Polícia intensificará ações para livrar residenciais populares do tráfico
Moradores do 'Minha Casa Minha Vida' foram expulsas por criminosos. Delegacias de cidades onde ficam os condomínios vão instaurar inquéritos.
Após as denúncias que centenas de famílias carentes beneficiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida estão sendo vítimas da violência do crime organizado em Santa Catarina, os responsáveis pela segurança pública do estado se reuniram na manhã desta quarta-feira (19).
"Tão logo tomamos conhecimento dessas reportagens, realizamos uma reunião na Secretaria de Segurança Pública, traçamos algumas metas e estamos levantando informações através do setor de inteligência da Polícia Civil nos locais onde possam estar ocorrendo tais fatos", afirma Artur Nitz, delegado-geral da Polícia Civil.
O delegado disse ainda que todas as denúncias estão sendo apuradas e as delegacias das cidades onde ficam os condomínios vão instaurar inquéritos e ações para combater o crime.
A secretária de Assistência Social de Santa Catarina, Angela Albino, também falou sobre a situação da violência em alguns condomínios do programa.
Conforme Angela, a secretaria está empenhada na efetivação do plano estadual de combate às drogas, que envolverá também as Secretarias de Segurança, Educação, Saúde e Justiça e Cidadania.
"A maioria das pessoas que mora nesses condomínios são pessoas de bem. As que por ventura estejam sendo ameaçadas e vítimas podem fazer denúncias pelo número 181 da Polícia Civil, que todas as medidas possíveis serão tomadas", afirma Nitz.
Entenda o caso
Centenas de famílias carentes beneficiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida estão sendo vítimas da violência do crime organizado em Santa Catarina.
Elas ficaram anos na fila por um imóvel, mas hoje não têm onde morar.
“Eles foram até o meu apartamento me ameaçar, dizendo que iam tacar fogo, tanto em mim quanto na minha família”, conta um morador. “Eu morava com parente, de favor. Então, quando eu soube que ia conseguir a minha casa própria, foi a maior felicidade, né. Hoje, isso se tornou um pesadelo”, diz outro.
A reportagem da RBS TV encontrou esses casos percorrendo o estado e entrando em condomínios construídos pelo governo federal, através da faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida. Nessa faixa, famílias de baixa renda recebem o imóvel precisando pagar só 10% do valor. O resto é desembolsado pelo governo.
Condomínio em Criciúma
“Chegou a um ponto de ser apelidado de Carandiru por conta do número de criminosos que saem do sistema penal catarinense e se alojam lá. Eles estavam controlando o condomínio, expulsando moradores, tomando conta desses apartamentos, alugando, vendendo. Nós temos gravações de criminosos negociando os apartamentos”, afirma o delegado Neves.
Em uma escuta telefônica, um traficante negocia o preço de um apartamento. Ele diz vender o imóvel por R$ 2,5 mil. "Daí tu vai [sic] ter que ir pagando só por mês a taxa, R$ 100 do condomínio e R$ 90 do apartamento. R$ 190, R$ 200 'pila' por mês tu vai ter que pagar só".
Para quem resiste, o preço de ter um teto é viver com medo. Um dos moradores, que não quis ser identificado, diz que o que mais o chocou na violência dos traficantes foi "o espancamento de uma moradora. Ficou sete dias em coma".
Segundo ele, os criminosos agrediram a mulher "porque acharam que ela estava denunciando eles. Cada vez que a polícia batia lá, eles achavam que era alguém que estava denunciando. Escolhia uma das famílias pra descontar".
Outros casos
Muitas famílias não aguentam. Em um condomínio em Chapecó, no Oeste, são 480 apartamentos. Destes, 150 estão vazios. Muitas dessas famílias abandonaram o lar para fugir da violência.
"Há uma preocupação muito grande com as criancas que ficam a mercê desses processos", diz a vereadora Marcilei Vignatti. Ela se refere aos menores usados pelo crime. "Ali eles vendem fumo [maconha], pedra [crack], cocaína", diz um morador.
A situação se repete por todo o estado, que tem 187 residenciais do Minha Casa Minha Vida. Em um condomínio de Joinville, no Norte, foram atendidas quase 600 ocorrências policiais em menos de dois anos. Em Palhoça, na Grande Florianópolis, quebraram carros de moradores quando tentaram acabar com o tráfico.
Em outro, em Blumenau, no Vale do Itajaí, os moradores precisaram negociar a paz com os traficantes. "A gente vive em pânico 24 horas", diz um dos moradores. "Nós moradores dialogamos com eles. Entramos em um acordo com eles, tratamos bem, damos comida quando eles pedem. A gente faz assim por assim não gera violência", conta.
Fonte: http://g1.globo.com/
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