Moradores querem ação judicial contra traçado de monotrilho no ABC
Condôminos de prédios do ABC são contra trajeto do projeto da Linha -18.Estação Baeta Neves, em SBC, pode ocupar espaço de condomínio.
Moradores de pelo menos três condomínios de alto padrão do Centro de São Bernardo do Campo, no ABC, vão enviar um pedido de representação ao Ministério Público, nos próximos dez dias, para que o órgão proponha uma ação civil pública à Justiça contra o traçado da Linha 18 do monotrilho, que vai ligar a região do ABC com a capital paulista.
De acordo com moradores do condomínio Domo Home, o projeto funcional, que posteriormente define as diretrizes do projeto básico, mostra que o monotrilho passará pelo canteiro central da Avenida Aldino Pinotti, via onde estão localizadas seis torres que abrigam cerca de 2.300 pessoas.
Além da construção da linha aérea na via central, está prevista também a construção da futura estação Baeta Neves. O projeto executivo só será apresentado pela empresa privada que vencer o processo de licitação.
“Nós já estamos preparando toda a redação do documento e, junto aos síndicos dos outros condomínios e moradores, vamos propor ao Ministério Público uma ação”, afirmou o analista de sistemas Felipe Nyitry, de anos 30, que faz parte da associação de moradores São Bernardo Melhor. “A nossa sugestão para o Metrô é levar o monotrilho para outra avenida, que é a Pereira Barreto”, afirma ele, já que a outra via é mais movimentada atenderia um número maior de passageiros.
Outros dois condomínios de alto padrão, o Domo Prime e Domo Business, que estão instalados no outro lado da avenida, também registram reclamações dos proprietários.
Com apartamentos avaliados em mais de R$ 1 milhão cada, os moradores dos condomínios lutam contra o traçado do projeto original e entre as justificativas alegam desvalorização dos imóveis, falta de privacidade e de segurança gerada com o aumento do fluxo de pessoas, fim da tranqüilidade do local, prejuízo com a desapropriação de parte do terreno, ruídos gerados pela passagem do modal, além de custos altos na execução das obras na via que possui galerias subterrâneas.
Uma comissária de bordo de 38 anos, que preferiu não se identificar, e mora há 2 anos no condomínio Domo Home, diz que é totalmente contra a construção do modal. “A informação que nós tínhamos quando compramos o apartamento é que seria uma rua ampla, porém ninguém tinha informado nada a respeito do monotrilho. O prédio vai desvalorizar, primeiro mexe com o bolso”, reclama. Segundo ela, quando comprou seu apartamento também pagou pelo ambiente que teria a região com vias largas e arborizadas.
A professora Adriana Malvesi, 44 anos, moradora há 8 meses de uma das torres, também disse se sentir lesada com a situação. “É uma desvalorização muito grande do nosso patrimônio até mesmo porque toda essa parte vai ter que ser desativada [desapropriada]. Até porque quando foi construído, nós acreditamos que tanto a prefeitura quanto a construtora já sabiam desse monotrilho”, diz ela.
“Não vou mais deixar meu filho sair na rua, porque é todo tipo de gente que vai entrar e vai sair. O movimento daqui vai aumentar, a segurança que a gente tem vai acabar”, teme a moradora, que ressaltou que a paisagem ficará feia com os trilhos no meio da avenida.
Além da questão estética, existe outro tipo de preocupação, já que uma parte da estação Baeta Neves deve ocupar a área da atual rampa que dá acesso a entrada de veículos de um condomínio. Com isso, os carros deverão sair e entrar por um único portão, dificultando o acesso dos condôminos.
“Não somos contra o monotrilho, mas temos a possibilidade que passe por outro local sem ter a necessidade de comprometer o condomínio. É uma depreciação verticalizada em todos nossos investimentos”, reclamou o aposentado Gilberto Rodrigo Pastor, de 63 anos. Como alternativa à possível invasão de privacidade dos moradores, o governo do estado anunciou que deve adotar o envelopamento da via para impedir a visualização dos usuários do monotrilho.
De acordo com a síndica Cristiane de oliveira, 40 anos, responsável por um dos condomínios, a futura construção do monotrilho já gera impactos financeiros negativos, pois interessados em adquirir imóveis no local relataram o receio de comprar o apartamento.
Envelopamento
A cobertura que esconde o monotrilho e afasta os olhares dos condomínios de luxo é conhecida como envelopamento. Uma das maneiras possíveis é a mudança da cor do vidros do trem através de um circuito elétrico.
A tonalidade muda após o manobrista acionar um botão quando o trem estiver se aproximando dos condomínios fazendo que as imagens sejam refletidas como um espelho e quem está dentro do vagão não consiga visualizar as imagens externas. Outra opção seria a instalação de uma barreira metálica ou plástica no local.
Outra estação do monotrilho na região do Panamby da linha 17- Ouro deve passar pelo mesmo processo, mas os detalhes também não foram definidos. Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Transportes Metropolitanos disse que o traçado definitivo e a localização das estações da Linha 18 só serão definidos na proposta do consórcio vencedor do edital da parceria público-privada (PPP).
Linha 18
O contrato das obras da linha de monotrilho que vai ligar São Paulo a São Bernardo do Campo, no ABC, deve ser assinado em dezembro e a previsão é que a operação comece em 2016, segundo planejamento apresentado nesta quinta-feira (4) pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). O cronograma foi apresentado junto com o anúncio da abertura do prazo de 30 dias para consulta pública do edital da Linha 18-Bronze.
A linha será construída em parceria público-privada (PPP), sob a responsabilidade do Metrô. O monotrilho vai ligar as estações Tamanduateí, na Zona Leste da capital paulista, e Djalma Dutra, em São Bernardo.
Com 13 estações, a linha terá 14,9 km de extensão operacional (de um total de 15,7 km) e deverá custar R$ 3,5 bilhões. Deste total, R$ 1,276 bilhão é de recurso estadual, R$ 400 milhões da União e o restante - R$ 1,861 bilhão ou 53% do total - virá da iniciativa privada.
Fonte: http://g1.globo.com/