Situação de calamidade
RS: Voluntários retomam resgates após chuvas acima de 100 mm
Chuva forte no Rio Grande do Sul prolonga situação de calamidade que já dura quase um mês
Em Porto Alegre, até bairros que não tinham ficado alagados na primeira enchente foram atingidos.
Choveu forte nessa quinta-feira (23) em quase todo o Rio Grande do Sul, o que trouxe preocupação também com relação ao nível dos rios e o risco de novos desmoronamentos. O volume das precipitações foi acima de 100 mm nas cidades das regiões noroeste, dos Vales e na Região Metropolitana. Em Porto Alegre, em 12 horas, choveu o que estava previsto par ao mês inteiro.
Na quarta (22), o Guaíba tinha chegado ao menor nível desde o início de maio. Mas, nesta quinta, voltou a subir e está em 3,91 m - ainda acima da cota de inundação que é de 3 m.
Alagamentos foram registrados em diferentes pontos de Porto Alegre. O Jornal Nacional esteve na Zona Sul da cidade, no bairro Hípica, e registrou uma rua completamente tomada pela água. Apenas veículos maiores e barcos que estão trabalhando nos resgates conseguem passar pelo local.
A Secretaria Estadual de Saúde confirmou mais duas mortes por leptospirose no estado: dois homens, moradores de Porto Alegre e Cachoerinha. Ao todo, foram quatro mortes e 54 casos confirmados.
Segundo a última atualização da Defesa Civil, 163 mortes foram confirmadas no estado; 65 pessoas seguem desaparecidas e mais de 63 mil pessoas estão acolhidas em abrigos no Rio Grande do Sul.
A preocupação não é apenas com a elevação do nível dos rios. Agora, até pessoas que moram em partes mais altas de Porto Alegre enfrentam alagamentos. O sistema de drenagem não deu conta da chuva e devolveu água para as ruas. E aí a água veio com pressão, uma força que arrancou tampas de bueiros. As ruas encheram rápido.
O diretor do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) de Porto Alegre, Maurício Loss, alega que os alagamentos aconteceram porque houve muita chuva em pouco tempo e as galerias para escoamento da água estão entupidas por causa do barro e do lixo acumulados após a cheia do Guaíba. Ele nega que tenha acontecido um "colapso" no sistema de drenagem da cidade.
"As redes de drenagem também estão bem assoreadas (com acúmulo de sedimentos, como terra e areia). [Além disso], todos os arroios que desembocam no Guaíba não estão conseguindo ter vazão em razão da elevação do nível. Isso prejudica o escoamento da água das chuvas e alguns bairros da Zona Sul que não estavam alagados tiveram problemas com a chuva", diz Loss.
Segundo Loss, equipes do Dmae trabalham com caminhões-jato para fazer a limpeza dos locais atingidos e facilitar a drenagem da água acumulada na cidade.
Outro problema apontado por Loss são as restrições no funcionamento de casas de bombeamento – apenas 10 das 23 estações estão funcionando. Elas são responsáveis por jogar a água que está dentro da cidade de volta para o Guaíba. As restrições ocorrem porque são elétricas e, se inundarem, podem colocar em risco a segurança da população.
Avenidas movimentadas ficaram alagadas e veículos tentavam escapar na contramão e pelas calçadas. Uma foto mostra que a água que jorrou de um bueiro ultrapassou a altura de um carro. A correnteza do Arroio Sarandi, um canal que atravessa o bairro, derrubou parte de uma avenida.
Grupos de voluntários voltaram a receber pedidos de socorro e estão mobilizados, de novo, com barcos para resgatar pessoas e animais em áreas alagadas. O que se acompanha em Porto Alegre é uma situação de desespero. Sentimento de quem já estava limpando a casa e voltou a enfrentar alagamentos e de pessoas que nunca imaginaram que a água poderia chegar em partes mais altas da cidade.