Apertados e mais caros
Especialistas comentam as mudanças de padrão na construção das residências e dos apartamentos ao longo dos anos e destacam as principais contribuições para a diminuição do espaço físico dos novos lares
Quem conhece os apartamentos do Centro de Goiânia sabe o quanto os cômodos são espaçosos. Com o avanço do crescimento urbano e a ocupação de áreas como os setores Marista e Bueno, houve a diminuição gradativa da área interna dos imóveis, mesmo em se tratando de regiões nobres. Atualmente, empreendimentos de fachadas monumentais e halls luxuosos, na realidade, oferecem apartamentos com uma estrutura física bem aquém do nível ostentado pela arquitetura do condomínio. Os apartamentos mais vendidos são cada vez mais compactos e quanto melhor localizados, muito mais caros.
O corretor de imóveis Wágney Alves Guimarães conta que 65% da procura de imóveis gira em torno dos empreendimentos menores e com melhor localização.
“No mínimo 70% dos imóveis que eu vendo são apartamentos menores, em regiões mais nobres, com três quartos, sendo um suíte”, informa. Na cidade de São Paulo, apesar da oferta de dois quartos ainda ser líder de vendas, o comércio de apartamentos com apenas um dormitório cresceu mais de 400% no primeiro semestre de 2013 se comparado com o mesmo período no ano passado, segundo dados do Sindicato dos Condomínios e Imobiliárias de São Paulo (Secovi-SP).
INDIVIDUALISMO
Segundo o professor de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás Nildo Viana, por um lado há uma tendência da sociedade contemporânea de se tornar cada dia mais individualista. Tendência já identificada em estudos do século passado, como no ensaio de Friedrich Engels, que traça um paralelo entre o modo de produção em série e a vida mecânica e impessoal das capitais industrializadas. Dentro desta lógica, onde pessoas passam a ser números, as relações comerciais perdem o contato humanizado do mercantilismo artesanal e adquirem características próprias das sociedades de consumo.
Entretanto, se por um lado as pessoas têm vidas cada dia mais individuais e solitárias, optando por investir em apartamentos pequenos e compactos, por outro o processo de urbanização da capital goiana resultou na valorização do espaço urbano e as construtoras procuram produzir altos padrões a baixos custos, segundo o professor. Assim, mesmo as famílias têm preferido a praticidade ao conforto: morar próximo a tudo do que ter espaço. O mínimo de trânsito e uma segurança considerável também são prioridades na hora da escolha do imóvel, segundo o corretor Guimarães.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Condomínios e Imobiliárias de Goiás (Secovi-GO), Carlos Alberto de Paula, somada a estes fatores determinantes da redução dos espaços físicos dos imóveis está a mudança desencadeada pelo programa “Minha Casa, Minha Vida” do governo federal.
“Este foi o primeiro programa habitacional realizado no Brasil desde 1991, ainda no governo do Collor. As baixas taxas de juros aliadas a um prazo significativo de até 300 meses de financiamento fundaram um novo mercado. Atualmente, as construtoras já fazem projetos voltados para este mercado. Projetos que cabem dentro dos financiamentos da Caixa”, explica.
Ele esclarece que este é um dos motivos da diminuição no tamanho dos imóveis. Outro fator determinante dos preços, além de tamanho e localização, são investimentos públicos que agregam valor ao espaço urbano no local do empreendimento. Exemplos disso é a supervalorização de setores como o Alto da Glória e o Jardim Goiás após a instalação do Parque Flamboyant, como explica o presidente.
LUXO e OSTENTAÇÃO
Apartamentos considerados de classe média alta em Goiânia são empreendimentos populares na capital paulistana. Não somente porque em São Paulo o m² do imóvel é mais caro e o poder aquisitivo é consideravelmente superior, mas também porque as estratégias das construtoras são diferentes, como explica o presidente do Secovi-GO. “Goiânia tem um perfil arquitetônico privilegiado. Aqui houve uma evolução arquitetônica e os profissionais goianos são tão competentes que fazem projetos para o Brasil inteiro”, comenta.
Ele explica que dentro do montante da construção, a parte do acabamento, onde entra o trabalho de arquitetura, quase não onera os custos. “E o resultado é muito satisfatório porque existe demanda para este luxo”, fala.
Dados do corretor Guimarães confirmam que luxo vende bem em Goiânia. Ele conta que em segundo lugar na sua lista dos mais vendidos vêm os apartamentos de luxo, com três a quatro suítes e cerca de 150 m², custando entre R$ 550 mil a 700 mil.
O professor Nildo Viana avalia a ostentação como outro fenômeno comum na sociedade moderna. “As sociedades valorizam mais aparência. As pessoas procuram luxo e as construtoras oferecem status. Muitos casos mais a nível de aparência do que de essência”, comenta o cientista social sobre imóveis pequenos com fachada de luxo.
Segundo o corretor, mais do que luxo, o que se considera primordialmente hoje na procura de imóveis é a praticidade. Para ele, tamanho é um dos quesitos de conforto, mas cômodos compactos e localidade nobre têm sobressaído ao primeiro conceito.
O presidente do Secovi-GO acredita que isto acontece porque Goiânia ainda desfruta da qualidade de vida de estilo interiorano. “Aqui a pessoa ainda consegue almoçar em casa, levar os filhos na escola. Em São Paulo, por exemplo, isso é impossível”, compara Carlos Alberto. Para ele são essas coisas simples que nos conferem uma qualidade de vida muito superior à capital paulista.
Fonte: http://www.dm.com.br/
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