Síndico e o assédio, intimidação e coação no condomínio
Luana Sardinha reflete sobre comportamentos inaceitáveis que prejudicam tanto o síndico quanto o bem-estar coletivo e que, muitas vezes, são vistos como parte natural do trabalho do gestor
Ser síndico de condomínio vai muito além de administrar contas, supervisionar contratos e manter o bom funcionamento das áreas comuns.
Essa função exige habilidades de gestão, comunicação e, sobretudo, resiliência para lidar com os inúmeros desafios que surgem em um ambiente onde opiniões, interesses e emoções frequentemente entram em conflito.
Contudo, nem mesmo a melhor preparação profissional pode blindar os síndicos contra uma realidade difícil e, infelizmente, recorrente: o assédio moral, a intimidação e a coação.
Como síndica profissional, já enfrentei situações que ilustram claramente esse tipo de comportamento.
Recentemente, recebi mensagens de um condômino que me deixou profundamente desconfortável. O tom utilizado não era apenas de cobrança; era intimidador. As palavras carregavam um peso que ultrapassava os limites da discordância legítima e buscavam, de forma velada, me desestabilizar emocionalmente e forçar uma determinada atitude.
Esse episódio me fez refletir sobre como a função de síndico, tão essencial para o bem-estar coletivo, pode se tornar um alvo constante de ataques pessoais.
Esse tipo de conduta não se limita a mensagens. Já me deparei com pressões para alterar pautas de assembleia ou tomar decisões que desrespeitam o que foi decidido coletivamente em assembleias, desconsiderando os interesses da maioria e os processos legítimos do condomínio.
Tensão, desgaste emocional e estresse do síndico
Esses episódios, que deveriam ser tratados com diálogo respeitoso, acabam se transformando em situações de tensão e desgaste emocional.
O impacto dessas experiências vai além do profissional. O constante estado de alerta e a sensação de injustiça geram um desgaste psicológico significativo.
Síndicos frequentemente enfrentam sentimento de frustração, desamparo e até mesmo medo de represálias, comprometendo não apenas a qualidade do trabalho, mas também a saúde mental.
Papel do síndico confundido por moradores
É fundamental, portanto, que essa questão seja amplamente discutida. Muitos moradores desconhecem o real papel do síndico e, por vezes, confundem autoridade com autoritarismo, cobrando atitudes que não condizem com as responsabilidades do cargo.
Investir em campanhas de conscientização, palestras e debates sobre os direitos e deveres de todos os envolvidos na vida condominial é uma forma de promover um ambiente mais respeitoso e colaborativo.
Além disso, síndicos não devem hesitar em buscar apoio jurídico e psicológico sempre que necessário. Consultar um advogado especializado em questões condominiais é uma forma de se proteger contra abusos, enquanto o acompanhamento psicológico ajuda a lidar com os impactos emocionais desses episódios.
É preciso que todos os envolvidos na vida condominial reconheçam que o respeito é a base de qualquer relacionamento.
Assédio, intimidação e coação: comportamentos inaceitáveis
O assédio, a intimidação e a coação não devem ser vistos como parte natural do trabalho do síndico, mas como comportamentos inaceitáveis que prejudicam tanto a pessoa que exerce a função quanto o bem-estar coletivo.
Falar sobre esse tema é essencial para transformar a realidade dos condomínios.
A reflexão e o diálogo são os primeiros passos para a construção de um ambiente mais saudável, onde a função de síndico seja valorizada e exercida com dignidade.
Afinal, quem trabalha pelo bem comum merece o apoio e o reconhecimento de todos.
(*) Luana Sardinha é síndica profissional pós-graduada em Administração de Empresas pela FGV, formada em Gestão de Propriedades Urbanas, em Administração Condominial pelo Secovi Rio, em Comunicação e Oratória e certificada Síndico 5 Estrelas. Atua no segmento condominial no Rio de Janeiro há 10 anos.