08/08/24 07:04 - Atualizado há 3 meses
Em ano de eleição municipal cabe uma comparação entre o trabalho do prefeito de uma cidade e o do síndico de um condomínio. Apesar das responsabilidades e diferenças inerentes a cada cargo, o que se espera dos dois titulares é o compromisso com serviços de qualidade, uma administração eficiente, uma gestão financeira transparente e o cuidado com o bem-estar e a segurança das pessoas.
Para assumir o cargo, prefeito e síndico necessitam conquistar votos numa eleição. Para isso, renovam as esperanças dos seus eleitores. Em muitos condomínios, o primeiro síndico é indicado pela incorporadora ou recomendado por uma comissão de compradores.
Para se reelegerem, prefeito e síndico têm de fazer - e mostrar que fizeram - uma boa gestão e cumpriram compromissos de campanha, fugindo das armadilhas que o poder se encarrega de apresentar no exercício do mandato.
No Brasil, o prefeito tem mandato de quatro anos. Já o síndico pode ser eleito para ficar até dois anos no cargo, mas ambos podem sair antes, uma vez que estão sujeitos a um pedido de impeachment ou à destituição.
Para substituí-lo o prefeito tem um vice, que assume em caso de afastamento temporário ou de vacância do cargo. Já o síndico pode ter um subsíndico, que responde provisoriamente até que um novo titular seja escolhido.
O prefeito é fiscalizado pelos vereadores, com apoio de um tribunal de contas, mas todo cidadão deve exercer esse poder, por pagar tributos e usar os serviços públicos. Já o síndico tem suas despesas examinadas pelos conselheiros do condomínio, sujeitas a auditoria e aprovação em assembleia.
Os condôminos pagam o boleto de condomínio e acionam o síndico para resolver quase tudo, de conflitos entre vizinhos a um vazamento. A cobrança sempre existirá, seja o síndico um morador com alguma isenção ou um profissional remunerado.
Para aprovar seus projetos, o prefeito e síndico enfrentam a oposição, fazem concessões e promessas para conquistar aliados para uma votação na câmara ou numa assembleia. É assim que a política está presente na rotina dos dois, na medida em que política é ouvir, falar, propor acordos e compatibilizar os interesses de uma cidade ou do condomínio.
Como dizia o ex-governador paulista André Franco Montoro: “Ninguém vive na União ou no Estado; as pessoas vivem nos municípios”. E para completar a célebre frase, a maior cidade brasileira, que vive um fenômeno típico do crescimento imobiliário nas grandes cidades, acrescentou um novo ingrediente: os condomínios, que já passam de 28 mil na cidade de São Paulo e que crescerão na proporção de cerca de 800 novos condomínios só em 2024.
Diariamente, prefeito e síndico tentam entendimentos e alianças para dar andamento aos projetos em favor da cidade ou dos condôminos, mas tem limites. O orçamento e a Lei Orgânica do Município, que é a constituição da cidade, balizam a administração do prefeito.
Já o síndico, deve seguir a previsão orçamentária aprovada e respeitar a Convenção do Condomínio. Há outras leis, regras gerais e demandas judiciais que podem alcançar os dois, e o regulamento interno, que se aplica ao condomínio.
O síndico conta com o apoio de uma administradora de condomínio, do zelador ou gerente predial, dos funcionários operacionais (contratados ou terceirizados) e por profissionais e empresas que prestam serviços de manutenção, conservação e consultoria. Na prefeitura, há um time de secretários e outros dirigentes de confiança do prefeito, além de funcionários públicos concursados e empresas contratadas por meio de concorrência pública.
Na prefeitura e no condomínio, é necessário imprimir ritmo para se deixar uma marca. Mas não é fácil mobilizar os servidores públicos a caminharem na mesma direção para atingir as metas e os compromissos que o prefeito firmou com a população.
No condomínio, essa situação também existe, agravada pela influência de conselheiros e condôminos, interferindo no trabalho dos funcionários que atuam nas rotinas de portaria e limpeza, por exemplo.
Muitas vezes, o síndico tem de recorrer à prefeitura para resolver demandas que afetam seus condôminos, como pedir a poda de árvores, tapa-buracos, sinalização de trânsito, combate às enchentes e varrição de rua.
Quando age assim o síndico fala em nome de centenas (às vezes milhares) de pessoas, mas isso não acelera o atendimento do pedido, o que frustra os condôminos e gera o descontentamento deles sobre o trabalho do síndico e do próprio prefeito.
Raramente o prefeito interage com o condomínio, a não ser que more em um. No entanto, é a equipe que o assessora que aprova os projetos de novas construções de empreendimentos imobiliários que, após concluídos, se tornarão condomínios.
Por isso, o olhar atento ao impacto e à complexidade da explosão de novos condomínios exige mais estudos e novas medidas para melhorar a mobilidade (para quem anda a pé, de carro ou de transporte público), a segurança, o lazer e os equipamentos públicos, entre outros desafios.
Cada condomínio é resultado de investimentos e obras de incorporadoras e construtoras que transformaram áreas degradadas ou vazias, fábricas abandonadas e casas de rua demolidas em terrenos para erguer torres residenciais, comerciais ou mistas, estimulando o crescimento e ampliando significativamente a arrecadação do Imposto Predial e Territorial Urbano daquele espaço.
E são os proprietários das unidades privativas, condôminos de apartamentos, casas, salas ou lojas em condomínios, os novos contribuintes que pagam seus carnês de IPTU, gerando mais recursos para a prefeitura.
Esse já seria um bom motivo para que o prefeito tivesse canais específicos para dialogar com os condomínios e demonstrar a aplicação do recurso público, que garante obras e serviços em todo o município, para atender as demandas da população.
Nem sempre o recurso desse imposto será aplicado próximo do condomínio, mas alguma ação da prefeitura (antes ou depois do prédio ser construído) deveria refletir preocupação com o morador do condomínio.
Os problemas da cidade ou do condomínio brotam de todos os lados, às vezes causados por outros agentes, sem que o prefeito ou o síndico tenham controle sobre a solução. Mas isso não importa, os dois têm de se mover e atuar para que os problemas sejam resolvidos, afinal, o cidadão ou o condômino não aceitam desculpas, querem ação.
Prefeito e síndico não podem se esquecer das conversas de bastidores, que podem fazer a diferença.
Sempre é hora de chamar os aliados (e os adversários) para um cafezinho, reservando tempo para ouvir mais do que falar. Quem está no comando da prefeitura ou do condomínio tem de estar aberto para colher comentários, críticas ou sugestões, e deve parar de se justificar usando o antecessor como desculpa.
E por fim, cabe lembrar que uma lombada ou um buraco que surpreende o cidadão ao volante no trânsito da cidade continuarão sendo motivos suficientes para garantir um xingamento em voz alta disparado de dentro do carro contra o prefeito.
E que a mesma situação se repete nocondomínio, onde um elevador em manutenção ou o portão de veículos emperrado rendem ao síndico um comentário igualmente indignado, às vezes ao alcance do seu ouvido.
(*) Roberto Viegas é jornalista, mestre de cerimônias e palestrante especialista em mercado imobiliário e condomínios. Como diretor de Assuntos Corporativos, realizou mais de 200 implantações de condomínio pelo Brasil numa das maiores incorporadoras do País, onde foi responsável pelo relacionamento com clientes, administradoras de condomínio e síndicos. E-mail para contato: robertoviegas1407@gmail.com