Testes avaliam aparelho que promete bloquear ar e baixar conta de água
Fantástico foi na casa de consumidores que usam o aparelho e também testou a eficiência do produto no laboratório da USP de São Carlos.
Domingo passado, o Fantástico mostrou que tem consumidor em São Paulo pagando pelo ar que sai dos canos - como se fosse água.
Para tentar resolver o problema, muita gente está comprando um aparelho simples, que promete bloquear o ar e baixar a conta. Será que funciona?
Quem nunca viu este tubinho de plástico pode achar que não é nada demais.
Mas esse aparelhinho que o fabricante orienta que seja instalado na tubulação de água depois do hidrômetro está sendo disputado nas lojas.
“Nós chegamos a vender 30 peças num dia só. Hoje eu tenho uma peça somente”, conta Felipe Hoffman, gerente da loja.
Tem lugar que zerou o estoque. É o chamado 'bloqueador de ar'. O preço é de R$50 a R$60. E, como o nome diz, promete impedir a passagem de ar na tubulação de água.
“Ele vai pressurizar o ramal do cliente. Então, quando o ar tiver vindo na tubulação, ele não vai entrar na casa do consumidor que está protegido pelo aparelho”, explica o fabricante Demétrio Mitro.
Ou seja, serviria para evitar este tipo de situação: domingo passado, o Fantástico mostrou que tem consumidor em São Paulo reclamando de cobrança de ar quanto não tem água na torneira.
Seu Célio passou por isso. “Eu conscientizei a família para economizar e não tava conseguindo. Só que a minha conta continuou vindo alta. Uma média de R$ 300”, conta Célio Nunes da Silva, comerciante.
Depois que ele instalou o bloqueador: “Aí caiu para o R$87. Foi ele que resolveu”.
Em Vitória, no Espírito Santo, o Seu Mardônio também instalou o aparelhinho. “A minha conta dava R$170. Após o bloqueador, a primeira conta veio pra R$99. E agora no segundo mês já com o bloqueador veio R$69. É uma coisa bem simples de você colocar”, conta.
Mas como esse caninho de apenas seis centímetros impede a passagem do ar? E será que tem algum risco?
O Fantástico foi até a USP de São Carlos, no interior de São Paulo, para entender.
O pessoal da universidade montou no laboratório de hidráulica essa tubulação, o hidrômetro, o bloqueador de ar. A água e o ar vão sair por este tubo aqui.
Mandamos para tubulação, uma pressão de ar baixa. Hidrômetro não está girando. Não está saindo ar aqui. Mas foi só aumentar a pressão, que tudo mudou.O hidrômetro já começa a girar. Ele está registrando a passagem de ar. O bloqueador não bloqueou 100% do ar como promete.
Vamos a outro teste, agora com água. Um cano simula uma casa que instalou o bloqueador, o outro a tubulação de um vizinho. Quando a pressão é baixa, o bloqueador dificulta a passagem de água.
“Não aciona o mecanismo de abertura, portanto não permite a passagem de água”, explica Edson Wendland, professor de engenharia hidráulica.
Veja que a tubulação da casa vizinha, simulada por este tubo, que não tem o bloqueador, está recebendo água.
Já encheu balde do vizinho que não tem bloqueador e nada da água chegar lá. Só depois de aumentar a pressão é que a água começou a chegar na tubulação da pessoa que tem o bloqueador de ar. Olha só, a vazão muito maior da pessoa que não tem o bloqueador e o jato muito menor de quem tem o bloqueador.
Quer dizer, a conta de água pode ficar mais barata, mas além de segurar o ar, o bloqueador diminui também a saída de água.
Em São Paulo, onde a companhia de abastecimento está reduzindo a pressão da rede para enfrentar a falta d'água, o bloqueador pode impedir que ela chegue na torneira - e o consumidor pode ficar ainda mais tempo sem abastecimento.
O dono de um dos fabricantes do bloqueador diz o contrário.
“Ele bloqueia somente a passagem do ar”, afirma o fabricante.
Consultamos o Inmetro, que informou que: "não regulamenta o aparelho, portanto o dispositivo não tem eficiência avaliada pelo instituto".
O Fantástico também procurou a Associação das Empresas de Saneamento Básico, que não indica o uso.
“A instalação de forma desenfreada e sem um padrão técnico, ela pode trazer contaminação, que é a preocupação maior de uma concessionária de saneamento”, explica Roberto Tavares da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento.
A Companhia de Saneamento do Espírito Santo, a Cesan, afirma que a entrada de ar na rede é 'ocasional'. Ao todo, diz a empresa, foram 14 reclamações do tipo em um universo de 500 mil clientes.
A Cesan diz que não proíbe os bloqueadores, mas não os recomenda.
A Companhia de São Paulo, a Sabesp, também diz que a entrada de ar na rede é uma 'exceção'. Para ela, os bloqueadores de ar são ‘podem trazer problemas ao abastecimento do imóvel e não têm sua eficiência comprovada. Quando identifica o bloqueador na casa de um cliente, a Sabesp remove o dispositivo e orienta a pessoa a não usar novamente o equipamento’.
Fantástico: Nunca ninguém pediu pro senhor tirar esse bloqueador?
Seu Célio: Não.
“Tirar o ar na rede é obrigação da companhia, isso faz parte da nossa atividade. A associação recomenda que o cliente que se sente prejudicado, ele basta ver uma mudança de consumo, uma mudança na sua conta, procurar a concessionária responsável e fazer a vistoria”, afirma Roberto Tavares, presidente da Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento.
“Se eu estou sendo prejudicado, eu estou me precavendo de uma situação que cabe a Sabesp resolver, não a mim. Então, eu estou tomando as minhas providências para ser justo”, diz o comerciante.
Fonte: http://g1.globo.com/
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