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Convivência

Ameaças em condomínio

Só no RJ, foram 5 mil ameaças em quatro anos

terça-feira, 31 de julho de 2018
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Em 4 anos, quase cinco mil pessoas fizeram registros de ameaças em condomínios

Advogada fez um registro policial após várias ameaças sofridas Advogada fez um registro policial após várias ameaças sofridas 

O cachorro late sem parar; crianças brincam na portaria; a vaga de garagem é ocupada de forma irregular; o morador desrespeita o funcionário (e vice-versa); o vizinho animado faz festa até a madrugada.

São várias as situações em que condôminos podem extrapolar seus limites e causar desentendimentos que resultam em ameaças. Muitas chegam numa delegacia. Entre 2014 e 2017, 4.914 vítimas de ameaças ocorridas dentro de condomínios fizeram registros na Polícia Civil em todo o estado. O dado equivale a uma vítima a cada sete horas, em média.

Do total de registros, 2.274 pessoas (46%) disseram ter sido ameaçadas por vizinhos. É o caso da advogada X., de 36 anos. Em 2014, recém-casada, ela se mudou com o marido, o filho de 4 anos e dois enteados adolescentes para um condomínio no Grajaú, na Zona Norte do Rio. Parecia ser o início de uma fase feliz da sua vida, mas tornou-se um pesadelo quando passou a ter problemas com o vizinho do andar de cima.

A advogada conta que ele se incomodava com qualquer barulho, mesmo os mais insignificantes, como uma cadeira sendo arrastada no meio da tarde. Durante meses, foram várias ameaças, tentativas de expulsar a família do condomínio e contatos pelo interfone. O ponto final nas tentativas de diálogo com o vizinho, segundo ela, foi quando ele tentou agredi-la no corredor. Ela estava com o filho. E decidiu ir à polícia:

— Depois do registro, ele se manteve bem mais calmo, aprendeu a respeitar a individualidade de cada um. Eu já tinha ouvido algumas histórias sobre ele, de que era um morador estranho. Meus pais são síndicos dos prédios onde moram e eu sei o funcionamento de um condomínio e as possíveis dificuldades.

Bruno Cordeiro, de 41 anos, diretor da administradora Condofy, explica que o ideal é tentar resolver o problema no próprio edifício, sem a necessidade de buscar ajuda policial. Para ele, a comunicação é fator determinante na convivência.

— Às vezes, uma boa conversa pode solucionar muitos casos, além de prevenir desgastes desnecessários. Quando ultrapassar o Direito Civil, ferir alguém ou causar algum dano material, aí sim é o momento de buscar o suporte de uma autoridade. Os síndicos geralmente têm um papel importante dentro desse processo, de mediar as relações e aproximar os condôminos — observa Cordeiro.

Na cidade do Rio, com 3.588 casos, o bairro onde mais vítimas foram ameaçadas é a Barra da Tijuca, na Zona Oeste, com 7,13% dos registros. Na sequência, Copacabana (6,68%), na Zona Sul; Recreio (5,99%) e Taquara (4,62%), ambos na Zona Oeste; e Tijuca (4,57 %), na Zona Norte da capital.

Orientação pode evitar conflitos

Diretor de condomínio e locação da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Marcelo Borges lembra que um condomínio é uma célula organizada, ou como ele gosta de definir, ‘‘um verdadeiro microcosmo social’’. Por isso, afirma que o estresse da sociedade atual dificulta a convivência, trazendo reflexos para o dia a dia.

Em episódios de desentendimentos entre moradores e funcionários, o diretor da Abadi afirma que não se pode descartar situações de preconceitos e até ofensas que podem gerar danos aos empregados. Cerca de 7% das vítimas de ameaças que registraram queixa são porteiros, vigias ou vigilantes:

— É importante que esses profissionais estejam treinados pela administração para uma postura adequada em casos de ameaças e ofensas, evitando conflitos.

A dona de casa Ana Menezes, de 35 anos, nunca imaginou passar por uma situação assim. Em 2015, um vizinho ameaçou envenenar os seus dois cachorros. Segundo ela, foram dois meses de discussões. Um dia, cansada de viver com medo, resolveu buscar a ajuda da polícia.

— Vivia apreensiva de comerem algo no corredor ou no pátio que tivesse veneno. Não sabíamos se ele era realmente capaz de cumprir as ameaças, então registramos uma queixa para nos resguardar — disse ela, que mora Penha, Zona Norte do Rio.

Fonte: extra.globo.com

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