Cônsul-geral da Angola instala bandeira do país em fachada de prédio na Vieira Souto
Síndico afirma que moradores do edifício na orla de Ipanema não aprovaram alteração na área externa e podem ir à Justiça
O metro quadrado é um dos mais caros do país: de frente para o mar de Ipanema, na Avenida Vieira Souto 310, esquina de Vinicius de Moraes. O endereço do edifício Atlântico Sul virou cenário de uma polêmica, que ameaça chegar aos tribunais. De um lado, o cônsul-geral de Angola, Rosário Gustavo Ferreira de Ceita, que decidiu instalar na fachada uma bandeira de seu país. Do outro, um grupo de moradores que, inconformados, querem retirá-la. Eles afirmam que a convenção do condomínio proíbe a utilização da parte externa do prédio.
Nas cores preta e vermelha, a bandeira tem cerca de 1,20m de comprimento e 60 centímetros de largura, e está hasteada em um mastro, fixado em uma janela do apartamento onde vive o cônsul. Foi posta no lugar há cerca de 30 dias, por operários contratados pela Embaixada de Angola, logo após o imóvel ter sido alugado. Os moradores garantem que a obra foi feita sem autorização do condomínio.
— Tem morador reclamando muito. São os antigos que não gostaram nada da ideia e estão pressionando o síndico. É engraçado: tem gente que passa na rua e pensa que a bandeira é do Flamengo — diz um dos porteiros.
O síndico, o empresário Ludwig Hairabed Danielian, disse que, na reunião do conselho administrativo, formado pelos próprios moradores, ficou decidido que o cônsul terá que retirar a bandeira:
— Não é uma questão pessoal com o cônsul, nem nada envolvendo raça ou religião, mas uma decisão legal que está amparada na convenção do condomínio, que proíbe bandeiras de países, de partidos políticos ou qualquer outra manifestação na fachada do prédio. Nem aparelho de ar-condicionado do lado de fora é permitido.
OFÍCIO FOI ENVIADO À EMBAIXADA
Ludwig explicou ainda que um ofício foi enviado à Embaixada de Angola, em Brasília, logo após a deliberação dos condôminos, pedindo a retirada da bandeira.
— Se a embaixada não atender à solicitação, vamos estudar possíveis medidas judiciais. Acredito, entretanto, que não teremos que acionar a Justiça e a situação será resolvida amigavelmente — observa o síndico.
Temendo exposição, moradores preferiram não dar entrevista. A prefeitura, por meio da Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop), informou que o assunto não é de sua alçada e deve ser resolvido pelos condôminos.
O cônsul-geral não está no país. Participa de uma agenda oficial na capital de Angola, Luanda. Em missão oficial no Brasil há dois anos, até dezembro era vice-cônsul e morava em Copacabana, na Rua Miguel Lemos. No início do ano, foi alçado ao posto atual e há 15 dias mudou-se para o novo endereço. Sua esposa, a consulesa Denise do Amparo, não só diz que o condomínio autorizou a instalação da bandeira, como afirma ter sido discriminada:
— Você quer a verdade? Na minha opinião, há discriminação na reclamação. Se fosse a bandeira americana, será que eles iriam implicar, reclamar? Eu acredito que não.
A consulesa revelou que, na primeira semana, logo após sua mudança para o novo endereço, tentaram impedi-la de entrar no prédio.
— Fui barrada na portaria, perguntaram o que eu estava fazendo ali. Pensaram que eu fosse a empregada da casa. Não fizemos alarde, contornamos a situação. Agora estão implicando com a bandeira na janela. É bom os moradores irem se acostumando: sou negra e no apartamento só tem negros morando também — diz ela.
O edifício tem quatro andares e três blocos, com um apartamento por andar.
Fonte: http://oglobo.globo.com/
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