Manutenção

Sem manutenção

Muitas edificações em áreas antigas do RJ correm risco de desabar

Por Mariana Ribeiro Desimone

quarta-feira, 16 de maio de 2012


 Mais de 100 prédios correm risco de desabar no Rio

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, disse nessa terça-feira que pelo menos 100 prédios antigos no Centro do Rio estão em péssimo estado de conservação e até correm risco de desabamento. Pela manhã, parte do prédio do Cordão do Bola Preta, na Rua da Relação, desabou.
 
“É uma centena de prédios, muitos nas regiões mais antigas, em estado lastimável do ponto de vista de estruturas. Não temos poder de fiscalizar as construções, mas podemos ajudar na fiscalização do profissional e nos colocamos à disposição dos órgãos competentes para possíveis vistorias”, disse Agostinho Guerreiro.
 
De acordo com o presidente do Crea, em 11 de abril o órgão vistoriou o sobrado que desabou ontem, após denúncias, e constatou que havia risco de desmoronamento. Parte do sobrado, que fica no número 90 da Rua da Relação, esquina com a Rua do Lavradio, no Centro, ruiu por volta das 8h20. Segundo o Corpo de Bombeiros, não houve vítimas, mas testemunhas dizem que dois pedestres sofreram escoriações leves. O tráfego ficou complicado na região durante toda a manhã, mas era apenas intenso à tarde. O imóvel, segundo a Defesa Civil municipal, já estava interditado para que fossem feitas obras de escoramento. No início do ano, segundo o órgão, já havia caído parte do reboco do prédio.
 
O presidente do Bola Preta, Pedro Ernesto, disse que o bloco carnavalesco não estava usando o sobrado devido aos riscos. Ele acrescentou que, por medida de segurança, reforçou as paredes próximas às portas da construção que está em uso pela agremiação.
 
O desabamento de parte do sobrado trouxe à tona uma desavença antiga entre o Cordão da Bola Preta e o Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol). De acordo com o presidente do sindicato, Fernando Bandeira, esse conjunto de prédios pertencia à Rio Trilhos e foi cedido em comodato, em 2006, ao Sinpol. Ele disse que o sindicato gastou R$ 600 mil em obras de restruturação do local, onde funciona atualmente o Centro Cultural da Bola Preta.
 
Em 2009, no entanto, ainda segundo Bandeira, o governo do estado teria cedido o mesmo conjunto de prédios para o Bola Preta. O bloco receberia dinheiro da prefeitura para restaurar o prédio, mas uma ação na Justiça impetrada por três sócios da agremiação em conjunto com o Sindicato dos Policiais Civis impediu a continuidade das obras. Fernando Bandeira disse, na manhã de ontem, desconfiar que a queda do prédio possa ter sido provocada para que a prefeitura aplique verbas na resconstrução do edifício e o transfira para o Cordão do Bola Preta.
 
A Empresa Municipal de Urbanização do Rio (Rio Urbe) informou, em nota divulgada ontem, que uma liminar impediu que fosse feita a licitação para a restauração do prédio que desabou parcialmente. A liminar foi expedida em 5 de setembro, questionando o processo de comodato do imóvel. A Rio Urbe confirmou ainda que o sobrado de era de propriedade da Rio Trilhos e foi cedido ao Cordão da Bola Preta. Em 17 de agosto, em entendimento com o bloco, a Rio Urbe anunciou que faria a restauração do edifício. A liminar foi revogada em 16 de abril, mas ainda cabe recurso. A RioUrbe disse que está mantido o compromisso de recuperar a sede do Cordão do Bola Preta assim que a questão judicial for resolvida.
 

VIZINHANÇA

 
De acordo com assessoria de imprensa do Cordão do Bola Preta, os prédios vizinhos passariam por obras orçadas em R$ 2,3 milhões. Muitos curiosos ainda paravam para olhar o que restou do desabamento. O teto do prédio e parte das paredes caíram. Segundo o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório, o que sobrou do segundo andar seria derrubado até o fim da tarde. Equipes da Comlurb trabalhavam no local e, em seguida, técnicos da Defesa Civil iniciariam a demolição.
 
Osório informou que a previsão era de que até o fim da tarde o trânsito estivesse liberado na região. De acordo com a Defesa Civil, o material será removido e avaliado por técnicos. O sobrado ao lado, de número 92, onde funciona o restaurante Marizé Gourmet, também está temporariamente interditado até que sua estrutura seja avaliada pela Defesa Civil. Proprietários do restaurante garantem, no entanto, que foram feitas obras de estrutura no estabelecimento, e não haveria risco de desabamento.
 
O especialista em gerenciamento de risco Gustavo Cunha Mello afirmou que uma das prováveis causas do desabamento foi a falta de conservação do imóvel, cuja estrutura é feita basicamente de madeira. Segundo ele, o acúmulo da água da chuva pode ter contribuído para o desabamento. O sobrado fica na mesma região da cidade onde caíram três prédios em janeiro.
 

Tragédia investigada

 

Na noite de 25 de janeiro, o Edifício Liberdade, de 20 andares, na Avenida 13 de Maio, Centro do Rio, caiu, derrubando também dois prédios vizinhos, de 11 e quatro andares. Como eram cerca de 20h30 de uma quarta-feira, os imóveis, que abrigavam estabalecimentos comerciais, ainda estavam ocupados, provocando uma tragédia. Até 9 de fevereiro, 17 corpos haviam sido resgatados dos escombros e pelo menos cinco pessoas continuavam desaparecidas. A causa dos desabamentos, ainda investigada, teriam sido obras irregulares no Edifício Liberdade, que retiraram pilares de sustentação.
 
Do Estado de Minas

Fonte: http://www.pernambuco.com/