Suspensa colocação de telas em árvores do condomínio Ephigênio Salles
Atitude de telar a copa das palmeiras e, com isso, evitar que fosse destruídas por aves gerou polêmica na cidade. Nas redes sociais foram muitos os comentários, a maioria criticando o comportamento dos moradores do condomínio
FABÍOLA PASCARELLI
Moradores do condomínio Ephigênio Salles, no bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul, suspenderam, no último sábado, a colocação de telas protetoras nas palmeiras imperiais plantadas em frente ao residencial. Os condôminos vão solicitar o posicionamento oficial de órgãos ligados ao meio ambiente. A informação é de Regina Almeida, funcionária da administração do condomínio.
A decisão de colocar a proteção para impedir a permanência de aves como o periquitos-de-asa-branca na copa das árvores, a fim de evitar danos às palmeiras, causou polêmica nas redes sociais na última sexta-feira.
Segundo Regina Almeida, durante reunião na manhã de sábado, os moradores decidiram que hoje vão em busca de informações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) sobre os impactos da medida que o telamento de árvores pode provocar.
“Nós não queremos fazer nada fora da legislação ambiental, tanto que quem sugeriu e nos deu autorização para colocarmos as redes de proteção foi a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas)”, explicou.
A funcionária disse, ainda, que a espécie de periquitos sempre existiu nos arredores do condomínio, mas nos últimos anos a quantidade de aves aumentou consideravelmente e vem causando prejuízos às palmeiras. “Não é por causa do barulho que elas fazem, como algumas pessoas chegaram a afirmar na Internet. Mas porque elas estão causando uma ação predatória às árvores”, afirmou.
O analista ambiental do Ibama, Robson Esteves, afirmou que, caso sejam procurados por moradores do condomínio, os fiscais do órgão deverão ir ao local para verificar se as telas estão causando algum tipo de prejuízo aos periquitos e também outras aves. “Vamos ver se elas não estão ficando presas nessas telas ou se vão insistir em ficar na copa das árvores”, afirmou. O analista afirmou que o laudo técnico que vai embasar as decisões do órgão a respeito da questão deve levar alguns dias para ser concluído, dependendo do tipo de informações que forem solicitadas.
Robson Esteves explicou que as palmeiras imperiais plantadas no condomínio não são nativas da Amazônia e estão na rota de deslocamento das aves. “Essa é uma consequência que o plantio de árvores exóticas e o desmatamento trazem para a fauna da região”, afirmou, ressaltando que os periquitos-de-asa-branca não se alimentam nas palmeiras, que servem apenas como “dormitório”.
Medida é questão de escolha, diz biólogo
Em entrevista ao portal A CRÍTICA (www.acritica.com) no último dia 27, o biólogo e ornitólogo (especialista em aves), Mario Cohn-Haft, disse que a medida é uma questão de escolha. “As pessoas podem optar pelas aves ou pelas árvores. Eu, particularmente, teria muito orgulho de ver um espetáculo como este, onde os periquitos-de-asa-branca escolhem as palmeiras como dormitório. Acho muito bonito. Mas eu entendo as outras pessoas, que podem ficar incomodadas com as aves”, afirmou.
Cohn-Haft, que é curador de aves do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), afirmou que as palmeiras são procuradas pelos periquitos de asa branca porque elas oferecem proteção. “É mais seguro de predadores, de cobras, porque não existem conexões entre as copas. Os pássaros fazem esforço para achar um lugar seguro para dormir e alguns ficam em grupo porque as chances de se defender são maiores”, comentou.
De acordo com o pesquisador, o periquito-de-asa-branca é comum na várzea, mas está se espalhando nas áreas de vegetação de Manaus.
Semmas afirma que agiu preventivamente
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade justificou que agiu de forma preventiva e atendendo a parâmetros técnicos e legais, ao fazer a recomendação do uso de redes protetoras, com a finalidade de impedir o avanço do processo de desgaste das árvores.
De acordo com a informação técnica feita pela secretaria, a recomendação do uso das telas foi precedida de discussões, baseadas no parecer técnico 35/2011, do analista ambiental do Ibama Robson Esteves Czaban, segundo o qual faziam-se necessárias medidas para evitar a morte das árvores desde que não fossem utilizadas práticas que caracterizassem maus tratos às aves.
A secretaria informou, ainda, que após um período de, aproximadamente, um mês será feita a retirada das telas para verificar se as aves retornam ou se já estariam utilizando outras árvores como dormitório. De acordo com a Semmas, a medida objetiva a proteção da flora local e respeita a legislação pertinente à proteção da fauna (Artigo 29 da Lei nº 9.605, de 12/02/1998).
Fonte: http://acritica.uol.com.br
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