Ambiente

Sem tratamento

Esgoto de condomínio da Grande BH polue nascente e córregos

Por Mariana Ribeiro Desimone

domingo, 1 de junho de 2014


Em Nova Lima, esgoto contamina mananciais e gera ação na Justiça

Cerca de 80% da população sofre com o problema. Prefeitura afirma que em três anos moradores terão esgoto tratado.
 
O lançamento de esgoto sem qualquer tipo de tratamento em nascentes e córregos de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é responsável pela contaminação de diversos mananciais da região. A coleta sanitária falta para 80% da cidade, onde empreendimentos particulares e até mesmo prédios públicos descartam os dejetos no meio ambiente. O Ministério Público chegou a entrar na Justiça contra a prefeitura da cidade.
 
Em condomínios onde a promessa de construção de uma rede de esgoto tratada era uma esperança, moradores aguardam há mais de uma década pelo serviço. Enquanto isso, o mau cheiro invade casas e incomoda quem vive no local.
 
A moradora do bairro Ipê, Mara de Castro, se lembra da época em que uma água limpinha corria no fundo da casa dela. De acordo com ela, há 12 anos um shopping lança esgoto em um córrego da cidade. Os moradores se mobilizaram e conseguiram impedir que um condomínio também jogasse o esgoto no mesmo lugar, mas, mesmo assim, ele acabou sendo despejado, segundo quem vive na região, de forma irregular.
 
Em outra nascente em um bairro vizinho, a contaminação também mostra seus sinais. Em determinada rua, ela recebe o esgoto de uma escola, prejudicando todos os moradores das redondezas.
 
O Ministério Público entrou na Justiça contra a prefeitura de Nova Lima por não ter cumprido um acordo para resolver a situação de pelo menos 80% da população, que sofre com a falta de esgoto. O objetivo do termo de compromisso era fazer a implantação do sistema completo de esgotamento sanitário, coleta, rede de coleta e interceptores, além de impedir que o município continuasse a licenciar empreendimentos imobiliários industriais e residenciais sem um sistema adequado de tratamento dos efluentes sanitários.
 
A prefeitura reconhece o atraso, mas alega que o projeto é completo e se compromete a seguir com o acordo. De acordo com o secretário do Meio Ambiente, Roberto Messias, pelo menos 80% da cidade terá parte do esgoto tratado nos próximos três anos. “Remendar, melhorar, aperfeiçoar, não é coisa que dá pra fazer na velocidade que a gente queria”, afirma.
 
De acordo com a Promotoria de Justiça de Meio Ambiente de Nova Lima, duas ações civis públicas foram propostas, buscando a ampliação dos serviços das Estações de Tratamentos de Esgoto (ETE) e recuperação dos danos ambientais já ocorridos. O presidente da associação do Vale dos Cristais, Walmir Braga, conta que já houve casos de jantares cancelados e de casas que não foram vendidas no condomínio devido ao mau cheiro na região.
 
Mesmo assim, a Companhia se Saneamento de Minas Gerais (Copasa) afirma que trata o esgoto com eficiência. Segundo o superintendente de serviço de tratamento de efluentes da empresa, Eugênio Silva, a água que vai é turva porque a exigência é de remoção de 75% da matéria orgânica. “Fazemos 85% a 90%. Ainda fica sólido suspenso, barro, poeira, e algum elemento químico que não passou por tratamento”, explica. Segundo ele, a empresa já licitou e assinou um contrato que dá ordem de serviço para equipamento de biofiltro para filtrar os gases. “Em 120 dias estamos com o equipamento em operação e não terá mais cheiro”, afirma.
 
Quem mora no Vale dos Cristais se diz encurralado, De fora, o cheiro forte. De dentro, ainda mais precariedade devido às casas com fossas e aos prédios com uma estação de tratamento feita pela construtora, com capacidade limitada. O esquema seria uma solução provisória, mas já completa 10 anos de existência.
 
A prefeitura da cidade negou que existia no processo de licenciamento do Vale dos Cristais o compromisso de que haveria a captação do esgoto da Copasa no condomínio, e que a ETE do local seria provisória. Ainda de acordo com a administração municipal, o condomínio integra o cronograma de implantação da rede de esgoto em toda a cidade. A Copasa informou que já está em andamento uma obra que vai conduzir o esgoto do Vale do Sereno, em Nova Lima, para a ETE Arrudas, em Belo Horizonte, o que vai aliviar a estação de Nova Lima.
 
Já a Secretaria de Meio Ambiente de Nova Lima alega que não sabia que o esgoto da escola municipal era lançado direto no córrego, e que vai tomar providências para resolver o problema.

Fonte: http://g1.globo.com/