Administração
Sem queixas
Síndica adequa condomínio com obras e não admite reclamação
Por Mariana Ribeiro Desimone
domingo, 13 de outubro de 2013
Em aviso, síndica proíbe queixa por obra e moradores alegam intimidação
Carta anuncia gasto de R$ 150 mil com adequações de segurança em SP. Condôminos criticam falta de assembleia e tratamento da administração.
Um comunicado distribuído no início desta semana no Jardim das Pedras, maior condomínio residencial de Ribeirão Preto (SP), revoltou um grupo de moradores. Na carta, a administração avisa sobre a urgência de adaptações de segurança que custarão ao menos R$ 150 mil aos condôminos e ameaça aplicar multas a quem se manifestar contrário à decisão – que não teria sido acordada em assembleia, segundo os moradores ouvidos pelo G1.
A síndica argumenta no comunicado que a culpa da urgência e o valor do projeto que será rateado estão relacionados à ‘meia-dúzia de moradores’, que está insatisfeita com o residencial.
Procurada pelo G1, a administradora do Jardim das Pedras, Vera Lurdes Ferreira, afirmou, por telefone, que as adequações são necessárias devido a um pedido de urgência do Ministério Público. Também informou que existe a possibilidade de aplicação de multas aos moradores por excesso de barulho prevista na convenção do condomínio.
Texto polêmico
No documento afixado nos blocos de apartamentos que compõem o complexo com 6,5 mil moradores, a direção comunica que, a partir de 8 de novembro, será acrescentado à taxa mensal do condomínio o valor referente ao rateio dos R$ 150 mil referentes à “regularização total do Corpo de Bombeiros.” “A gente não sabe o propósito do projeto. Não houve assembleia para isso”, afirma uma moradora de 45 anos que prefere não ser identificada.
Em determinado trecho, a administração ressalta que não aceitará reclamações e que manifestações contrárias serão penalizadas com multas. “Não participem de passeatas (evitem multas)”, comunica a direção do condomínio. Alguns moradores ainda são citados nominalmente como responsáveis pela urgência das obras.
“Elas querem tudo de uma vez. (...) então vamos fazer. Preparem-se, o rateio será muito alto. Somente o projeto ficou em 150.000 reais (sic), ainda falta (sic) os materiais e a mão de obra qualificada”, informou, sem detalhar quanto cada condômino gastará a mais por mês, as adequações necessárias e o custo total.
“É um absurdo você instigar as pessoas contra um grupo sobre uma coisa tão básica que é a segurança de um prédio”, diz uma moradora de 49 anos que também prefere não ser identificada.
O Corpo de Bombeiros informou desconhecer o teor do projeto anunciado pela administração do condomínio, e informou que a taxa de vistoria da área total do Jardim das Pedras custaria R$ 6,5 mil. Segundo o morador Antonio Carlos Pombal, de 56 anos, ele e outros condôminos farão uma cotação paralela dos gastos anunciados pela administração do condomínio. “Vou conversar com um engenheiro civil e vou pedir orçamento para ele”, alega.
Jardim das Pedras
A Promotoria de Habitação e Urbanismo informou que há dois meses moveu uma ação civil pública contra o condomínio devido a problemas nos itens de segurança e que um termo de ajustamento de conduta (TAC) movido há três anos não tem sido cumprido.
Ao G1, a síndica disse que as adequações nos itens de segurança são necessárias devido à urgência pedida pelo Ministério Público – acionado, segundo ela, pelos mesmos moradores que agora reclamam do rateio, e que por isso não ela aceitará queixas. Ela informa que, além do projeto de R$ 150 mil, haverá gastos com mão de obra na ordem de R$ 190 mil, além da compra de materiais como lâmpadas.
“O MP está exigindo isso. (...) Tenho que fazer de uma vez só. Eu estava fazendo aos poucos. (...) Eu vinha fazendo isso desde quando entrei”, afirma Vera, que desde 2010 responde pela administração do Jardim das Pedras.
Vera alega que muitos dos itens de segurança no interior do condomínio são danificados pelos próprios moradores e que alguns destes querem denegrir a imagem do condomínio. “Aqui são 6,5 mil pessoas. Dessas existe meia dúzia que não gosta daqui e fica indo ao MP. Elas querem ficar na mídia. As outras adoram aqui”, diz.
Com relação à aplicação de multas citada no texto do comunicado, Vera afirma que a convenção interna do residencial prevê multa em caso de barulho.
“A nossa convenção reza que, sem autorização do síndico, não pode passar papel, não pode fazer batucada, não pode fazer gritaria. A nossa convenção reza, não pode.”
Fonte: http://g1.globo.com/