Comunicação e política elegem e derrubam síndicos
Se não é o síndico que conhece bem seu papel e responsabilidades e não valoriza a sua atuação para gerenciar conflitos, administrar as finanças e ainda resolver problemas, quem o fará?
O escritor português José Saramago já dizia: “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. A reflexão é uma boa referência para analisar o que se vê em condomínios residenciais, comerciais e mistos de todo Brasil, num cenário em que a liderança do síndico é cada vez mais questionada.
Se os síndicos não conhecerem bem seu papel e suas responsabilidades e não valorizarem a sua atuação para gerenciar conflitos, administrar dificuldades de caixa e ainda resolver milhares de problemas que surgem de todos os lados, quem o fará?
Para um síndico – profissional ou orgânico – o desafio de conquistar a confiança dos condôminos começa numa comunicação que demonstre atitude, liderança e profissionalismo.
Os condôminos esperam dele uma mensagem assertiva que integre o condomínio, em especial na fase de implantação, em que as primeiras decisões podem determinar o ambiente que será criado.
A comunicação não está apenas nas palavras. Está nos gestos e na condução de procedimentos que os síndicos conhecem bem, mas em muitas vezes são atropelados pelos boatos, especulações e desinformação de grupos de WhatsApp que abastecem condôminos de reclamações, dúvidas e incertezas.
Uso da comunicação para reunir, revisar e realizar
Para o sucesso da gestão, é necessário usar a comunicação para reunir, revisar e realizar.
- Reunir informações, dados, documentos, históricos, equipe, deliberações, sugestões e opiniões (a favor e contra);
- revisar os diferentes cenários, oportunidades, estratégias, perfis e necessidades dos seus clientes;
- e realizar, ação que se traduz no “fazer acontecer”, colocar em prática e cumprir leis, regulamentos, obrigações e decisões de assembleia tomadas pelos condôminos.
O processo de comunicação implica em usar a empatia, saber ouvir e traduzir sentimentos e expectativas, e demonstrar que as atitudes tomadas são baseadas no interesse de todos, em busca do equilíbrio, usando técnica e buscando a neutralidade.
No papel de líder, cabe ao síndico assumir o controle e delegar tarefas; orientar a equipe direta, compartilhar decisões com os conselheiros, além de atender pacientemente e informar regularmente os condôminos sobre suas ações.
Revertendo o estereótipo da vida em condomínio
Não é fácil reverter a imagem estereotipada da vida em condomínio que corrói a reputação que os síndicos trabalham para construir.
Além das boas gargalhadas que proporcionavam, que mensagem se apreende de programas de TV como “Sai de baixo” e “Toma-lá-dá-cá”? E o que tentam nos mostrar as séries de canais por assinatura “Maldivas” e “Os Outros”, que retratam um ambiente de conflitos, violência e criminalidade?
A resposta é mostrar que o condomínio é um retrato do Brasil e não o único lugar em que há baderna, abusos e favorecimento.
Na verdade, diante do que notícias diárias revelam, o princípio que deveria prevalecer é que os muros do condomínio não desobrigam os condôminos de cumprirem todas as leis que valem do lado de fora, entre elas às relacionadas a crimes contra a honra, como calúnia, injúria e difamação.
E que no condomínio coexiste tudo aquilo que de melhor e de pior a sociedade é capaz de produzir, mas que tal como no mundo exterior, lá a maioria das pessoas busca uma convivência harmoniosa.
As armas da boa gestão condominial começam na cultura do respeito
Por isso, síndico, não ignore e nem subestime quem vive ou trabalha em condomínio, o que fazem, o que dizem e como agem. Pratique e pregue a cultura do respeito às regras e às pessoas, para não ser vítima disso. Combata todas as formas de preconceito e discriminação, não só entre condôminos, mas contra os funcionários.
Tenha método, tática e estratégia para comandar e, seguindo os princípios de “A arte da guerra”, de Sun-tzu, conheça o terreno em que vai lutar, chegue sempre antes e nunca seja imprudente.
Crie e fortaleça canais oficiais de comunicação que sejam acessíveis e mantenha ouvidos abertos ao que corre nos canais paralelos, como os grupos de condôminos e, por meio de aliados, reforce a informação correta a todo condomínio.
Lembre-se que comunicação não se completa quando você fala e sim quando a mensagem que você quis transmitir for compreendida, e que informação é um produto altamente perecível. Se perder a validade ou for entregue com atraso não serve para mais nada.
Gestão condominial é sobre política
Não se esqueça que tudo isso é política. O papel do síndico, tal qual o do governante, é captar os anseios das pessoas, fazê-las acreditar que sob sua liderança isso pode ser conquistado e, de fato, trabalhar para isso.
Tome atitudes se preocupando em fazer o certo e não o que agradará alguns. Nessa linha, entenda que a oposição é necessária para que quem está no poder não se acomode, não cometa excessos e saiba que um dia poderá perder o cargo.
Imagine que a campanha à reeleição começa no seu primeiro dia de trabalho. Sem bons resultados ou sem comunicá-los, ninguém saberá o que você fez.
(*) Roberto Viegas é jornalista e palestrante especialista em mercado imobiliário e condomínios. Como diretor de Assuntos Corporativos, realizou mais de 200 implantações de condomínio pelo Brasil numa das maiores incorporadoras do País, onde foi responsável pelo relacionamento com clientes e pela seleção de administradoras de condomínio e de síndicos profissionais. Também é consultor de Comunicação e apresentador do canal Vemmorar.br, no Youtube. E-mail: roberto.viegas@3rgt.com.br