Comunicação em condomínio
É fundamental que o síndico tenha cuidado para evitar polêmicas
Cuidados com comunicação condominial evitam ações judiciais
Cartilha com cunho homofóbico caiu na internet e gerou polêmica
Em um mundo onde o convívio entre os vizinhos é cada vez menor, a comunicação interna nos condomínios precisa ser direta e certeira.
E no comando deste processo está a figura do síndico, que necessita dar as mãos ao bom senso para redigir comunicados e passar longe de juízos de valor ou preconceitos. A conta com processos judiciais pode ser cara e o débito é direto no bolso dos condôminos.
Um (mau) exemplo que pipocou na internet estava em uma cartilha de segurança patrimonial de uma administradora de condomínios, voltada para o treinamento de funcionários e distribuída aos apartamentos em um prédio em Botafogo.
O conteúdo afirma que “é frequente os moradores homossexuais serem vítimas de latrocínios, assassinatos, roubos, furtos, lesões corporais dolosas, cujos autores são sempre seus amigos” e que “o porteiro nunca poderá subestimar esses indivíduos”.
A empresa está prestando um desserviço na orientação aos porteiros, e o síndico usa essa suposta autoridade para impor seus preconceitos pessoais — afirmou uma das moradoras.
Procurada, a administradora disse que o material citado era de responsabilidade de um profissional terceirizado já falecido, e foi retirado de circulação há pelo menos seis meses, assim que a empresa teve ciência do conteúdo. Informou ainda que repudia o preconceito.
Mesmo com o pedido de desculpas, caso desejem, os moradores podem tomar medidas judiciais. De acordo com o advogado Sergio Sender, o judiciário poderá ser acionado, tanto na esfera cível como criminal, contra a administradora e o síndico que se valer do material para discriminar qualquer cidadão.
Se efetivamente constarem estas afirmações, entendo que cabe uma notícia-crime por crime de homofobia, além da possibilidade de ação de danos morais. E se o síndico aplicar algumas destas regras, o condomínio também poderá ser acionado judicialmente — diz ele.
Em um prédio de Ipanema, uma circular informativa entregue aos moradores deixou a jornalista Fernanda de Andrade indignada. No texto assinado pela síndica, uma reclamação sobre o lixo despejado no play creditado a “péssimo comportamento a crianças/adolescentes ou serviçais”.
Chocada com o que considerou preconceito contra os empregados, Fernanda compartilhou o texto em seu perfil no Facebook e fez uma carta de repúdio, que também foi fixada no elevador.
A síndica não se fez de rogada e escreveu um novo comunicado, afirmando que não há nada de desrespeito na palavra “serviçal” segundo os dicionários consultados por ela.
Além de ser um ato que deve ser combatido, pode gerar prejuízos a todos os condôminos, pois uma pessoa discriminada pode mover ação indenizatória em face ao condomínio pelo ato do síndico. Os condôminos devem condenar o ato e cobrar do síndico todos os prejuízos gerados por sua conduta — afirma o advogado André Luiz Junqueira
Se o equilíbrio passa ao largo, os síndicos e moradores devem focar nos gastos extras que a ausência da comunicação correta pode originar.
Junqueira cita um caso em que uma proprietária trocou o vidro da varanda de casa, mas não seguiu o padrão original do prédio porque o modelo havia sido extinto do mercado.
Advertida pelo síndico, ela pediu que o administrador indicasse o local que vendesse o produto e solicitou uma assembleia para que o caso fosse debatido. O síndico não respondeu e ainda moveu ação judicial contra a proprietária.
Resultado: condenação do condomínio em valor razoável, incluindo despesas judiciais, de perito e advogado, além da permissão paraa proprietária manter o vidro enquanto a assembleia não se reunisse para definir um padrão adequado cujo material possa ser reposto. A conclusão: se o síndico não se comunica da forma correta, todos compartilham o prejuízo — relembra o advogado.
Bilhetes no elevador, circulares na caixa de correspondência e livro de reclamações na portaria permanecem como meios usados nos prédios, mas cresce o número de condomínios que se utilizam da tecnologia para a comunicação interna.
Nem por isso pode-se descuidar da escrita. Para advogados e especialistas na área imobiliária, o síndico deve primar sempre por um ambiente livre dos perigos dos danos morais.
Uma das dicas é nunca usar adjetivos na hora de falar ou escrever sobre funcionários e condôminos.
Uma solução interessante em grandes condomínios são os sites internos (intranet), que foram recentemente adotados para facilitar a comunicação entre o síndico e os moradores — lembra Valnei Ribeiro, gerente de Negócios da Apsa.
Sonia Chalfin, diretora da Precisão Administradora, conta que, atualmente, a maioria dos edifícios utiliza o e-mail como meio de comunicação, pois além do rápido acesso, fica também registrada a ciência aos condôminos.
Além disso, WhatsApp e outros aplicativos voltados para administração predial têm cada vez mais adeptos.
Os síndicos podem compartilhar com os moradores as informações em tempo real no WhatsApp a respeito da vida do condomínio com os moradores, trocando informações e ideias do dia a dia. Ainda pode gerir o condomínio de uma forma mais moderna, facilitando o trabalho e a convivência de todos. Esse recurso novo na comunicação interna mostra uma participação mais ativa, compartilhada e transparente por parte do síndico — afirma Sonia, lembrando que este meio também precisa de uma linguagem formal.
O aplicativo tem o inconveniente de permitir troca de mensagens entre todos os participantes, podendo gerar acúmulo e “informalização” — considera a diretora, que reitera que nem todos os moradores têm acesso a essa tecnologia e, por isso, os recados não devem ser transmitidos apenas pela internet.
BOM EXEMPLO
No caso do condomínio Morada Mariana, em Botafogo, o uso dos aplicativos vem funcionando muito bem na administração do prédio. Após 25 anos sob o comando do mesmo síndico, os moradores implantaram este ano uma gestão colaborativa, onde todos são responsáveis por alguma tarefa. Neste sentido, o uso do WhatsApp facilita a comunicação entre os 210 apartamentos.
— Foram criados diversos grupos no aplicativo por temas referentes ao condomínio, como o grupo do conselho, o do jardim, o da manutenção, com a participação dos moradores e funcionários — explica o consultor de empresa e síndico do prédio, Gabriel Nogueira.
Se um morador encontra algum problema de manutenção, por exemplo, indica diretamente no grupo referente ao caso. Além deste app, o prédio usa também um aplicativo de gestão condominial que serve como ouvidoria e os moradores conseguem até reservar o salão de festa.
— São ferramentas e sistemas que facilitam a administração à distância. O síndico gerencia um bem coletivo, mas todos os moradores têm direito de tomar decisões e de participar de todo o funcionamento diretamente — finaliza Nogueira.
Dicas para o texto:
- Objetivo: economize palavras desnecessárias: quanto maior o texto, mais chance de ele não ser lido
- Claro: redija o texto da forma mais compreensível possível e de maneira sucinta
- Formal: todo documento emitido tem consequências jurídicas, uma circular é uma forma de comunicação entre o representante legal do condomínio (o síndico) e os condôminos/ocupantes e, como tal, não deve ser tratada como se fosse um mero comentário
- Diplomático: o síndico não é chefe ou empregado dos condôminos, é o representante dos interesses deles em relação ao condomínio. Deve ter a mesma cautela de um diplomata, que lida com pessoas de diversas origens, costumes, condições econômicas e religiões. (Fonte: André Luiz Junqueira)
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Fonte: //oglobo.globo.com/