quinta-feira, 3 de junho de 2021
Duas pessoas morreram no desabamento de um prédio em Rio das Pedras no feriado de Corpus Christi (3/06). Segundo a Seconserva e a Comlurb, o entulho proveniente de demolições controladas de imóveis próximos ao prédio que desabou foi totalmente recolhido
A Secretaria Municipal de Conservação do Rio de Janeiro (Seconserva) e a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) terminaram na noite de ontem (4/06) de retirar o entulho de dois imóveis que foram demolidos em Rio das Pedras, onde outro prédio desabou e deixou duas pessoas mortas no feriado de Corpus Christi (3/06). Duas mulheres que se feriram no desabamento continuam internadas em hospitais municipais.
Segundo a Seconserva, foram retiradas mais de 300 toneladas de entulho, e o acesso à Rua das Uvas, onde fica o prédio que desabou, foi liberado. Guardas Municipais permaneceram no local na manhã de hoje para orientar pedestres do entorno e encerram o trabalho no fim da manhã, com a liberação das ruas.
A Secretaria de Ordem Pública (Seop) informou que técnicos da Defesa Civil municipal ainda estão na rua atendendo e orientando moradores da comunidade. Três residências continuam interditadas.
Ainda segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Assistência Social atendeu 85 pessoas de 29 famílias e deu suporte aos familiares que precisaram sepultar vítimas da tragédia.
O desabamento do prédio matou Natan Gomes, de 30 anos, e sua filha, uma menina com idade entre 2 e 3 anos. Também se feriu com a tragédia a mulher de Natan, Kiara Abreu, de 27 anos, que foi internada no Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), ela permanece no centro de terapia intensiva (CTI) e seu quadro de saúde é grave e instável.
Outras três pessoas chegaram a ser atendidas no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, por ferimentos causados pelo desmoronamento. Dois tiveram alta no mesmo dia do desastre, e Nataniela Gomes, de 28 anos, é a única que permanece internada na unidade de saúde. Segundo a SMS, o estado dela é estável.
Maior incidência é em bairros da Zona Oeste, onde há atuação de milícias, segundo o serviço de recebimento de ligações e mensagens que possam levar à prisão de criminosos.
O Disque Denúncia recebeu de janeiro deste ano até esta quinta-feira (3) 539 reclamações de obras, construções e loteamentos irregulares e invasões de propriedade na cidade do Rio de Janeiro.
Segundo o serviço de recebimento de ligações e mensagens que possam levar à prisão de criminosos, os bairros com maior incidência de denúncias sobre construções irregulares estão na Zona Oeste. Entre eles, Jacarepaguá, Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz, que sofrem a influência de grupos milicianos.
De acordo com o canal, têm sido frequentes as queixas contra traficantes e milicianos que atuam na exploração imobiliária irregular.
"Moradores são expulsos de suas residências e áreas de conservação ambiental são invadidas, para que loteamentos irregulares sejam construídos de forma irregular e vendidos, sem que haja fiscalização e as licenças necessárias do poder público", afirma o Disque Denúncia.
O desabamento de um prédio irregular matou pai e filha na última madrugada em Rio das Pedras, Zona Oeste. A polícia ainda investiga se havia alguma irregularidade com o prédio e interrogou o homem que seria responsável pela construção - pai e avô das vítimas. Segundo as informações iniciais analisadas pela polícia, a milícia não estava envolvida com a construção do prédio.
Ele disse que comprou terreno há 25 anos e construiu prédio aos poucos, sem qualquer projeto técnico e contratação de profissionais especializados; 15 dias antes da tragédia, vidro de janela estourou sem motivo aparente. Ele é pai e avô dos dois mortos no desabamento.
O proprietário do prédio que desabou nesta quinta-feira (3) em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio deixando dois mortos e quatro feridos, admitiu à polícia que a construção era irregular e revelou que vidro de janela estourou 15 dias antes, sem motivo aparente. Genivan Gomes Macedo é pai de Nathan Gomes e avô de Maitê, que morreram sob os escombros do imóvel.
O G1 obteve o Termo de Declaração do depoimento prestado, ainda na quinta-feira, por Genivan à 16ª Delegacia (Barra da Tijuca). Segundo a polícia, ele procurou a unidade policial voluntariamente, ou seja, sem ter sido intimado, para prestar esclarecimentos sobre a obra de construção do imóvel.
À polícia, ele contou que "comprou o terreno há mais ou menos 25 anos, na década de 90", quando nele havia apenas "um barraco de madeira". A construção do prédio de cinco pavimentos foi feita, segundo Genivan, aos poucos, "conforme ia conseguindo pagar pela construção".
Toda a construção teria sido paga com recursos próprios e contratação de pedreiros, segundo Genivan. Indagado pelos policiais, ele afirmou "que nunca foi feita uma planta do imóvel ou contratado profissionais especializados". Também disse que não possui escritura do imóvel, apenas o documento de posse dele.
Ele enfatizou, ainda, que construiu o prédio "apenas para que seus familiares tivessem onde morar, sem nunca ter alugado qualquer pavimento para terceiros.
No andar térreo do prédio funcionava uma lan house, que era administrada por um dos filhos de Genivan, o Nathan, morto no desabamento junto à filha Maitê. Eles moravam no primeiro andar juntamente com Maria Quiaria - mulher de Nathan e mãe de Maitê - que foi a última pessoa resgatada com vida após cerca de seis horas soterrada sob os escombros.
Vidro de janela estourou 15 dias antes do desabamento
Ainda conforme o depoimento prestado à polícia, Genivan disse que no segundo andar do prédio, "que estava apenas no tijolo, sem acabamento", não morava ninguém, nem passava por obras. Já no terceiro andar morava sua filha Nathaniela Gomes e o marido, Jonas Souza, ambos resgatados com vida após a tragédia. Ele destacou que, 15 dias antes do desabamento, a filha contou que o vidro de uma das janelas estourou sem motivo aparente.
"Que há 15 dias sua filha Nathaniela informou que o vidro de uma janela, do terceiro andar, havia estourado. Que achou que alguém havia jogado uma pedra", destaca trecho do depoimento.
Nathaniela segue internada no Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Ela sofreu queimaduras graves em uma das pernas provocadas pelo incêndio que ocorreu após o desabamento do prédio.
Já no quarto andar do prédio moravam a ex-mulher de Genivan, Antônia Gomes, e a filha dela, Tatiana Souza, fruto de outro relacionamento. Genivan ressaltou à polícia que não vivia no imóvel há cerca de quatro anos, quando se separou de Antônia.
Antônia escapou do desabamento porque dormiu no trabalho na noite de quarta-feira (2).
Questionado, Genivan disse que estudou apenas até o terceiro ano do ensino fundamental, pois precisou parar os estudos para trabalhar e ajudar no sustento da família no Ceará, onde nasceu. Ele se mudou para o Rio aos 18 anos de idade e, desde então, "trabalhou como vigia de obra, vendedor de hambúrguer, vendedor de água, até que, aproximadamente, três anos atrás, conseguiu comprar um mercadinho".
O mercado, contou Genivan, foi vendido recentemente porque ele tinha planos de voltar a viver no Ceará. Ele destacou aos policiais que a tragédia o deixou "extremamente abalado com todo o ocorrido, tendo perdido seu filho e sua neta".
Os trabalhos para retirada dos escombros do prédio que desabou foram retomados por volta das 9h desta sexta-feira (4). Cerca de 60 pessoas estão envolvidas, sendo que 25 delas, funcionárias da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) e da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (Seconserva), lidam diretamente com a coleta do entulho.
Ainda na quinta-feira foram retirados 3 caminhões de entulho do local. Nesta sexta-feira, uma retroescavadeira, uma escavadeira hidráulica e três caminhões são usados nos trabalhos.
A prefeitura destacou que seis técnicos da Defesa Civil estão acompanhando os moradores dos prédios interditados a entrar em casa e pegar alguns pertences.
Morte de criança foi confirmada por volta das 10h20 pelo comandante do Corpo de Bombeiros, após mais de 7 horas de buscas; pai foi localizado duas horas depois. Quatro pessoas foram resgatadas com vida.
Pai e filha morreram no desabamento de um prédio de quatro andares em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, na madrugada desta quinta-feira (3). Outras quatro pessoas ficaram feridas, entre elas a mãe da criança morta.
Os mortos são Natan Gomes, que tem cerca de 30 anos, e sua filha Maitê, de aproximadamente 3 anos de idade. Eles são marido e filha de Kiara Abreu, última vítima resgatada com vida e levada para o Hospital Miguel Couto, na Zona Sul do Rio.
Os três eram os últimos soterrados, mas os bombeiros seguiram no local após a retirada dos corpos de pai e filha.
Quem são as vítimas resgatadas com vida:
Nataniela de Souza Gomes - 28 anos
Antônia Tatiana Conrado de Souza - 38 anos
Jonas Rodrigues de Souza - 29 anos
Kiara Abreu, 27 anos
A morte de Natan foi confirmada por volta do meio-dia, após cerca de nove horas de buscas e duas horas depois de confirmada a morte da criança, cujo corpo foi retirado dos escombros por volta das 10h20.
O prédio que desabou fica na Rua das Uvas, esquina com Avenida Areinhas. Ruas no entorno foram interditadas para os trabalhos de resgate.
No primeiro andar do prédio funcionava uma lan house, que seria administrada por Natan. Ele morava com a mulher e a filha em um pavimento superior. Ainda não há informação se as outras três vítimas que foram resgatadas com vida pertenciam à mesma família.
De acordo com a Prefeitura, oito famílias foram afetadas pelo desabamento e estão recebendo apoio do governo municipal.
"São oito núcleos familiares: três no predinho, e mais cinco famílias nos prédios em frente, que foram afetadas diretamente pelo desabamento", afirmou Laura Carneiro, secretária de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro.
"Todas estão cadastradas, o Estado ofereceu aluguel social, muitas delas têm onde ficar. Eles estão recebendo colchonete, cestas básicas e alimentação. Nosso posto avançado ficará aberto 48h no salão de festa da comunidade em revezamento de servidores para atender às famílias."
Prédio de 4 andares desabou por volta das 3h20;
Testemunhas disseram que estalos da estrutura começaram por volta das 2h;
Após o desabamento, houve um incêndio, que foi controlado;
Menina de aproximadamente 3 anos foi encontrada morta;
Corpo de Natan, pai da criança, foi retirado dos escombros após 9 horas de buscas;
Quatro pessoas foram socorridas com vida e levadas ao hospital;
Quarta pessoa a ser resgatada viva passou 6h sob os escombros;
Defesa Civil avalia danos em quatro imóveis vizinhos ao que desabou.
Três vítimas foram resgatadas ainda na madrugada. Uma quarta vítima foi retirada dos escombros por volta das 9h20, seis horas após o desabamento.
Inicialmente, o Corpo de Bombeiros havia falado em 12 pessoas resgatadas. A informação foi atualizada no começo da manhã pelo comandante da corporação, coronel Leandro Monteiro, que confirmou o resgate de apenas três vítimas na madrugada. Na ocasião, ele também afirmou que pelo menos outras três estariam sob escombros aguardando o resgate.
"O que posso afirmar é que estamos em contato direto com uma vítima feminina. O local é de difícil acesso, de risco para os bombeiros - eles estão trabalhando sob os escombros e equipados com equipamento de segurança individual. É um trabalho de muita calma, muita paciência, nossos cães estão nos ajudando bastante" afirmou o comandante.
Segundo o coronel, seis ambulâncias foram enviadas ao local e uma aeronave da corporação ficou de prontidão nas imediações. Ao todo, 112 bombeiros foram envolvidos nos trabalhos de busca e resgate.
"A maior dificuldade é conscientizar os moradores dos prédios vizinhos a deixarem suas casas e seguirem para um local seguro", enfatizou.
A Defesa Civil foi ao local, e os técnicos avaliam os danos que foram causados em outros quatro imóveis, vizinhos ao que desabou - um ao lado direito e três em frente.
Equipes de três quartéis do Corpo de Bombeiros - Barra da Tijuca, Alto da Boa Vista e Jacarepaguá - trabalharam no local à procura de vítimas. Equipes da Assistência Social, Defesa Civil e Guarda Municipal também foram deslocados para a região.
Moradores de imóveis vizinhos disseram que começaram a ouvir estalos por volta de 2h e o imóvel ruiu por volta de 3h20. Também relataram que, após o desabamento, houve um incêndio no local. O fogo foi controlado pelos bombeiros.
"Eu pensei que era o transformador que tinha estourado, mas não. Depois que todo mundo desceu chorando e gritando, aí a gente veio pra rua e viu que o prédio desabou", contou uma moradora da região que se identificou como Luciana.
Região de imóveis irregulares
Até as 8h40, não havia confirmação se o prédio havia sido construído de forma regular. Todavia, a subprefeitura de Jacarepaguá, Talita Galhardo, disse que, possivelmente, a construção era irregular.
"Eu não vou afirmar isso agora, mas é muito provável que não estivesse [regular] mesmo. Porque todas as construções do entorno, inclusive as que estão correndo risco, tem muitas que não têm nenhum tipo de licença, não tem nada", disse a subprefeita.
De acordo com a prefeitura, 75% dos imóveis irregulares demolidos na cidade entre 2019 e 2020 ficavam na Zona Oeste.
A região de Rio das Pedras é controlada pela milícia o que, segundo o Conselho Regional de Engenharia (Crea-RJ), dificulta a fiscalização.
Em 2019, um prédio que construído por milicianos desabou na Muzema, a cerca de 3 km do local, matando 21 pessoas.
Rio das Pedras é considerado o berço da milícia no país. A região habitada em sua maioria por retirantes nordestinos, ainda nos anos de 1960, se protegeu como pode dos avanços das facções de narcotraficantes que se começaram a dominar territórios duas décadas mais tarde.
A região resistiu a guerras sangrentas e viu surgir a falsa proteção de grupos paramilitares que prometiam a tranquilidade que moradores não teriam em favelas onde drogas eram vendidas.
Um dos fundadores da milícia na região foi o inspetor de polícia Félix Tostes. Tostes foi morto em 2007 com mais de 30 tiros. Na época, quem assumiu o comando da miliciana região foi o vereador Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras, que foi acusado pelo morte de Félix. Nadinho foi assassinado dois anos depois.
Há 2 anos, 24 mortos em desabamento de prédios irregulares
Em abril de 2019, 24 pessoas morreram no desabamento de dois prédios na Muzema, bairro vizinho ao Rio das Pedras, que haviam sido construídos de forma irregular, supostamente por milicianos que atuam na região.
Três homens que haviam sido presos acusados como responsáveis pela tragédia foram soltos pelo Tribunal de Justiça no mês passado. A decisão foi assinada pela juíza Simone de Faria Ferraz, que considerou haver 'excesso de prazo na custódia' do trio e determinou que eles aguardem o julgamento em liberdade.
Os três réus são José Bezerra de Lira, Rafael Gomes da Costa e Renato Siqueira Ribeiro. A juíza determinou que eles informem, mensalmente, seus paradeiros à Justiça. Eles também não poderão ter contato com nenhuma das testemunhas do processo.
As investigações apontaram que os três têm envolvimento com milícias. José Bezerra de Lira, conhecido como Zé do Rolo, foi apontado pelos investigadores como o líder do grupo responsável por vender apartamentos nos prédios que caíram.
Zé do Rolo foi preso em setembro de 2019 após ser encontrado no Sertão de Pernambuco, em um sítio na região de Afogados da Ingazeira, no Alto Pajeú.
Prefeito diz que não teme milícias após mais uma tragédia em comunidade no Rio
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), visitou na manhã desta quinta-feira (03) a comunidade de Rio das Pedras, na zona oeste, onde um prédio irregular de quatro andares desabou e matou uma bebê de dois anos - o pai dela continua desaparecido.
“Primeiro a gente está deixando uma mensagem clara nos últimos meses que acabou essa história de tanta construção irregular. Diariamente a imprensa mostra operações da prefeitura combatendo isso. Mas essa é a realidade da cidade. Não dá pra retirar todas as casas de todas as comunidades do Rio. O que tem que ver são as áreas de mais risco e produzir melhorias habitacionais”, disse o prefeito.
https://g1.globo.com/, https://www.band.uol.com.br/ e https://www.correiobraziliense.com.br.