29/04/20 11:41 - Atualizado há 4 anos
Por Taula Armentano*
Como síndica profissional especializada em condomínios-clube, compartilho neste artigo um pouco do que tenho vivido nas últimas semanas com a pandemia mundial de COVID-19 e a recomendação para as pessoas ficarem em suas casas em regime de isolamento social.
O barulho agora é vertical e os problemas, individuais.
Nestes últimos dias, as crianças estão em casa, os pais fazendo home office, muitos moradores sem filhos se incomodam com o barulho da unidade vizinha. Pessoas acostumadas em ambiente de escritórios não sabem ao certo como trabalhar em casa e manter suas atividades funcionando.
Precisam fazer tudo ao mesmo tempo: trabalhar, cuidar dos filhos nas tarefas e brincadeiras, além de cuidar da casa, uma vez que muitos estão sem suas ajudantes do lar. Some-se a tudo isso a preocupação com o dia de amanhã e com a situação financeira que começa a nos assolar.
Opiniões governamentais tão diferentes uma da outra: um sugere ficar em isolamento total, o outro sugere sair para trabalhar para que o mercado financeiro não entre em colapso.
Os nervos estão a flor da pele, a irritação pela mudança de comportamento compulsória se faz presente. O mindset (mentalidade) precisa obrigatoriamente mudar.
Pais e mães se vendo na função de acompanhar as aulas on-line de seus filhos, fazendo um pouco o papel de professores, se reinventando diariamente para manter os filhos ativos mesmo em confinamento. Criar novas rotinas, encarar o desafio de manter corpo e mente ativos, buscar brincadeiras e atividades para distrair a família dentro de casa.
O mesmo vale para os esportistas que não conseguem viver sem atividade física, o corpo acostumado ao movimento, com corrida, musculação, yoga, dança, lutas, passam a reclamar do sedentarismo.
Com a determinação das academias fechadas, ficam sem saber o que fazer, obrigando as empresas de esporte, personal trainers e academias a se reinventar.
Para o síndico, fica a tarefa de abrir canais remotos com grades de aulas para oferecer a seus condôminos uma opção de continuar com suas atividades, ainda que em confinamento.
Muitas empresas que trabalham na assessoria esportiva de condomínios-clube rapidamente se reinventaram, apresentando grades de aulas on-line, com lotação até maior do que as aulas presenciais.
Sem falar nas assembleias. Virtuais, digitais, on-line, remotas, antes um tabu, agora uma necessidade, unindo juristas, legisladores e administradoras que antes “brigavam” por entender ser ou não válida tal ferramenta.
oportunidade de ter mais pessoas presentes nas famosas reuniões de condomínio. Pessoas que antes, pelo dia a dia corrido, deixavam esta importante participação a cargo dos vizinhos, agora podem entrar e ajudar na decisão do bem coletivo.
Síndicos tiveram que se adaptar a fazer reuniões de dentro de casa: com escritório de advocacia, administradora, prestadoras de serviço em geral, condôminos, até mesmo com o grupo gestor.
Acreditem: surpreendentemente as reuniões estão lotadas, as decisões mais objetivas e pensadas de forma menos política e mais voltadas para o bem coletivo.
Toda essa necessidade vem mostrando que bons gestores, ao contrário do que muitos condomínios pensavam, conseguem atuar à distância com tanta qualidade ou até melhor do que se estivessem horas a fio in loco.
Mostra que quem já atuava alinhado com as equipes, como um grande maestro da orquestra, continua trabalhando, operando as necessidades que agora são maiores que nunca.
Como síndica, minha rotina mudou bastante. Com a pandemia, tenho que acompanhar todos os decretos estaduais e municipais (tenho condomínios em municípios diferentes), além das indicações e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Ministério da Saúde e Secretarias da Saúde.
A carga horária de trabalho aumentou drasticamente e de dentro de nossas casas, não sabemos mais se é quarta-feira ou domingo, pois em condomínios, não há descanso!
Os síndicos implantaram salas de crise para discussões em conjunto com as administradoras, advogados, gerentes, líderes e grupo gestor. Cada um tem a oportunidade de mostrar a sua importância para que a engrenagem funcione.
As grandes crises geram, inevitavelmente, um momento de mudança, de se reinventar, de mostrar que podem, sim, existir “ganhos e aprendizados” em meio à calamidade.
Momentos como este estão nos fazendo olhar para o próximo talvez de uma forma que já havíamos esquecido. Então nasce nos condomínios movimentos do bem, de ajuda ao próximo.
Alguns vizinhos, que por se sentirem sós, precisam conversar um pouco. Outros precisam de alguém que ajude com a compra do mercado, remédios, uma comidinha. Tenho visto tanta oportunidade de enxergar o próximo de forma diferente e mais humana, com menos julgamentos e mais empatia.
O momento é delicado e exige razão e emoção, pois a realidade nos obriga a fiscalizar o isolamento obrigatório da unidade, mas, ao mesmo tempo, transmitir acolhimento e solidariedade à família doente.O papel principal do síndico neste momento é acolher a família acometida pela COVID-19 e guardar o condomínio de todo e qualquer risco de contágio.
Quando uma unidade atesta positivo para a COVID-19, ela recebe um guia sobre como acondicionar o lixo, tempo de isolamento, telefones de voluntários que já se prontificaram a ajudar, pois nenhum membro da unidade pode sair nem para acessar o hall até que se cumpra o tempo certo de isolamento.
É em meio a este novo cenário que o síndico atua de forma fundamental para manter a ordem, o bom relacionamento entre vizinhos, atuando muitas vezes como amigo solidário.
figura do síndico a segurança de que seu bem está sendo cuidado da melhor forma.(*) Taula Armentano é advogada, palestrante e síndica profissional especializada em condomínio-clube, pioneira em implantar metodologias e boas práticas do mundo empresarial para condomínios.