Hubert Gebara

Seca histórica

Condomínios podem fazer mais para usar água de maneira racional

Por Mariana Ribeiro Desimone

24/09/14 01:35 - Atualizado há 10 anos


Por Hubert Gebara *

A região dos Jardins, na capital paulista, foi a que menos economizou água durante o primeiro semestre de 2014, período em que se agravou a atual seca. A região tem muito comércio que gasta água pela própria natureza dos negócios. Mas também tem muitos condomínios.

Esse dado surpreende porque, até então, achávamos que a preservação de recursos finitos estava relacionada com o grau de informação e poder aquisitivo das pessoas. A explicação da Sabesp é que o alto poder aquisitivo do bairro é o responsável: a economia na conta não abala o orçamento de seus moradores. De qualquer maneira, seja nos Jardins ou em outros bairros, os condomínios ainda não estão economizando como deveriam. Segundo a Sabesp, a campanha para redução do consumo de água encontra resistência nesse grupo, que representa 11% do universo do consumo. Quem consome além do que deve, desperdiça. Não há o que discutir. A concessionária, por sua vez, perde muita água em vazamentos em sua rede de tubulações. Ninguém pode controlar o regime de chuvas. Porém, com investimentos e boa gestão, é possível controlar o que está nos meandros da rede de abastecimento. Nossa sociedade, que inclui as concessionárias, ainda não acordou para o que está batendo à nossa porta. Acontece com todos nós: não estamos entendendo a crise. Ainda não compreendemos o que é escassez de àgua.

Não sabemos o que é falta de energia elétrica. Não sabemos que, sem esses recursos, voltaremos ao passado remoto, fora de nossa atual zona de conforto. Adeus vida moderna, shoppings e comida. Há uma crise extrema prevista pelos técnicos e ambientalistas para 2050. E essa previsão pode ser muito otimista! O consumidor de água perdulário - onde quer que esteja - pode começar a pensar desde já em investir em poços artesianos. Supondo que alguns condomínios já possuam hidrômetros individualizados, chegou a hora de investir em mais uma opção para tempos incertos. Não é de graça, mas também não é tão caro. Estamos falando da crise na cidade de São Paulo, a maior área metropolitana do País. Apesar de responder pelo maior consumo hídrico, São Paulo possui apenas uma pequena parte da oferta total de água do Brasil. Já estamos coletando água do chamado "volume morto" e o racionamento de água é uma realidade em nossas torneiras durante a noite. Nossa expectativa deveria decorrer não apenas das eleições que se aproximam, mas, principalmente, de como será a próxima estação das chuvas. Como resultado das eleições, mesmo vencendo os melhores, falta saber o que farão em suas relações com São Pedro. Ainda que vençam os mais bem preparados, eles saberão da gravidade da crise e vão procurar resolvê-la com a devida profundidade? Adotarão todas as medidas necessárias, mesmo aquelas que incluem incentivos fiscais? No lugar dos síndicos, estejam ou não nos Jardins, eu confiaria apenas em medidas providenciais na esfera do próprio condomínio. Providências de ordem eminentemente práticas. Gostaríamos de acreditar que os hidrômetros já estão instalados, se não na cidade inteira, ao menos nas regiões mais abastadas.

Sabemos que não é assim: mesmo em bairros de classe média alta, muitos imóveis antigos não tiveram ainda como atualizar as prumadas para instalar o equipamento. Nesse caso específico, sai caro. Esses projetos antigos não foram visionários. Doravante, o dom visionário terá de ser uma regra, e não apenas no mercado imobiliário. Sem a visão grande angular do futuro, nossos projetos serão sempre precocemente obsoletos. Este artigo foi escrito após uma longa noite paulistana em que houve ameaça de chuvas e vendaval. Ficou na ameaça. Logo, tudo se acalmou e, na madrugada ainda escura, os sabiás voltaram a cantar. Eles estavam entoando a música nupcial que anuncia a Primavera, que começa nesta terça-feira (23). Mesmo que não volte a chover, terão de fazer seus ninhos e acasalar na próxima estação quente. Não sabemos como a estiagem prologada poderá afetá-los. Sabemos como poderá a afetar a nós, tão acostumados ao conforto e aos longos banhos. (*) Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP (Sindicato da Habitação), presidente eleito da Fiabci/Brasil e diretor do Grupo Hubert.