segunda-feira, 23 de abril de 2012
Uma casa que não tem muros ou não tem grades, cria uma barreira psicológica que é mais efetiva do que a barreira física.
Muros altos, cercas elétricas, vidros escuros, câmeras, alarmes e vigias. O que afinal garante a tranquilidade em nossas casas, em nossos prédios?
A dupla Rodrigo Pimentel e Diógenes Lucca está na rua para mais um Plano de Segurança.
“Eles entraram aqui em um sábado. Eles já foram entrando, perguntando onde estava o cofre, euro, dólar. E eu falando que nós não tínhamos. Eles começaram a recolher tudo que eles encontravam na residência, videogame, DVDs, joguinhos”, lembra a professora Luciane Keller.
Luciane mora em uma casa na zona leste de São Paulo, mas o medo que ela viveu não se restringe às mansões dos redutos mais ricos da cidade. Os arrastões a prédios, dos sofisticados aos mais modestos, se espalham pela capital, ganham o noticiário e assustam a população.
Quais são os pontos vulneráveis das residências, que acabam atraindo os criminosos? E como se prevenir, de maneira simples e eficaz? Os consultores Rodrigo Pimentel e Diógenes Lucca têm as dicas no quadro “Plano de Segurança”.
O que os arrastões revelam sobre o método dos bandidos? Analisamos os casos de roubos e arrastões em condomínios na cidade de SP em 2011 e começo de 2012 e chegamos a algumas conclusões.
Primeira conclusão: “Roubos e arrastões não ocorrem exclusivamente em prédios de alto luxo”, aponta Rodrigo Pimentel. “Nos prédios mais populares, os bandidos se utilizam da falta de estrutura para agir”, afirma Diógenes Lucca.
Edifícios sem câmeras de segurança ou porteiro 24 horas acabam se tornando alvos preferenciais dos assaltantes.
“O sistema de câmeras e de alarmes não serve só para depois que acontece um fato recuperar as imagens para ajudar a investigação da policia. Ele também serve como elemento dissuasivo, elemento de prevenção, porque o criminoso, quando passa e vê uma rua cheia de câmeras espalhadas, cheia de sensores, vai ficar menos motivado para fazer o assalto”, declara Diógenes Lucca. “Ele vai escolher o prédio sem câmera”, destaca Rodrigo Pimentel.
Nos prédios de alto padrão, duas estratégias de invasão se destacam. Primeira: os bandidos conseguem o controle remoto da garagem. “Essa opção do porteiro ter o controle de acesso é sempre mais segura, mais inteligente. Alguns condomínios com 110 apartamentos fornecem as chaves e os controles de acesso aos moradores. É um perigo”, afirma Rodrigo Pimentel.
Se um morador der falta do controle, todos os condôminos devem trocar as chaves de acesso.
Segunda estratégia: os ladrões se passam por entregadores ou prestadores de serviço. Nesse caso, a falha é humana e exige treinamento dos funcionários do edifício. “A primeira dica ao síndico é oriente, treine e fiscalize os seus porteiros e zeladores. Caso necessário, busque cursos nas polícias estaduais”, aposta Pimentel.
Dica ao porteiro: seja criterioso, exigente na identificação de todos os prestadores de serviços e também de visitantes
“Você não tem porque receber nenhum tipo de técnico, permitir o acesso na sua casa se não foi uma coisa solicitada por você”, diz Lucca. “Não pode se iludir com escada, com carro, com logomarca, com camisa, porque os bandidos têm isso tudo isso”, destaca Pimentel.
“A dica de ouro é receber o crachá, a identidade, e fazer a ligação para a empresa que você solicitou e confirmar se aquele sujeito é de fato o instalador”, declara Lucca.
Nossos consultores detectam outra característica comum aos casos analisados. Os criminosos preferem condomínios com uma só torre.
“Quando tem um condomínio com várias torres, é sempre menos atrativo para o criminoso do que um condomínio com uma ou duas torres”, afirma Lucca.”Mais do que isso, era inviável a logística do bandido para render tantos moradores”, comenta Pimentel.
E quando a própria arquitetura do prédio ou da residência facilita a ação dos bandidos? Será que a iluminação, o muro, as árvores, e até mesmo a posição que você deixa a lixeira na porta da sua casa podem contribuir para a segurança?
O comandante-geral da Polícia Militar do Paraná, Roberson Bondaruk, ouviu 287 criminosos e escreveu um livro sobre o assunto. A nosso pedido, ele analisou imagens de construções em São Paulo e identificou os pontos mais vulneráveis.
“Os criminosos preferem sempre lugares mal iluminados. Para muitos delinquentes, no momento em que a luz se acende, ele não sabe se isso foi uma coisa que aconteceu automaticamente ou foi alguém que percebeu a sua presença e ligou uma luz”, declara o comandante-geral da PM do Paraná.
Sensores de presença ajudam a identificar a presença de pessoas próximas à portaria. O ideal é que as luzes apontem para a rua, e não para a casa. “Vai gerar um ofuscamento em quem tenta observar e vai fazer com que quem está dentro fique na sombra observando o que acontece na rua”, destaca Roberson Bondaruk.
Outra dica: lixeiras e caçambas devem ficar longe dos muros e grades. “A opção é afastar a caixa de lixo um pouquinho da sua calçada”, diz Pimentel. “Você não permitir que através dela se possa escalar ou transpor o muro ou a grade que ali está”, complementa Roberson.
O mesmo serve para árvores e arbustos. “Nós temos aqui uma arvore que cresce e permite uma escalada furtiva. Arbustos nunca mais de um metro de altura e galhos das árvores sempre podados acima de dois metros”, destaca o comandante da PM.
Será que erguer muros cada vez mais altos adianta para evitar assaltos? Nem sempre. Às vezes, esses recursos criam uma falsa sensação de segurança. Acabam oferecendo cobertura aos bandidos, em vez de afugentá-los. Foi o que aconteceu com a Luciene. Protegidos pelo muro alto, os ladrões passaram mais de duas horas na casa dela sem serem incomodados. Ninguém na rua, nenhum vizinho desconfiou de nada.
“O efeito fortaleza funciona ao contrario. Dá a impressão de que tem alguma coisa muito valiosa em seu interior”, comenta Roberson.
Casas sem muros ou grades são mais seguras. “Entre ter uma casa cercada por grades ou muros, a casa sem grades e nem muros acaba sendo mais segura. Uma casa que não tem muros, não tem grades cria essa barreira psicológica que é mais efetiva do que a barreira física. O que cria na cabeça do criminoso uma dúvida: será que tem um alarme, será que tem um sensor de movimento? Na dúvida, ele prefere assaltar outra casa”, aponta Roberson.
“A visibilidade é a melhor arma contra o crime. Tem um princípio que se chama vigilância natural”,
Proteção à prova de falhas é quase impossível, mas existem pequenas medidas que você pode tomar para reduzir o risco de assaltos. “Chegar em sua casa de forma segura é uma das coisas mais importantes. A primeira dica é dar uma olhada na redondeza para ver se não tem ninguém em atitude suspeita”, destaca Lucca.
“Cumpra as regras de segurança do seu condomínio”, afirma Pimentel.
Em caso de dúvida, chame a polícia no telefone 190. Observe os porteiros e os funcionários para ver se são pessoas conhecidas e, se por acaso, você sentir algo perigoso, não tenha dúvida, acione a polícia.
Fonte: http://fantastico.globo.com