Condomínios em Recife
Estratégias para lidar com a covid-19
Veja como ficou a vida nos condomínios no Grande Recife depois do isolamento social provocado pelo coronavírus
Síndicos estão contando com o bom senso dos moradores para administrar as normas de isolamento social recomendadas pelo Sindicato da Habitação (Secovi)
O pequeno Caio, de apenas 6 anos de idade, mudou há menos de um mês para um amplo condomínio na Zona Oeste do Recife. Lá, ele esperava poder aproveitar o parquinho e fazer novos amigos. A irmã dele, Julia, de 15 anos, queria curtir a piscina e visitar as amigas que moram no prédio vizinho do mesmo condomínio. Nada disso foi possível. Tudo por causa do coronavírus.
Os balanços e escorregadores do parquinho estão isolados por fitas de segurança e a piscina vive com o portão de acesso trancado no cadeado e mesas e cadeiras recolhidas. Sem aulas nas escolas Caio e Júlia passam o dia se entretendo com filmes e brinquedos.
“Para o Caio foi mais difícil entender, ele queria muito brincar no playground mas tivemos que explicar a ele sobre essa doença, os perigos e porque é importante todo mundo ficar em casa por um tempo”, explicou Julia Ferreira, irmã de Caio.
Mesmo sem poder aproveitar a piscina, sala de ginástica, ou salão de festas do novo endereço, Julia entende o porquê de tanta restrição. “Tudo isso é totalmente necessário. Claro que eu gostaria de poder, pelo menos, visitar minhas amigas mas a gente sabe que não pode. O que importa é a nossa saúde e que todo mundo fique bem”, disse a adolescente.
Júlia mora em um dos 3 mil condomínios que existem no Grande Recife, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi) e que estão sob uma severa norma de restrição de atividades para ajudar a conter a proliferação do Coronavírus. O Secovi recomendou aos síndicos a suspensão de toda as atividades nos locais considerados “áreas comuns”, como salões de festa e de jogos, brinquedoteca, piscinas e parquinhos. O objetivo é reduzir a movimentação de pessoas e evitar aglomerações.
“Todas as novas regras foram muito bem aceitas. A grande maioria dos moradores está bem consciente de seu papel neste isolamento e estão colaborando”, diz Adriana Mendonça, síndica de um condomínio com 168 apartamentos e cerca de 500 moradores em San Martin, Zona Oeste do Recife.
Adriana complementa a informações dizendo que “um ou dois moradores ainda reclamaram porque não poderiam utilizar o salão de festas para comemorações que já estavam agendadas”, afirmou.
Além das recomendações do Secovi, Adriana e qualquer outro síndico está legalmente amparado pelo decreto do governo estadual que impede a reunião de mais de dez pessoas. Além das festas nas áreas comuns, os síndicos devem suspender reuniões de moradores, e assembleia dos próprios condomínios neste período, e ainda promover ações que protejam os funcionários de possíveis riscos de contaminação.
“Estou trabalhando com metade dos funcionários de limpeza e portaria, em esquema de rodízio. Cada um trabalha um dia, e folga no seguinte, todos têm a disposição álcool em gel para fazer a higiene regularmente durante as atividades. Um porteiro com cerca de 60 anos de idade foi dispensado para ficar em casa enquanto dura a quarentena”, explicou Adriana Mendonça.
Outro cuidado que o síndico e os moradores devem ter neste período com muita gente em casa, segundo Adriana, é com o consumo excessivo de itens básicos que são rateados entre os moradores, como a água e o gás de cozinha. “No nosso caso, a preocupação maior é com o gás, que em oito dias de quarentena teve um consumo equivalente a 20 dias normais”, diz Adriana, que já pensa em uma campanha de conscientização dos moradores para usarem menos o fogão. O custo do gás para o condomínio fica entre R$ 6 mil e R$ 8 mil por mês.
Taxas
Uma preocupação que ronda todos os administradores de condomínios é o possível aumento na inadimplência das taxas de condomínio. Por conta da paralisação de várias atividades econômicas e a consequente queda na renda de alguns moradores, os condomínios podem ter uma redução no montante que custeia a manutenção dos prédios, fornecimento de água e luz e salário dos funcionários.
O consultor jurídico do Sindicato da Habitação, Noberto Lopes, diz que a inadimplência média nos condomínios do Grande Recife é de 3%. O Secovi ainda não tem estimativa de quanto será o impacto negativo na arrecadação dos condomínios como reflexo da diminuição da atividade econômica.
Noberto Lopes acredita que alguns moradores podem optar por não pagar o condomínio se tiverem uma redução expressiva na sua renda. “Assim como as taxas de condomínio, também os aluguéis podem ser atingidos pela inadimplência. Sobretudo os aluguéis de espaços comerciais que serão diretamente prejudicados pelo fechamento compulsório”, diz o advogado.
Noberto orienta os síndicos para negociarem o quanto antes com os moradores que apresentarem alguma dificuldade para pagar o condomínio. “Eu digo para negociar no sentido de reduzir o valor da taxa de condomínio por um período com o valor restante sendo diluído nas demais prestações”, diz Noberto Lopes.
A síndica profissional Daisy Machado, que administra mais de 40 condomínios, diz que a taxa média de inadimplentes entre os imóveis sob seus cuidados se situa hoje entre 8% e 10%, mas já foi pior. “Hoje eu tenho imóvel com 0% de inadimplência. Desde 2016, quando o Código de Processo Civil endureceu as regras para quem não paga o condomínio, que o número de quem deixa contas em aberto vem caindo”, explica Daisy.
Pela lei, a partir de 60 dias de atraso, a administradora pode entrar na Justiça com um pedido para pagamento do débito. O morador tem até 30 dias para quitar a dívida. Se não o fizer, pode ter a conta bancária penhorada ou o imóvel pode até ir a leilão.
Daisy Machado acredita que a inadimplência não deva crescer tanto por conta da crise causada pela prevenção ao Coronavírus. “É claro que o fechamento do comércio vai complicar a vida de muita gente mas o bom pagador vai buscar a negociação ou qualquer outro meio para não deixar taxas em aberto. Já o devedor contumaz, pode usar a quarentena como justificativa para não pagar”, afirma Daysi.
Medidas de prevenção para condomínios
- Assembleias ou reuniões de moradores devem ser suspensas ou adiadas
- Os síndicos devem priorizar pagamentos bancários on line para evitar a ida de funcionários às agências bancárias
- Evitar realização de eventos nos salões de festas e não agendar novos eventos
- Suspender atividades de moradores e visitantes nas salas de ginástica, salão gourmet, sala de jogos, brinquedoteca, piscina e outras áreas comuns
- Evitar ou suspender visitas presenciais a fornecedores
- Em caso de suspeita de contágio de funcionário ou morador o síndico deve ser imediatamente informado
Fonte: Secovi-PE
Fonte: JC online