Arsenal em apartamento
SP: Vizinhos de coronel devem ser ouvidos em inquérito
MP pede novos depoimentos e devolve investigação sobre explosão de apartamento de coronel à Polícia Civil
Polícia Civil havia indiciado o coronel reformado em 24 de outubro. Promotoria pediu, no entanto, que moradores de outros apartamentos em Campinas (SP) sejam ouvidos.
O Ministério Público (MP) devolveu à Polícia Civil o inquérito que investiga a explosão no apartamento do coronel reformado Virgílio Parra Dias e pediu que pelo menos mais cinco pessoas sejam ouvidas antes da conclusão das apurações.
A explosão ocorreu em 24 de fevereiro, no imóvel onde o coronel guardava um arsenal de 123 armas e munições, em Campinas (SP).
O coronel aposentado foi indiciado em 24 de outubro do mesmo ano pelos crimes de explosão, incêndio e posse de armas de fogo de uso restrito sem autorização.
De acordo com a investigação, o incêndio no imóvel começou após a explosão de um artefato que estava no cofre, localizado em um cômodo ao lado da cozinha, onde o coronel armazenava grande quantidade de pólvora e um arsenal de armas, incluindo pistolas, revólveres, espingardas e fuzis.
A devolução do inquérito aconteceu na última segunda-feira (20), e o g1 teve acesso ao documento. No auto, o MP solicita que sejam identificados e ouvidos sobre os fatos ao menos cinco moradores do edifício, “vítimas que tiveram suas vidas e saúde expostas, que foram encaminhadas ao hospital em decorrência do incêndio causado.”
O g1 entrou em contato com a defesa do coronel, mas não houve retorno.
Segundo a Secretaria de Segurança de Pública (SSP) "A Polícia Civil, por meio do 1º DP de Campinas, instaurou inquérito policial a pedido do Ministério Público. A autoridade policial realiza diligências e oitivas dos moradores do prédio visando o devido esclarecimento dos fatos."
CAC caçado
O coronel aposentado Virgílio Parra Dias teve o registro de CAC (caçador, atirador e colecionador), que o permitia ter armas de fogo, cassado pelo Exército Brasileiro. O militar foi indiciado em outubro pela Polícia Civil por explosão, incêndio e posse irregular de 42 armas de fogo de uso restrito.
O indiciamento se referia à explosão seguida de incêndio que ocorreu no apartamento do coronel, em Campinas, no dia 24 de fevereiro deste ano, onde ele armazenava um arsenal de armas, pólvora e granadas. Ninguém ficou ferido, mas 44 pessoas tiveram que ser retiradas do edifício, parte delas por meio de rapel.
A decisão de cassar o registro foi tomada pelo comando da 2ª Região Militar, em São Paulo. No ofício, o qual o g1 teve acesso, o Exército aponta que o militar cometeu três faltas graves e, com isso, recebeu a penalidade de cassação. As faltas que constam no documento são as seguintes:
- Possuir produto controlado pelo Exército (armas) sem autorização;
- Recarregar munições sem autorização;
- Comprar produtor controlado pelo Exército (armas) sem autorização;
Com a punição, o coronel terá 90 dias para transferir ou vender a parte do arsenal que estava legalizada para outra pessoa. O g1 apurou que a defesa do militar já acionou a Polícia Civil solicitando o armamento apreendido à época da explosão.
O g1 procurou o Exército para ter mais detalhes sobre a cassação, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. À época da explosão, a Força havia informado que instaurou processo administrativo para apurar as condições do arsenal do coronel. Agora, após a cassação do registro, o procedimento foi finalizado.
O indiciamento
O coronel Parra Dias foi indiciado no dia 24 de outubro pela Polícia Civil de Campinas (SP). Segundo a investigação, o incêndio no apartamento dele começou após a explosão de um artefato que estava no cofre, localizado em um cômodo ao lado da cozinha. No local, o militar armazenava grande quantidade de pólvora e um arsenal de armas, incluindo pistolas, revólveres, espingardas e fuzis.
Parra Dias tinha licença de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador) para manter 86 armas. A Polícia Civil apurou, no entanto, que ele tinha 42 armas a mais armazenadas, por isso, o crime de posse de arma de uso restrito foi incluído no indiciamento.
"Ele foi iniciado pelos crimes de incêndio, explosão e pelo crime previsto no Estatuto do Desarmamento, porque nós apuramos no decorrer da investigação que ele tinha 42 armas a mais no apartamento dele não constantes do acervo do sistema do Exército", afirmou o delegado José Mecherino.
Depoimento
O coronel prestou depoimento no 1º Distrito Policial de Campinas. Na saída, o advogado de defesa do militar, Anderson Souza Daura, afirmou que o militar esclareceu ao delegado a origem das armas e, sobre o excedente, afirmou que o coronel acreditava que não era crime manter exemplares sem registro.
"Essas armas (que não tinham registro) ele tentou registrar no Exército em 2008, 2009 e tempos depois ele recebeu a notícia de que não foi possível registrar todas. Ele ficou com as armas guardas em casa acreditando que não era crime, acreditando que era apenas uma irregularidade administrativa e ele estava esperando uma nova anistia".
Sobre a explosão no apartamento, a defesa afirmou que uma perícia contratada constatou que foi causada por ignição espontânea, afastando qualquer ação humana dolosa ou negligente, e que o coronel, na verdade, também foi vítima do incidente.
"Estava tudo nos conformes, não foi constatado nenhuma irregularidade, nem pelo laudo do IC, nem em nenhum outro documento, que aponte que ele guardava as munições, as pólvoras, etc, de forma irregular".
Relembre o caso
Um laudo do Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo apontou ao menos duas explosões, vestígios de pólvora e disparo de munições no apartamento do coronel Parra Dias.
No laudo, o perito confirma que a explosão de um artefato dentro do cômodo-cofre onde ficava o armamento do militar iniciou o incêndio que, segundo o documento, chegou a 327°C de temperatura.
O documento lista os danos causados no apartamento do coronel, no apartamento vizinho e nas áreas comuns do prédio e afirma que as explosões, o incêndio e o disparo de munições colocaram em risco a vida dos moradores.
"A onda de choque provocada e os fragmentos de alvenaria arremessados pelas explosões, além dos disparos das munições provocados pelo incêndio acarretariam perigo para a integridade física e para a vida de quem se encontrasse durante o período que ocorreram as explosões e o incêndio, nos corredores do 1º pavimento e na escada entre o térreo e o 1º pavimento", diz laudo.
A perícia, no entanto, afirma que não é possível determinar se a explosão foi fruto de ação criminosa ou de acidente.
Aposentado como general
Virgílio Parra Dias, de 69 anos, é coronel aposentado e instrutor de tiro. Segundo o Exército, o militar possui certificado de registro válido como atirador, caçador e colecionador (CAC) e tinha licença para manter 86 armas no imóvel.
Fonte: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2025/01/21/mp-pede-novos-depoimentos-e-devolve-investigacao-sobre-explosao-de-apartamento-de-coronel-a-policia-civil.ghtml