'Porteiro Amigo do Idoso' capacita gratuitamente profissionais que lidam diariamente com moradores longevos
Pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) com 1.500 pessoas da terceira idade, de 32 países, apontou o porteiro como aquele que mais o auxilia no dia a dia
O passo fica mais lento, a força para carregar as compras não é a mesma e até aqueles com maior independência e autonomia passam a demandar mais atenção, principalmente se morarem sozinhos. O envelhecimento da população brasileira fez surgir serviços e produtos direcionados à terceira idade, e também mudou relações corriqueiras.
De acordo com o último censo demográfico, divulgado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 13% dos residentes de Belo Horizonte têm 60 anos ou mais. Isso quer dizer que, em um edifício com 100 moradores, pelo menos 13 são idosos, um público com necessidades diferenciadas. Não só familiares, profissionais de saúde e prestadores de serviço precisam saber lidar com essas pessoas, mas também aqueles mais próximos. E, por isso mesmo, há um ponto de apoio: os porteiros.
Pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) com 1.500 pessoas da terceira idade, de 32 países, apontou o porteiro como aquele que mais o auxilia no dia a dia. O dado inspirou o desenvolvimento de um programa para capacitar, gratuitamente, profissionais que lidam diariamente com esses moradores, dando a eles soluções e cuidados adequados às suas necessidades.
O Porteiro Amigo do Idoso foi desenvolvido pelo médico e pesquisador em saúde pública Alexandre Kalache, conselheiro sênior sobre Envelhecimento Global da Academia de Medicina de Nova York e ex-coordenador de programas de envelhecimento da OMS, considerado uma das maiores autoridades internacionais em gerontologia. A iniciativa, do Grupo Bradesco Seguros, começou cinco anos atrás em Copacabana. Dois anos mais tarde chegou a São Paulo e agora está também em BH e Betim.
Ministradas por instrutores do Senac-RJ, o programa tem carga horária total de 12 horas, divididas em três dias: sexta-feira, sábado e domingo. Segundo o psicólogo Wallace Hetmanek, especializado em geriatria e gerontologia e um dos desenvolvedores do curso, o objetivo é estimular um novo olhar sobre o idoso, fazendo esses profissionais conhecerem possíveis demandas e dificuldades, assim como propiciar uma nova visão especializada para as diversas áreas do prédio, como jardins, piscina, vagas de garagem, escadas, portas e iluminação.
“O curso é prático. Foi desenhado e pautado em conteúdos técnicos, baseado em conceitos como o de envelhecimento ativo, traduzidos em atividades práticas e simples de serem executadas no cotidiano dos porteiros com os idosos”, explica o especialista, segundo o qual o programa ainda valoriza a figura desse profissional.
Para se ter uma ideia, uma das vivências propõe aos porteiros usarem óculos que dificultam a visão e pesos nos pés e nas mãos, para sentir as limitações da idade e refletir sobre as dificuldades enfrentadas pelos mais velhos.
“Assim sendo, depois do curso, ele tem a sua visão já carinhosa, atenciosa e prestativa atrelada a formas tecnicamente embasadas de seguir no auxílio aos idosos dos edifícios. Ele é instrumentalizado para ampliar a noção de suporte por meio de sua prática profissional”, explica Wallace. Todos os pontos do curso dizem respeito a noções de saúde, em especial à funcionalidade, que se refere exatamente à autonomia dos idosos.
“Se os porteiros aprendem a adaptar às áreas comuns do condomínio, isso torna possível a ampliação da independência física, sem a necessidade de uma intervenção médica.”
ALIADOS
Geraldo Pereira da Silva, aluno da terceira turma, colocou os ensinamentos em prática e agradou os moradores do condomínio onde trabalha. Depois do treinamento, propôs à síndica melhorias na iluminação e instalação de corrimão e piso antiderrapante.
“Aqui tem muito idoso. É um prédio pequeno, onde converso e ajudo a todos. Muitos vivem sozinhos e sempre nos procuram pra conversar. Também somos aliados da família nos cuidados. Às vezes, o idoso faz coisas que para os filhos que não moram com eles é natural, mas como observamos de perto seu dia a dia podemos notar qualquer necessidade especial e alertar os responsáveis. Muitos moradores têm os porteiros como parceiros, e é a nós que eles recorrem quando precisam de algumas coisas, antes mesmo de chamar um filho ou neto”, explica.
PRÓXIMAS TURMAS
De 8 a 10/9
De 13 a 15/10
De 10 a 12/11
Local: Rua dos Aimorés, 487/2º andar, Funcionários
Inscrições: (31) 2552-4712/2552-1137
Curso gratuito
O QUE OS IDOSOS ESPERAM DOS ZELADORES
57% Ser atencioso e paciente/entender e respeitar suas necessidades
47% Carregar e segurar sacolas, malas e bolsas
44% Acompanhá-los até os elevadores/ajudar a entrar e a sair do elevador
37% Ajudá-los a subir e descer escada/oferecer o braço como apoio para eles subirem e descerem escadas
18% Melhorar a acessibilidades no prédioonte: Pesquisa com alunos do programa
O empresário Agenor Nunes Guerra, de 86 anos, é um dos beneficiados pela formação de Geraldo e também um defensor da humanização dos condomínios. Mesmo com a evolução tecnológica, que oferece soluções, Agenor defende a humanização dos serviços, seja com porteiros, seguranças ou recepcionistas. “A vida em condomínio pode ser uma maravilhosa experiência, a exemplo dos kibutz israelenses, valorizando a propriedade e humanizando a convivência”, acredita. Não fosse o prédio ter um porteiro, um morador não teria tido a mesma assistência. Geraldo lembra, por exemplo, do dia em que um senhor, depois de andar uma grande distância, teve um problema de coluna. “Ele estava do outro lado da rua e percebi que algo não corria bem. Corri até lá e tive a oportunidade de ajudar”, comemora.