Discriminação em condomínio
Vizinhos soltaram comentários racistas e agrediram jovem
Universitária é agredida por grupo de vizinhos em Manaus após ouvir comentários racistas: 'Essa negra tem que morrer', escutou
Vítima denunciou que vizinhos estavam reunidos em festa na casa de coronel do Corpo de Bombeiros quando começaram a insultá-la. Síndico, porteiro e mãe da vítima também foram agredidos ao tentar ajudar jovem
A universitária Dayse Brilhante, de 22 anos, foi agredida com socos, pontapés e puxões de cabelo enquanto passeava com o cachorro no condomínio onde mora, no bairro Parque Dez, Zona Centro-Sul de Manaus, na madrugada de quinta-feira (25). A jovem denunciou que foi agredida por vizinhos embriagados, que faziam uma festa no local, e que foi vítima de comentários racistas antes e durante as agressões.
Conforme boletim de ocorrência registrado por ela no mesmo dia, no 23º Distrito Integrado de Polícia (DIP), ao passar pela frente da casa de um coronel do Corpo de Bombeiros, onde acontecia uma festa, ela notou que estava sendo filmada por mulheres de dentro da residência, supostamente alcoolizadas.
Segundo a universitária, comentários de teor racista foram direcionados a ela, como “essa negra não deveria estar passando por aqui” e "preta". Dayse relatou ao G1 que se aproximou do local e perguntou os motivos de estar sendo filmada e xingada, mas não foi respondida. A jovem seguiu em direção à casa onde mora, mas, após poucos passos, foi surpreendida com agressões feitas pela esposa do coronel.
"É algo que parece que já não existe. Nunca pensei que alguém pudesse se motivar a agredir outra pessoa simplesmente pela cor da pele. Só estava passeando com o meu cachorro. Não teve explicação o que eles fizeram comigo", contou Dayse.
De acordo com o boletim de ocorrência, o celular de Dayse foi quebrado por um dos agressores. As câmeras de segurança do local mostram a jovem pedindo socorro e tentando fugir das agressões.
Outras pessoas se aproximaram e também começaram a agredir Dayse, que foi até a portaria em busca de proteção. De acordo com ela, o segurança do condomínio tentou ajudar, mas também foi agredido. O síndico do condomínio e a mãe de Dayse tentaram socorrer a jovem e também foram agredidos pelo grupo de vizinhos.
Segundo a família da vítima, nos últimos dias, a jovem só consegue dormir com a ajuda de remédios, pois desenvolveu um trauma emocional diante da situação. Ela ainda sonha que está sendo agredida e acorda assustada, conforme relatos.
A mãe de Dayse, Letícia Brilhante, que também foi agredida ao tentar defender a filha, disse que questionou os vizinhos sobre o motivo das agressões estarem acontecendo contra a filha e os ouviu respondendo que "essa negra tem que morrer". Ela diz que espera que a justiça seja feita.
"Como mãe, o que eu peço é justiça. A gente não consegue voltar no tempo e apagar o que aconteceu. Essas marcas vão ficar com ela para a vida toda. Esse tipo de comportamento deve ser punido. É preciso de um basta", disse.
O advogado da família, Josemar Berçot, disse que quatro agressores foram parcialmente identificados e devem ser intimados para prestar depoimento. Conforme Berçot, eles podem responder pelos crimes de injúria, injúria racial e lesão corporal.
A União dos Negros (Unegro) se posicionou com total repúdio em relação ao fato, e lamentou o acontecido. O Delegado Henrique Brasil, titular do 23º Distrito Integrado de Polícia (DIP), informou, por meio de nota, que foram registrados dois boletins de ocorrência, um no 23º DIP e outro no 13º DIP, respectivamente. Nos dois, segundo o delegado, foram expedidas solicitações de corpo de delito e será instaurado inquérito policial para a elucidação da ocorrência.
Ainda conforme a nota, atendimentos iniciais estão ocorrendo no 23º DIP, porém, já que uma das partes da investigação se trata de servidores do sistema de segurança pública estadual, o procedimento deverá ser remetido a Unidade de Apuração de Ilícitos Penais (UAIP).
Em entrevista à Rede Amazônica, o delegado informou que os vizinhos também registraram um boletim de ocorrência contra Dayse. "As duas partes estão conflitantes, umas dizem que foi perpetrada por uma parte, e a outra diz que foi a outra parte que fez isso", disse. A reportagem tentou entrar em contato com o marido de uma das mulheres suspeitas das agressões, mas não foi atendida.
Fonte: https://g1.globo.com/