Campanhas beneficentes em condomínios: faça no seu também
Síndicos contam como engajam moradores em campanhas beneficentes que podem, além de ajudar quem precisa, também melhorar a convivência entre vizinhos
A pandemia e seus reflexos desastrosos na população podem ter o poder de aflorar nosso lado mais humano. Logo a solidariedade aparece também, e esse sentimento compartilhado dentro dos condomínios pode se transformar em campanhas beneficentes de sucesso.
O síndico, como grande líder da massa condominial, pode mobilizar os moradores em prol de uma causa maior e colaborar muito para ajudar quem precisa.
No entanto, a maior dificuldade que ele enfrenta é justamente tirar um projeto social do papel. Quando isso acontece, os benefícios são enormes tanto para quem recebe a ajuda quanto para melhorar a convivência entre os vizinhos.
Nesta matéria, você vai encontrar um passo a passo de como conduzir uma ação social dentro do seu condomínio e ter exemplos práticos de síndicos que colocaram a mão na massa, para se espelhar, e ver que sim, é possível fazer isso virar realidade.
Passo a passo para realizar campanhas beneficentes de sucesso no seu condomínio
- Defina um propósito claro e quem será beneficiado pela sua ação
- Estabeleça uma meta para a arrecadação, prazo para recebimento das doações e o local onde devem ser depositadas
- Divulgação: capriche no aspecto visual e utilize cartazes como este para estimular os moradores a aderir às campanhas beneficentes
- Compartilhe os resultados: dê um feedback aos seus moradores com o balanço das campanhas beneficentes, fotos da entrega e depoimento da instituição beneficiada.
Confira o relatos de alguns síndicos sobre as campanhas beneficentes em seus condomínios
Sylvio Levy - 500 marmitas/semana para Paraisópolis, em SP
Logo no início da pandemia, o condomínio do síndico profissional Sylvio Levy decidiu unir atividades de lazer gratuitas (e sem aglomeração), como a "Balada na Sacada" e a "Música na Janela", com ações para arrecadar roupas e alimentos.
A campanha das "Marmitas do Amor", criada por uma comissão formada no condomínio, acabou gerando enorme sucesso entre os moradores do prédio. "Meu papel sempre foi fazer um 'meio de campo' e estimular os condôminos. No final, a minha torre foi a que teve uma maior adesão", conta.
Hoje, o projeto faz a distribuição de 500 marmitas por semana para moradores de Paraisópolis, bairro da periferia de São Paulo, e também se estendeu para funcionários do próprio condomínio.
"Com o tempo, percebemos que muitas pessoas próximas estavam passando por dificuldades durante a pandemia", afirma Sylvio.
Levi relata que a logística adotada pelo condomínio colaborou muito para manter as pessoas ativas, se ajudando constantemente.
"Nós temos um método de rodízio entre as torres que estimula a participação. Quando chega a vez do meu prédio contribuir, as pessoas já estão ansiosas para voltar a participar".
Segundo ele, há um grupo no WhatsApp sendo usado para a organização das "Marmitas do Amor" e foi assim que o síndico percebeu uma melhora nas relações entre os condôminos. "Há uma maior interação entre eles e eu realmente sinto que todos estão unidos em prol dessa causa, tanto para ajudar financeiramente quanto na parte de entrega dos alimentos".
Para Sylvio, o trabalho voluntário já é algo presente no seu dia a dia e isso o faz se sentir "mais completo".
Alexandre Prandini - Arrecadação destinada à CUFA
"Foi uma demanda dos moradores", conta o síndico profissional Alexandre Prandini sobre a campanha de arrecadação que hoje está sendo organizada no seu prédio em parceria com a CUFA (Central Única das Favelas).
A organização, a logística e o suporte da CUFA pesaram na hora da escolha da instituição e Prandini destaca a importância desse aspecto.
"A CUFA separa, faz um cadastro, monta uma cesta e vai entregar na porta da pessoa: é uma logística de entrega direta. Os organizadores estão dentro das comunidades, sabem quem precisa mais, então entregam diretamente para quem está precisando. "
Para ele, poder contar com a ajuda dos condôminos e unir as ações em prol de uma boa causa é um enorme potencial que um síndico tem nas mãos. "Quando você tem a possibilidade de viabilizar a ajuda ao próximo, isso vira uma obrigação", argumenta.
Dentro do seu condomínio são organizadas várias ações sociais, como doação de sangue, coleta seletiva e "Adote uma Criança", voltada à entrega de presentes. Através destas campanhas, Prandini enxerga a mudança nas relações entre as pessoas em um ambiente de coletividade.
"A ferramenta mais poderosa que eu já encontrei foi criar o engajamento social de ajuda ao próximo, com reflexo imediato no grupo. A pessoa que ajudou se sente um agente solucionador do todo e perde o sentimento de atrito."
Larissa Lacerda - 150 cestas básicas, via campanha no Instagram, para comunidades de Osasco
Transformar um ato individual em uma ação coletiva foi o que a síndica profissional Larissa Lacerda realizou. Através de uma reportagem da TV, ela soube de várias pessoas que estavam passando fome na cidade onde vive - Osasco, em São Paulo - e decidiu tomar uma iniciativa.
"Publiquei um stories no meu Instagram dizendo que a situação dessas pessoas estava ainda mais fragilizada, por isso, eu compraria uma certa quantidade de cestas básicas para ajudá-las. Quem pudesse contribuir poderia fazer a compra direto com a empresa ou realizar um depósito, que eu mesma faria a encomenda."
Foi aí que Larissa teve uma "feliz surpresa": amigos, condôminos e até escritórios jurídicos começaram a se mobilizar em prol da causa.
"Juntos conseguimos arrecadar 153 cestas básicas em três dias. A intenção inicial seria arrecadar 50 cestas, e essa quantidade eu consegui em duas horas após o início da campanha."
As cestas foram destinadas a duas ONGs: 50 para o Instituto Eclésia Movement e 80 para o CEDECA Osasco, que atendem famílias e crianças no Jardim Munhoz Júnior. O restante foi distribuído por conta própria.
"Mais gratificante que conseguir essas arrecadações foi poder olhar no olho de cada membro das famílias beneficiadas e saber que juntos fomos responsáveis por tranquilizá-los, pelo menos por alguns dias, com comida na mesa", relata.
Anna Maria Cáfaro- Parceria de 6 anos com as Casas André Luiz
Anna Maria Cáfaro foi criada numa família em que ações sociais sempre foram importantes e, de maneira natural, manteve isso quando se tornou síndica.
Desde 2015, o seu condomínio auxilia as Casas André Luiz, instituição que atende pessoas com deficiência e dificuldades financeiras.
A parceria já rendeu diversas iniciativas:
- "Operação Cata-bagulho" para a doação de vestuários, eletroeletrônicos e eletrodomésticos;
- "Arroz, Feijão e Leite" durante a pandemia, arrecadou 50 kg de alimentos;
- "Contêiner de Roupas": recolhe, todos os meses, de 80 a 100 peças.
Por ser síndica moradora, Anna vê uma certa facilidade em manter as pessoas ativas e também por lidar, na maioria das vezes, com pessoas jovens, segundo ela, com "mente muito aberta tanto para a solidariedade quanto para a sustentabilidade."
- [DOWNLOAD] Solidariedade na pandemia: ajude vizinhos do grupo de risco
A síndica estimula os moradores a fazerem as doações através de comunicados e outros aspectos visuais no elevador.
"Eu comprei vários ímãs e faço um verdadeiro carnaval na cabine. Chama bastante a atenção e eu acho que ajuda muito. Todo mundo se estimula com o impacto visual."
Anna argumenta que é essencial fazer todas as ações constarem nas atas do condomínio para a sua continuidade e ainda conta que os condôminos adoram esse tipo de iniciativa. Para ela, realizar ações sociais dentro de condomínios é uma obrigação de todos os síndicos. "Temos várias responsabilidades, mas somos cidadãos também", diz.
"Além de outras questões que devem ser resolvidas através do voto - em relação à educação, habitação e saúde -, ainda temos muito a fazer para ajudar quem está próximo. Vivemos em um país com tanta má distribuição de renda, com um abismo social enorme. Não tem como não arregaçar as mangas para diminuir essa distância."
Christiane Romão - Doação de sangue nos condomínios em Salvador/BA
Christiane Romão é gestora predial em Salvador, na Bahia, e, como forma de humanizar as relações em seus condomínios, promoveu programas de vacinação contra a gripe e o sarampo, além de campanhas de doação de sangue.
Ela afirma que tanto a organização da logística quanto o estímulo para que as pessoas participem da ação são extremamente importantes. Oferecer mesas de doces e também café da manhã para a alimentação após o procedimento pode funcionar como incentivo.
"Utilizei o próprio salão de festas do prédio, criando um clima bem acolhedor desde a entrada: com balões formando um coração ou decoração de acordo com a ação planejada."
Em contextos pandêmicos, escolher uma instituição parceira que já possui práticas internas de condomínios e criar um agendamento para evitar aglomerações é essencial e uma preocupação sempre presente nas ações.
Christiane conta que realizar esses eventos não apenas repercute positivamente entre os condôminos e funcionários, como também inspira outros condomínios a fazerem o mesmo.
"Eu penso que ser um bom líder é inspirar as pessoas ao seu redor. E, quando há um interesse do gestor em desenvolver o bem-estar coletivo, a comunidade responde à altura."
Christiane também já colocou em prática chá de fraldas para os funcionários, campanhas de alimentos para abrigos, eventos com aniversariantes do mês e ações ligadas à saúde voltadas tanto para os moradores quanto para os próprios trabalhadores do prédio.
Debora Ravani - Arrecadação quinzenal para a ONG UNAS Heliópolis, SP
A síndica profissional Debora Ravani sempre promove ações sociais em parceria com várias instituições dentro do seu condomínio: com as Casas André Luiz, com o Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) e também com a ONG UNAS Heliópolis.
Ela realiza desde arrecadações de roupas e alimentos até de bijuterias para a confecção dos "kits de amor", que são entregues ao CMEC.
Debora conta que lida com vários perfis de moradores, até mesmo com os que não se animam a contribuir, mas isso nunca tira a sua esperança.
Ela sempre utiliza a publicidade e a tecnologia a seu favor: no WhatsApp, envia lembretes e compartilha as doações já recebidas. Durante o isolamento, criou formas de ajudar os condôminos a realizarem as doações de maneira on-line.
"Por conta da pandemia, muitos não querem se expor em supermercados. Então divulgo site de fornecedores de cesta básica, onde os condôminos podem comprar online e receber no condomínio."
Para Debora, estimular ações que promovem a humanização da sua gestão reflete diretamente na vida condominial e na sua própria visão sobre si mesma. Ela diz que se sente grata por seu trabalho estar espalhando amor, solidariedade e empatia dentro e fora dos edifícios.
"Os moradores passam a perceber que um condomínio não se trata só de deliberações de assembleias ou de áreas compartilhadas e mantidas por todos: também é um espaço onde é possível implantar e estimular o bem ao outro."
SíndicoNet e Exército de Salvação: parceria viabiliza campanhas em condomínios
Pelo terceiro ano consecutivo, a parceria do SíndicoNet com o Exército de Salvação segue ainda mais forte. Os condomínios de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba podem se cadastrar para receber as "Caixas do Bem" gratuitamente e iniciar as doações junto aos moradores.
Dependendo da campanha (Inverno, Dia das Crianças ou Natal), são arrecadadas roupas, calçados, brinquedos, cobertores etc.
Os itens são recolhidos pelo caminhão do Exército e encaminhados para os projetos sociais mantidos pela instituição e também para um bazar, cujo valor obtido com as vendas é revertido em outras ações sociais.
Para o seu condomínio participar, é muito simples e rápido. Acesse a página do Exército de Salvação no SíndicoNet e faça seu cadastro.
Fundada em 1865, a organização internacional está presente em mais de 130 países e atua no Brasil desde 1922, assistindo pessoas em situação de vulnerabilidade, promovendo projetos educacionais, programas de capacitação profissional, lares para idosos, entre outros.
Quero fazer uma campanha no meu condomínio. Qual organização ajudar? Confira
- CUFA (Central Única das Favelas)
Site: https://www.cufa.org.br/
Telefone e e-mail (de acordo com a sua região): http://cufa.org.br/faleconosco.php
- Instituto Eclésia Movement
Site: https://www.facebook.com/Instituto.Eclesia/
Telefone: (11) 97375-2882 ou (11) 99705-2135
E-mail: iem@institutoeclesia.org.br
- CEDECA Osasco
Site: https://www.facebook.com/cedecaosasco
Telefone: (11) 97803-6396
- Casas André Luiz
Site: http://casasandreluiz.org.br/
Telefone: (11) 2457-7733
E-mail: faleconosco@casasandreluiz.org.br
- Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC)
Site: https://cmecmulher.com.br/
Telefone: (11) 3180-3737
E-mail: contato@cmecmulher.com.br
- ONG UNAS Heliópolis
Site: https://www.unas.org.br/
Telefone: (11) 2272-0140 ou (11) 2272-0148
E-mail: comunicacao@unas.org.br
Comente abaixo sobre sua experiência com campanhas beneficentes no condomínio ;)
Fontes consultadas: Taula Armentano (síndica profissional), Alexandre Prandini (síndico profissional), Anna Maria Cáfaro (síndica moradora), Debora Ravani (síndica profissional), Sylvio Levy (síndico profissional), Larissa Lacerda (síndica profissional), Christiane Romão (gestora predial)