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Mercado

Casa ou apartamento?

Unidade externa no térreo é nova tendência de mercado

quarta-feira, 8 de junho de 2016
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Quando o problema mora em cima

A designer de joias, Monica Rosenzweig se acostumou com a presença de pássaros e micos no apartamento onde trabalha. Ela também guarda a bicicleta no local, que é cheio de plantas e tem até uma ducha. Parece uma casa, ou mesmo uma cobertura, mas na verdade seu ateliê fica no térreo de um edifício.

Tudo isso só foi possível porque é um imóvel incomum: Monica trabalha em um “apartamento garden” — nome meio pedante que as construtoras inventaram para imóveis no térreo com área externa.

— É uma casinha. Parece que você está fora do Rio, é um ambiente bem bucólico — explica Monica, que aluga o imóvel em Ipanema há um ano.

Na área externa do apartamento há também uma cozinha e um sofá. Amigos e vizinhos costumam frequentar o local.

— Todo mundo que entra se surpreende — garante, orgulhosa.

Este tipo de empreendimento ganhou força nos últimos anos no Rio, buscado por aqueles que querem aliar a segurança e a infraestrutura de um edifício com o conforto de uma casa. Construtoras viram o potencial e estão embutindo em seus projetos este tipo de unidade. Não deixa de ser uma “volta por baixo”, já que, historicamente, os imóveis que ficavam ao rés do chão eram rejeitados.

— Eram desvalorizados, demoravam muito para vender. O patinho feio acabou virando a galinha de ovos de ouro — comemora o diretor comercial da construtora Fernandes Araújo, Paulo Araújo, que lançou o empreendimento Composè Residence Club, no Recreio, com apartamentos térreos de 144,51m² com área verde, piscina e ponto para churrasqueira ou grill elétrico.

O preço de imóveis assim já é semelhante ao das coberturas. Geralmente a área externa é equivalente a algo entre 30% e 50% da parte interna.

Parece casa, mas não é

Para o executivo, o empreendimento faz mais sucesso no Rio do que outros lugares, como São Paulo, porque a casa faz parte da cultura carioca. Sanderson Araujo, da construtora Avanço, vai mais além. Para ele, alguns bairros da cidade aceitam o apartamento térreo e outros, não.

— O primeiro “apartamento garden” que lançamos, no Pechincha, foi fruto de uma observação de que a região tinha muitas casas. O morador quer ficar naquele bairro, quer uma casa com quintal, mas deseja infraestrutura de condomínio — considera ele, que utilizou este modelo de planta nos empreendimentos Stilo (Pechincha) e no Magnific (Freguesia).

Recreio e alguns bairros de Jacarepaguá são as áreas que possibilitam a construtoras investir neste tipo de empreendimento, pois o “garden” pede que o espaçamento entre os blocos seja maior. O apartamento da designer em Ipanema é uma exceção já que as incorporadoras não lançam imóveis deste tipo na Zona Sul.

— Os terrenos da Zona Sul são pequenos. Então, não há como ter aquele sentimento de morar numa casa, e sim uma sensação da clausura — decreta Claudio Hermolin, diretor de incorporação da Calçada.

Para ele, esses novos apartamentos térreos fazem sucesso por atender às necessidades do público de Recreio e Barra, que gostaria de morar em uma casa, mas não tem recursos para isto.

— O mercado acabou criando este modelo híbrido. O “garden” entra para substituir também as coberturas, já que a escada impossibilita acessos a algumas pessoas. Este tipo de mercado tem uma liquidez muito boa — revela, lembrando que a Calçada lançou o Empreendimento Maui Unique Life Residences, no bairro Pontal Oceânico, que está em fase final de construção.

E, depois dos “garden”, vem aí uma versão ainda mais gourmetizada. A construtora Labes de Melo lançará, em setembro, o “supergarden”, no Recreio. Além do jardim e piscina, o empreendimento Enjoy terá uma garagem exclusiva.

— O morador não vai precisar entrar no apartamento pelo hall social, pois terá uma entrada para dele— explica Eric Labes, diretor da construtora.

Esta versão custará R$ 900 mil, enquanto dos apartamentos “normais” serão vendidos por R$ 750 mil. Monica Rosenzweig aponta um lado negativo: os vizinhos de cima. Ela já se surpreendeu com uma “chuva” de faíscas, resultado de uma obra no alto do prédio. Há quem jogue lixo.

As construtoras afirmam ter cuidado redobrado ao desenvolver um projeto para que o térreo não fique muito devassado e haja espaço suficiente entre os blocos dos prédios. Para garantir a segurança e a privacidade, alguns moradores optam por instalar uma cerca-viva ou um toldo, como foi o caso do apartamento da Monica.

— Mas há restrições de obra no local, já que é preciso manter as características originais da área descoberta — lembra o vice-presidente da construtora RJZ Cyrela, Rogério Jonas Zylbersztajn, que tem “apartamentos garden” no Ocean Pontal Residence & Beach Place, no Recreio, e no RJZ Cyrela Like Residencial Club, que está sendo construído em Jacarepaguá.

De acordo com o advogado Arnon Velmovitsky, especialista em direito imobiliário, o proprietário de apartamento térreo depende da convenção para fazer uma cobertura para fechar seu espaço de lazer.

— Tenho conhecimento de inúmeras questões controvertidas entre condôminos e condomínio para a cobertura dessas áreas — relata ele.

Segundo Arnon, a instalação de toldos ou cercas-vivas também deve ser prevista na convenção de condomínio e no projeto que foi aprovado na prefeitura.

— É necessário verificar se há alguma restrição imposta pela convenção ou outro elemento estabelecido na aprovação do projeto de construção — afirma ele.

Outro ponto controverso é o pagamento da taxa de condomínio maior para este tipo de planta. E, mais uma vez, a legislação do prédio é soberana.

— O Código Civil, em seu artigo 1336, I, do Código Civil, estabelece as obrigações dos condôminos, entre as quais, “contribuir para as despesas do condomínio na proporção de suas frações ideais, salvo disposição em contrário da convenção” — diz ele.

Fonte: http://www.secovirio.com.br/

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