança é uma questão crítica e preocupa a população. "A tecnologia ainda está amadurecendo por aqui. Condomínios que adotaram tiveram problemas, não está sendo bem aceita na cidade. Estou acompanhando há dois anos", relata.
Ao contrário de Santa Catarina. "Portaria remota está em alta por questão de necessidade e da tecnologia já fazer parte da vida das pessoas por aqui. A aceitação já é muito grande", afirma Quintanilha, síndico em Florianópolis, considerada o Vale do Sicílio brasileiro.
É uma questão financeira também. Por trazer economia de até 70% com mão de obra, a portaria remota pode ser a solução para uma recessão que deve se agravar a partir de meados do segundo semestre deste ano.
Fabio Quintanilha comenta que a assembleia virtual pegou carona com o isolamento social. "Quem está trabalhando de home office certamente participou de alguma videconferência. Fora as reuniões familiares e com amigos usando algum aplicativo. Assembleia virtual segue a mesma estrutura", compara o síndico. Ele se prepara para a sua primeira experiência.
"Consultei os moradores e todos foram unânimes em apoiar a assembleia virtual, mesmo a maioria sendo de idosos aposentados. Eles já estão abertos à tecnologia, uso de app de banco, YouTube, além de falar com netos pelo whatsapp. É uma inclusão digital espontânea”, comenta Quintanilha.
Embora apontada por muitos como tema debatido e que veio para ficar, apenas 9,15% dos participantes da pesquisa responderam que realizaram assembleia virtual durante a pandemia seja usando sistema específico (5,23%) ou plataformas de videoconferência (3,92%).
Mais de 72% dos condomínios afirmaram que não realizaram nenhuma assembleia e nem aplicaram enquetes para consultar a massa condominial. O baixo índice de aplicação de enquetes (10,68%) até surpreende por ser ferramenta disponível há anos e de fácil uso.
Para os condomínio que ainda não têm estrutura para realizar assembleia digital, a enquete poderia ser excelente alternativa para fazer consultas simples aos moradores e serviria de termômetro para síndicos tomaram ações relacionadas à entrada de prestadores de serviços, retomada de obras, interesse em contratação de serviços, abertura gradual de áreas comuns.
Busca por mais serviços de conveniência dentro dos condomínios foi citada por 20,93%. A síndica profissional carioca Karine Prisco e Fabio Quintanilha realizaram campanhas de vacinação nos condomínios em que atuam.
Quanto ao delivery, Karine se surpreendeu com a diversidade de entregas. "A conveniência de receber as coisas no condomínio foi além de comida. Aumentaram muito as entregas de farmácia, supermercado etc."
José Faustino comenta que delivery não era prática difundida largamente em São Luís. "Com a pandemia, as pessoas perderam o receio e explodiu o uso. Já se acostumaram."
Maior rigor no combate à inadimplência (18,37%) aparece na sequência. Fabio Quintanilha comenta que quando o condomínio não trabalha com empresas garantidoras, na hora de escolher qual conta pagar, o condômino com dificuldade financeira opta pela que tem menor incidência de juros e multa - caso da cota condominial.
"Vejo como tendência a contratação de garantidoras para assegurar a arrecadação e brecar a inadimplência. Junto com a implantação de portaria remota, que traz grande economia, as soluções vão ajudar financeiramente os condomínios", opina o síndico de Santa Catarina.
Segundo ele, por enquanto, muita gente ainda tem indenização do FGTS, parcelas de seguro-desemprego. "A inadimplência deve chegar em setembro e outubro", prevê Fabio Quintanilha.
O apoio maciço de moradores (89%) às regras transitórias adotadas pelos condomínios participantes da pesquisa surpreendeu a síndica Karine Prisco.
"Até quem eu achava que não iria aceitar, aderiu. Muita gente me ligou com dúvidas sobre as medidas contidas no plano de contingência que elaborei, expliquei as razões e as pessoas aceitaram. Acho que teve medo também. Como a maioria está aceitando, a minoria mais rebelde ficou em situação complicada", comenta.
Os síndicos, em sua maioria (80%), adotaram três principais ações no condomínio:
Para se comunicar bem com seus condôminos, Fabio Quintanilha vem usando:
Apenas 18,24% dos condomínios impediram a entrada de corretores de imóveis. Capachos especiais para desinfecção de solados de sapatos e a adoção de rodízio nas áreas de lazer foram indicados por 13%. Ainda em menor número foram os empreendimento que adotaram checagem de temperatura de visitantes (5,85%) e aplicaram testes para COVID-19 (3,01%).
Já em fase de abertura gradual de áreas de lazer, o condomínio de Fabio Quintanilha liberou o uso da academia, em dias e horários reduzidos, para até três pessoas por hora, mediante prévio agendamento.
São feitas diariamente duas limpezas completas, limpeza profunda duas vezes por semana e o espaço disponibiliza álcool 70%. "Cada morador leva seu próprio álcool gel, garrafa e toalha e é orientado a higienizar os aparelhos antes de usar. Além disso, está proibido o uso de ar condicionado, permanecendo janelas e portas abertas", explica Quintanilha.
Essa questão ficou bem equilibrada: 47,75% dos condomínios que responderam à pesquisa tiveram um (16,33%) ou mais de um caso positivo de COVID-19 (31,42%). Já 52,25% não tiveram ocorrência.
Uma prova da conscientização dos moradores é que em 74,63% dos casos, os infectados avisaram voluntariamente o síndico, mas ainda restou um significativo 1/4 que correu “à boca pequena”.
Nos condomínios onde os três síndicos entrevistados atuam houve casos positivos. Fabio Quintanilha comenta que a única pessoa infectada até o momento o avisou, ele passou as orientações e o morador aceitou prontamente.
"Em conversas com outros síndicos da região, os moradores que testaram positivo também avisaram. É uma questão cultural. Na minha visão, o índice de confiança, solidariedade e cooperativismo é maior em Florianópolis porque é uma área que passa por desastres naturais. As pessoas são mais solidárias e entendem que falar é para o bem comum ", opina Fabio.
Adivinha só? Barulho, claro! O campeão de todos os tempos segue firme e forte na liderança, apontado por 59,33% dos síndicos.
"Barulho, sem dúvida, foi a maior reclamação nos condomínios onde atuo. Obra emergencial que não teve como parar, pessoas trabalhando em home office incomodas com o barulho de crianças, vizinho que malha e liga som alto. Foi infernal. A intolerância aumentou. Agora, deu uma melhorada , comenta Karine.
No caso do condomínio de Fabio Quintanilha, as reclamações estão relacionadas às lives e obras. "Recebi muita reclamação de barulho em especial nos dias das lives do Alok e da Ivete Sangalo. As lives trouxeram momentos de alívio ao morador confinado, mas agora que flexibilizou um pouco, há pessoas chamando grupos de amigos para assistirem juntos."
Para evitar conflitos entre pessoas em home office e quem está fazendo obra, a orientação é que quem for fazer barulho (furadeira etc) avise com antecedência os vizinhos próximos. E tem funcionado, diz Quintanilha.
Tivemos muitos dedo-duros também: em 51,43% dos condomínios, os moradores reclamaram de moradores que não estão respeitando as novas regras de combate à COVID-19.
Ainda houve pedido para baixar o valor da cota condominial em 20,63% dos empreendimentos participantes da pesquisa. O condomínio de José Faustino está com rateio extra para obra futura na fachada e a reclamação recaiu sobre esta arrecadação.
Mais de 82% dos síndicos afirmaram que não souberam de casos relacionados à saúde mental ou problema comportamental dos moradores.
No entanto, nos 17,63% de condomínios que foram acometidos por problemas do tipo, em 50% deles houve briga entre vizinhos e mais de 40% registraram agressão verbal contra o síndico, funcionários ou outro morador.
Casos mais graves, como violência doméstica e suicídio/tentativa, foram apontados por 23,55% e 6,83%, respectivamente.
Karine Prisco relata que houve caso de violência doméstica em um dos condomínios que atende. "Já era uma situação existente e, com o confinamento, houve piora com muito barulho, pedido de socorro. Chamaram a polícia e o casal se separou."
Em outro condomínio atendido por Karine, há uma pessoa com problema mental pré-existente, com registros anteriores de surtos, e mora sozinha. "Com a pandemia teve um surto bem forte, com muita gritaria e acionamos o SAMU para socorrê-la."
Dentre os serviços mais pautados, de longe foi desinfecção profissional de áreas comuns (38,36%), seguido por coleta seletiva (28,71%) e campanha de vacinação (18,48%).
Karine Prisco usou serviço de desinfecção quando houve casos confirmados de COVID-19. Para o dia a dia, optou pela compra de um pulverizador e o faxineiro foi treinado para ele mesmo aplicar nas áreas de maior uso, usando produtos comuns do dia a dia, recomendados pela Anvisa: álcool 70%, desinfetante ou hipoclorito. "Desinfetantes hospitalares ou quartenários de amônia são de uso profissional e não usamos. São produtos perigosos, que só as empresas autorizadas devem manipular", alerta a síndica.
No caso da coleta seletiva, ela vem enfrentando problemas com as cooperativas que costumavam atender os condomínios e passou a descartar no serviço de limpeza urbana da cidade.
Em menor escala apareceram minimercados (2,75%) e linhas de crédito (empréstimos) para condomínios (1,23%), sendo esta última um indício de que talvez a inadimplência não esteja em níveis preocupantes - ainda.
No pós pandemia, 49,64% dos síndicos participantes da pesquisa acreditam que vai permanecer o aumento no espírito de coletividade e solidariedade. Já 33,65% dos síndicos consideram que os moradores darão mais valor para o condomínio e outros 25,39%, darão mais valor para o síndico.
Não, o coronavírus não nocauteou os síndicos do Brasil! Quase 58% dos síndicos admitiram que as atividades ficaram mais intensas (39,4%) ou muito mais intensas (18,27%).
Uma parcela de 4,55% afirmaram que o dia a dia de síndico ficou menos intenso. E somente 3,21% confessaram que, de tão intensa, estão pensando em renunciar ou encerrar a gestão e não se candidatar novamente.
"Coronavírus veio para ser um divisor. Em uma crise como essa, não tem regra pronta. O síndico precisa manter a calma e os moradores também. Aqueles mais comunicativos estão com melhor desempenho, pois é preciso saber orientar e fazer ações de conscientização da forma certa", afirma Fabio Quintanilha.
Dos mais dos 2 mil participantes da pesquisa, 55,88% são síndicos residentes; 12,70%, síndicos profissionais; 9,08%, subsíndico ou conselheiro; e 6,09% administradoras de condomínios.
Os condomínios residenciais estão representados por 88,96% dos participantes; condomínio misto, 4,83%; e condomínio comercial, 3,42%.
O perfil de número de unidades dos empreendimentos ficou bem concentrado entre 51 a 150 unidade (35,45%) e 16 a 50 unidades (32,95%). As demais foram de 151 a 300 unidades (13,52%), acima de 300 (10,11%) e até 15 unidade (7,95%).
Há participantes de todos os estados, exceto Acre, Amapá e Roraima. Os participantes majoritariamente são do estado de São Paulo (com 52,1%), seguido por Rio de Janeiro (13,38%), Minas Gerais (5,98%), Rio Grande do Sul (4,62%) e Paraná (4,46%).
Fontes consultadas: Fabio Quintanilha (síndico), Karine Prisco (síndica profissional), José Faustino dos Santos (síndico), Odirley Rocha (Kiper).