29/07/20 11:20 - Atualizado há 3 anos
Condomínios que acompanham tendências, investem em tecnologia e oferecem serviços de conveniências, além de facilitar a sua gestão e a vida de moradores com uma melhor experiência, são mais valorizados.
Se o investimento na digitalização e em serviços de conveniência já estava no radar dos síndicos e gestores mais antenados, com a pandemia de COVID-19 virou quase uma questão de sobrevivência do setor condominial.
"Fomos 'atirados' para 2030", resume Romeo Busarello, vice-presidente de marketing e ambientes digitais da incorporadora Tecnisa.
"Estamos digitalizando nosso modo de vida: não precisamos ir à igreja para rezar, ao mercado para fazer compras, à escola para estudar. Essa digitalização vai implicar na explosão de novos serviços", declara Busarello.
Segundo ele, é possível catalogar duas dezenas de hábitos que deveriam ter sido homologados há uns 5, 6 anos e agora viraram realidade, dentre eles: home office, telemedicina, atendimento psicológico virtual, aulas on-line, assembleia digital e delivery.
Home office é o grande legado da COVID-19. Tempo não é só dinheiro, tempo é vida e as pessoas querem mais vida. Com home office, hora útil é mais importante que hora extra", opina o VP da Tecnisa.
Na pesquisa sobre impactos da COVID-19 nos condomínios, realizada pelo SíndicoNet em julho, 65,76% dos síndicos participantes apontaram o home office como a grande tendência que veio para ficar.
Além da digitalização, presente na interação das pessoas com o condomínio e na gestão do empreendimento - papel zero, manutenção preditiva, ponto eletrônico, assembleias, boletos e holerites digitais -, Angelica Arbex, gerente de Marketing da administradora Lello, destaca a formação de rede de recomendação do comércio local.
"Isso foi muito forte durante a pandemia, incluindo lojas de conveniência no condomínio. O tempo vai precisar ensinar como vencer as barreiras logísticas de reposição e competição em preço", declara.
E disso tudo deriva uma série de mudanças nos condomínios, seja na concepção de novos empreendimentos, seja na adaptação dos existentes. O objetivo é atender às novas demandas dos moradores e o modo de vida "digitalizado".
"Os condomínios que adotam boas práticas, refletem em maior satisfação, maior renda para quem quer locar e acabam sendo bastante reconhecidos. Não depende de grandes investimentos, mas de conscientização e ação", fala Alexandre Frankel, CEO da incorporadora Vitacon, conhecida pelos condomínios de unidades compactas, áreas compartilhadas e amplo leque de serviços.
Nesta matéria, vamos falar sobre os serviços de conveniências, que aliados à tecnologia, estão transformando a vida nos condomínios hoje e vão transformar ainda mais nos próximos empreendimentos.
Você vai ver nesta matéria:Diversos serviços de conveniência acompanham ou passarão a acompanhar o home office, que já é fato nos condomínios.
"Os espaços de coworking em áreas comuns vão demandar lojas de conveniência do estilo 'honest market'. Moradores adeptos à economia do 'bico', que envolve comércio pela internet, vão precisar de áreas denominadas 'espaços makers', com bancadas, ferramentas e itens para as pessoas fazerem coisas, embalagens para despacho etc", prevê Romeo Busarello, da Tecnisa.
Internet de qualidade é item essencial para o home office, seja na própria unidade, no coworking ou nas áreas comuns. "A demanda por conectividade deu um salto impressionante e há necessidade de prover o serviço em áreas comuns e nas unidades, já que as pessoas estão mais tempo em casa, trabalhando também", comenta Alexandre Frankel, da Vitacon.
Vai ser cada vez mais comum condomínios com áreas de coworking com terceirização de insumos.
"Empresas ligadas a suprimentos de escritório vão fazer a gestão de insumos não estratégicos nos condomínios: papel, impressora, cartucho, manutenção etc. O controle do consumo é pelo uso de senha associada à unidade e a conta será paga via boleto da taxa condominial", prevê o VP da Tecnisa.
Quem trabalha em home office, eventualmente recebe pessoas para reuniões e os minimercados ou lojas de conveniência, dentro do conceito de 'honest market' com self checking, são uma mão na roda, já que dispõem de bebidas, snacks, frutas entre outras coisas.
Com a COVID-19, o nicho se expandiu ao trazer praticidade e segurança para moradores nas compras de itens essenciais dentro do próprio condomínio, com empresas despontando para atender à demanda crescente, como Vendify, market4u, Numenu e Onii.
bancadas para trabalhos manuais e painel de ferramentas. Podem ser usados por moradores que são profissionais autônomos ligados ao comércio eletrônico como por aqueles mais da bricolagem, mão na massa que fazem pequenos reparos na bicicleta, em utensílios domésticos.
Com o salto exponencial do delivery, as portarias viraram verdadeiros hubs de logística nos condomínios. Com isso, os armários inteligentes ou lockers para entrega de comida, farmácia, e-commerce e compra de mercado deixaram de ser tendência e viraram fato.
"O delivery 'bombou'. A nossa estrutura suportou bem. Temos três tipos de armários inteligentes e é difícil acontecer superlotação. Não soube de notificação de overbooking", relata Frankel.
FUTURO
COLETA SELETIVA
E com tanto delivery chegando nos condomínios, a gestão de resíduos ganhou ainda mais importância com a enorme quantidade de embalagens recicláveis dos itens comprados.
Além dos serviços municipais de coleta e de cooperativas, existem empresas especializadas em fazer projetos e gestão de coleta seletiva, como o Instituto Muda e a startup Minha Coleta, conecta a cadeia de recicláveis do condomínio residencial, rastreando toda jornada e incluindo benefícios para os envolvidos.
"Nesse mundo em busca de sustentabilidade, para quê comprar furadeira se uso só de vez em quando? É a vez da economia compartilhada", justifica Busarello. E nessa esteira, os condomínios oferecem muitas oportunidades de compartilhamento.
ELETRODOMÉSTICOS
A startup Eletrika oferece aluguel de eletrodomésticos portáteis. Os mais procurados são máquina de lavar sofá, aspirador de pó, furadeira, batedeira e parafusadeira. O usuário aluga, utiliza e devolve.
Na pandemia, a Eletrika passou a operar com nano-franqueados sem precisar de investimento. A ideia é gerar uma renda mensal para os parceiros atuarem da sua casa atendendo às demandas de sua região, inclusive o seu próprio condomínio. Eles divulgam, fazem a logística e higienização dos itens após o uso.
LAVANDERIAS
Lavanderias compartilhadas trazem muita praticidade para os condomínios com unidades compactas não é de hoje. OMO Lavanderia compartilhada já está presente em mais de 400 condomínios em 9 estados, oferecendo uma solução completa que simplifica o dia a dia das pessoas, do condomínio e sua administração.
As máquinas possuem tecnologia de dosagem automática na versão profissional, modelo de serviço eficiente que lava e seca em 75 minutos e economizam até 65% de água e energia, quando comparadas às de uso residencial. Pelo app, o morador agenda sua lavagem ou secagem, faz o pagamento e acompanha o andamento do ciclo.
A lavanderia pode ser contemplada em projeto ou ser implantada nos condomínios já existentes, sendo necessário aprovação em assembleia se houver mudança no destino da área em que for instalada. O serviço é compatível com qualquer tipo de empreendimento, dos mais populares aos de alto padrão.
Com a pandemia, o serviço de lavanderia compartilhada foi um dos que permaneceu, principalmente pela necessidade de maior higienização das roupas, devido ao alto potencial de contaminação do novo coronavírus. No caso de OMO Lavanderia compartilhada, o app já trazia a vantagem do agendamento do uso, evitando aglomerações na área.
BICICLETAS
Uma solução de mobilidade é o uso de bicicletas compartilhadas. Empreendimentos da Housi, plataforma de moradia on demand da qual Alexandre Frankel também é CEO, têm parceria com a LEV, de bikes elétricas. A locação é feita pelo app da Housi.
Na visão de Angelica Arbex, a formação de rede de confiança local apareceu com muita força durante a pandemia. O "fique em casa" e a busca pela recomposição da renda familiar fomentaram o comércio local.
"Partiu dos condôminos a indicação, no boca a boca, de pequenos produtores invisíveis: fazedores de pão, entregas de verduras e frutas frescas, doces, bolos, esse grupo do dia a dia que faz o comércio local acontecer. Realmente isso mudou os hábitos de consumo na pandemia", observa a gerente da Lello.
Uma startup que facilitou o comércio de bens e serviços entre os condôminos é a OHTEL! Smart Communities. O recurso "Smart Market" foi incluído na plataforma de gestão condominial estimulando a integração entre os moradores, tornando-a em um hub de pequenos comércios locais com uma importante função social para quem busca complementação de renda.
A Eats for You atua na entrega de marmitas caseiras, conectando donos e donas de casa que cozinham com pessoas que buscam uma refeição saudável nas proximidades, unindo conveniência e incentivo ao comércio local. Em dois anos, mais de 120 mil marmitas foram vendidas e R$ 1,3 milhão em renda formal gerados para os pequenos produtores locais.
Os condôminos encomendam a refeição pelo app, a partir do cardápio dos fornecedores da região, sem custo de delivery, e retiram em um foodbike ou locker instalado no condomínio, que firmou parceria.
O app de condomínio Noknox desenvolveu o botão de emergência, pelo qual é possível ao morador notificar seis tipos de situações: violência doméstica, incêndio, suspeita de ação criminosa, socorro médico, pessoas presas em elevador e vazamento de gás.
Quando acionado o botão de emergência, todos os usuários recebem o alerta com o tipo de emergência e orientações de como proceder em cada uma delas. É o verdadeiro espírito de comunidade e de solidariedade em ação. Em menos de três meses de uso, mais de 100 alertas foram emitidos.
Para quê sair do condomínio se os serviços vêm até o morador? Diversos serviços já eram parte da rotina de quem mora em condomínio, e alguns outros surgiram ou ganharam força com a pandemia.
"Antes nós saíamos do condomínio para ir até as feiras comprar alimentos mais saudáveis, hoje as feiras estão indo para frente do condomínio e até mesmo para dentro, armando suas barraquinhas em espaços na área comum levando produtos frescos até os condôminos", comenta o síndico Fábio Quintanilha, de Florianópolis.
Serviços de beleza, cuidados com roupas e animais de estimação já se reinventaram. "Os profissionais passaram a atender os condôminos em seus apartamentos com agendamento de hora, levando conforto e mais segurança. E esses custos são repassados ao cliente que se mostrou disposto a pagar pela comodidade", diz Quintanilha.
Exemplos são as startups Mania de Passar, de microfranquias de serviço de passar roupa com leva e traz, e a Lilu.pet, que é o uber dos serviços para pet.
Um dos maiores desafios dos síndicos é encontrar fornecedores e prestadores de serviço para realizar manutenções no condomínio.
Uma plataforma que aproxima fornecedores qualificados e especialistas em condomínios é o CoteiBem, que tem ajudado síndicos a atender essas novas demandas e uma necessidade de manutenção predial muito maior, já que os condomínios passaram a ser utilizados praticamente 100% do tempo.
Para a gestão da manutenção dos condomínios existem apps especializados, como o Verat e In Motion CONDOS, que auxiliam síndicos e gestores a manter o calendário de manutenções sempre em dia.
Serviços de manutenção para moradores são oferecidos pelo app Fix, que disponibiliza mais de 15 tipos prestados por profissionais certificados, como marido de aluguel, encanador, eletricista, montador de móveis. Ao solicitar o serviço, o cliente recebe orçamentos para escolher, podendo conferir avaliações de quem já usou.
Para conferir segurança, o condômino acompanha a chegada do prestador em tempo real pelo mapa no app e recebe uma senha única que só o prestador correto tem.
Até para quem vai mudar de apartamento existe uma plataforma de uberização do serviço: MUDZ. O cliente consegue encontrar disponibilidade de serviços desde a embalagem, montagem e desmontagem de móveis, transporte, faxina, chaveiro e outros relacionados à mudança.
Para os condomínios, a MUDZ desenvolveu uma parceria que possibilita a verificação da documentação dos prestadores de serviço antes deles fazerem o serviço ou entrarem no condomínio. Isso pode ser feito após o agendamento da mudança, agregando mais segurança para os clientes e também para o próprio condomínio.
Segundo a gerente de marketing da Lello, Angelica Arbex, o principal cuidado do síndico é avaliar se a inovação chega efetivamente pra resolver um problema real que ele esteja enfrentando no condomínio.
"Inovação boa é aquela que chega para melhorar e tornar mais feliz a vida das pessoas. Dependendo do que está sendo proposto, a assembleia não é necessária, Mas se for algo que mexa efetivamente na rotina das pessoas, aí vale a consulta da comunidade sim", orienta.
Flexibilização é a palavra-chave para os próximos condomínios que serão construídos. A afirmação é de Alexandre Frankel, da Vitacon, e Marcus Anselmo, da Terracotta Ventures e MitHub, comunidade de inovação no setor imobiliário.
De acordo com Anselmo, vai ter sucesso quem trouxer três elementos:
Romeo Busarello aponta o que não deve faltar em um projeto de condomínio para atender às mudanças adiantadas ou trazidas pela pandemia:
E quem tem trazido grandes contribuições para inovação no setor são as condotechs, startups focadas em soluções para condomínios.
"As condotechs têm pensado em muitas soluções que tornam o condomínio mais digital em temas relacionados a acesso, identificação de visitantes e de entregas. Na outra ponta, existe a questão de eliminação total de burocracias e papel, com tecnologias digitais, e a realização de assembleias com uma jornada completa e experiência 100% digital", diz Angelica Arbex.
Ela ainda acrescenta que as empresas de manutenção têm investido muito também em internet das coisas (IoT), para baratear e criar uma lógica muito interessante de manutenção preditiva.
Para Marcus Anselmo, desafio das condotechs, em termos de serviço, é o que viabiliza a entrega do serviço em grande escala, numa experiência fluida, que mude o mercado. "As condotechs ainda estão no começo. Vamos ver muita coisa daqui para frente."
Fontes consultadas: Alexandre Frankel (Vitacon e Housi), Angelica Arbex (Lello), Fábio Quintanilha (síndico), Marcus Anselmo (Terracotta Ventures e MitHub), Romeo Busarello (Tecnisa).