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Mercado

Arquitetura autoral

Em bairros ricos ou na periferia, arquitetos propõem projetos artísticos para condomínios

segunda-feira, 3 de setembro de 2012
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Arquitetura ousada ganha espaço no setor público e fora do centro de SP

Eles têm tamanhos, cores e formatos que destoam dos outros prédios. No edifício vertical, cinco dos pavimentos estão abaixo do nível da rua. No horizontal, os apartamentos de três andares ficam, em vez de empilhados, lado a lado. Na fachada, o design integra o imóvel ao terreno e ao bairro.

Mesmo que em pequena escala, já desponta pela cidade uma arquitetura mais autoral de imóveis residenciais, com soluções visuais e estruturais ousadas. Iniciado em bairros como a Vila Madalena, na zona oeste, o movimento começa a se afastar do centro expandido, como no caso da vila de 17 casas emparelhadas que fica na Brasilândia, zona norte. A obra, projetada por Yuri Vital, 31, foi entregue há quatro anos e ainda causa frisson na vizinhança e entre os moradores.

Apesar de o pontapé ter sido dado por incorporadoras, empresas que cuidam do imóvel desde a compra do terreno até a venda das unidades, a iniciativa não está restrita ao setor privado. Desde 2005, a prefeitura tem investido na inovação e hoje conta com projetos de urbanização com moradia social em 103 áreas da cidade, tocados por 50 escritórios de arquitetura.

Os especialistas comemoram a fase. Se, para o arquiteto, é uma oportunidade de se realizar como "artista", para a cidade, é uma chance de acrescentar mais qualidade e beleza ao mar de espigões existentes.

"As empresas estarem apostando em projetos autorais é muito bom para a cidade e para a arquitetura", afirma o professor Francisco Spadoni, da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP). "Isso traz repertório e qualidade para o mercado, o que os edifícios construídos em massa muitas vezes não têm."

ALTA COSTURA

Para estudiosos, esse movimento em alguns bairros lembra o que ocorreu nos anos 1950 e 60, quando Higienópolis, na região central, concentrou obras de nomes como Artacho Jurado (1907-1983), João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) e Rino Levi (1901-1965). Daquela época, os prédios de hoje resgatam desenhos que proporcionam mais iluminação, ventilação e maior interação com o espaço público.

"Há dez anos, éramos inundados por edifícios neoclássicos. De lá para cá, surgiram novidades com uma arquitetura mais contemporânea de influência modernista", diz Bruno Padovano, professor de projetos da FAU-USP.

Por serem obras conceituais, com projetos únicos, mais complexos e, portanto, mais caros, elas estão restritas a incorporadoras recentes, de pequeno e médio porte. O público-alvo também é diferente: os compradores são pessoas interessadas em design e que podem pagar R$ 1 milhão por um apartamento de 100 m².

"Os empreendimentos imobiliários estão se transformando quase em um vestuário. As pessoas querem que seu prédio mostre quem elas são e do que elas gostam", diz Alexandre Lafer, diretor da incorporadora Vitacon, que está há quatro anos no mercado e que tem apostado em trabalhos mais autorais. "Nesses casos, os arquitetos têm um viés de artista, querem ter um conceito e defendê-lo", conta ele.

De acordo com incorporadores e especialistas ouvidos pela reportagem, um prédio desses pode custar até 60% a mais. No entanto, Elisabete França, superintendente de habitação popular da Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), diz que o projeto representa cerca de 2% do valor total da construção.

"Quando o projeto é bem detalhado e definido, a obra sai até mais barata", ressalva.

Mesmo cara, não significa que essa estética seja inacessível. Ela começa a aparecer em regiões periféricas, por meio da prefeitura. Elisabete França, da Sehab, tem trabalhado com arquitetos que também assinam projetos de design arrojado no setor privado, como Vinicius Andrade e Marcelo Morettin, do escritório Andrade Morettin; Marina Acayaba e Juan Pablo Rosenberg, do AR Arquitetos; Alvaro Puntoni, do Grupo SP; e Fernanda Barbara e Fábio Valentim, do Una.

Enquanto desenham prédios na zona oeste, eles planejam conjuntos habitacionais para a Operação Urbana Águas Espraiadas, na zona sul, ou no Jardim Lidiane, na zona norte.

Os desafios são trabalhar com diferentes tipos de terrenos, desenhar ruas e inserir nos prédios residenciais serviços do governo, como creche e posto de saúde. Diferentemente de conjuntos do BNH (Banco Nacional de Habitação) e das Cohabs, hoje os projetos preveem prédios únicos, em vez de reproduções em série.

"Esse tipo de arquitetura está marcando os lugares e criando uma cultura. Hoje nenhuma comunidade que vai receber um programa de urbanização aceita mais que não seja assim", diz o professor Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade, faculdade particular de arquitetura.

Para reforçar a iniciativa, a prefeitura realizou no ano passado o concurso Renova SP, que selecionou projetos para 17 áreas na periferia. Segundo Elisabete, os editais de licitação devem ser publicados em 2013 e cada obra deve durar cerca de três anos. Os recursos são de cerca de R$ 2 bilhões.

Um dos jurados foi Marcos Boldarini, 38, arquiteto que já trabalha com projetos de urbanização há dez anos, incluindo residenciais. "Há um interesse maior de profissionais jovens pelos projetos públicos por conta da possibilidade de transformar trechos da cidade", diz. "Eles apresentam soluções distintas que por vezes acabam se tornando uma marca."

FORA DO PAPEL

Com foco na Vila Madalena, a incorporadora Idea!Zarvos aposta em projetos autorais desde 2005, quando o administrador Otávio Zarvos, 45, foi atrás de arquitetos premiados em concursos que não tinham grande produção fora do papel.

É o caso de Alvaro Puntoni e do escritório Andrade Morettin. Zarvos também atua com grifes como o escritório Triptyque e o arquiteto Isay Weinfeld.

Desde então, são 12 prédios erguidos e outros seis em fase de construção, além de 11 projetos que em breve devem sair do papel. Hoje, o preço do metro quadrado de um apartamento da empresa começa em R$ 10.500.

A Vila Madalena também foi escolhida pela incorporadora Aphins, nascida há dois anos de uma parceria entre quatro amigos, nenhum deles arquiteto. O primeiro empreendimento, em construção, é um conjunto de sobrados geminados, com cara de um único edifício. Localizadas na rua Aspicuelta, as oito unidades foram vendidas logo após o lançamento, por R$ 850 mil cada uma.

"A ideia é mostrar que é possível fazer coisas criativas, que atendam ao mercado e que deixem a cidade mais bonita", diz o engenheiro uruguaio Miguel Vendrasco, 50, um dos sócios. O responsável pelos quatro empreendimentos (três no papel) é o escritório Tacoa, dos arquitetos Fernando Falcon, 34, e Rodrigo Cerviño Lopez, 40.

ARQUITETOS INCORPORADORES

Criar um prédio com conceito visual e estrutural mais complexo demanda tempo e paciência. Para chegar ao formato final dos dois prédios que construiu com a Idea!Zarvos, na Vila Madalena e em Higienópolis, Alvaro Puntoni, 47, fez mais de 50 estudos para cada um.

É por isso que a questão ainda afasta algumas incorporadoras. "As empresas têm boas intenções, mas querem tudo muito rápido", diz Olivier Rafaelli, 39, do escritório Triptyque. Há cinco anos, ele e os sócios resolveram abrir uma incorporadora própria, a Quatro, para projetos conceituais. Atualmente, desenvolvem um residencial, também na Vila Madalena.

Outro exemplo é o escritório AR Arquitetos, de Marina Acayaba, 31, e Juan Pablo Rosenberg, 36. Para conseguir colocar de pé um prédio conceitual no Alto da Lapa, zona oeste, decidiram bancar o empreendimento. "Compramos o terreno e estamos fazendo o edifício que tem três andares no nível da rua e cinco que vão para baixo", conta Marina, que vende seu metro quadrado a partir de R$ 6.500.

Segundo o professor Valter Caldana, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, essas iniciativas estão engatinhando, mas são um bom começo. "Estamos num estágio há muito desejado, no qual o comprador exige mais qualidade."

Mesmo que em menor escala, o investimento também tem sido feito por empresas tradicionais, como BKO, SKR e a americana Tishman Speyer. Entre os escritórios de arquitetura contratados, estão Jonas Birger, Rocco Vidal P+W e Andrade Morettin, responsável pela reforma da Redação da Folha, em 2010.

Desde que fundou a SKR, em 1985, Silvio Kozuchowicz, 52, tenta equilibrar a qualidade de espaço com a viabilidade econômica. Ele acredita, porém, que algumas iniciativas arquitetônicas passam despercebidas pelo cliente, que costuma fazer a compra de acordo com a localização.

"Muitas vezes o cliente não repara nos detalhes que fazem a diferença porque eles acabam sendo pasteurizados pelo mercado de vendas", afirma.

A diretora-geral de vendas da imobiliária Coelho da Fonseca, Fátima Rodrigues, ressalta que, na hora de adquirir um imóvel, também contam mais o preço e a metragem. "O cliente comum não se atenta à fachada."

Entre as grandes incorporadoras, a ousadia estética costuma ser mais vista em edifícios comerciais. Foi mapeando novos nomes que a Even chegou ao arquiteto Yuri Vital para fazer um prédio de escritórios na Vila Olímpia. Em 2006, ele já havia se destacado ao projetar o residencial Box House na Brasilândia, zona norte.

Segundo Francisco Spadoni, da FAU-USP, a arquitetura funciona por osmose.

"Você faz uma coisa feia e seu vizinho também. A cultura vai se dando por transmissão. Uma arquitetura de qualidade com certeza vai ser copiada."

Que sejam copiados, então, os bons exemplos.

Fonte: http://www.jornalfloripa.com.br

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