Um gasta, mas todos pagam
Com hidrômetro único, mesmo quem conseguir economizar arcará com desperdício do vizinho
A taxa extra para quem não economizar 30% da água consumida na região metropolitana de Belo Horizonte está próxima de virar realidade, e a forma como isso será feito tem preocupado, principalmente, moradores e síndicos de condomínios residenciais. Como a Copasa não detalhou em quanto e como será essa cobrança, pairam dúvidas e temores, uma vez que, em 98% dos prédios, o consumo é medido por um único hidrômetro.
A ordem é diminuir ao máximo o consumo em cada residência, mas no caso do hidrômetro conjunto, que mede o gasto total de água por mês, e cuja economia depende da contribuição de todos os condôminos, o problema será maior.
"Você pode economizar ao máximo, mas se seu o vizinho extrapolar no gasto da água, o prejuízo será pago por todos os moradores do prédio”, explicou o advogado Kênio Pereira, especialista em direito imobiliário.
Essa forma coletiva de medição não permite que o condomínio saiba qual residência consumiu mais ou menos água. Com isso, uma solução seria a adoção da hidrometria, sistema individualizado de medição do consumo. Segundo Pereira, esse modelo é relativamente novo no Brasil e atende a apenas 2% dos prédios da capital. “Somente os edifícios novos contam com os aparelhos. É uma boa solução para escapar da sobretaxa, mas a instalação em prédios mais antigos, além de muito cara, pode ser um problema para os que demandarem muitas obras”, alerta o especialista.
O gerente de projetos Daniel de Carvalho Gomes, 34, síndico de um prédio no bairro Estoril, conta que a hidrometria é tema constante de conversas entre os moradores. “Nunca tratamos do assunto oficialmente nas reuniões, porque não temos caixa para isso, mas a possibilidade da multa já preocupa. O jeito vai ser produzir memorandos para reforçar a conscientização das pessoas”, disse.
De acordo com o engenheiro especialista Rony Rossi Horta, o preço é cobrado conforme a quantidade de hidrômetros instalados. “Pode variar entre R$ 1.500 a R$ 4.000 por apartamento. Prédios mais antigos e que têm muitas prumadas exigem mais trabalho. Mas o retorno é garantido”, afirma Horta.
O alto investimento levou o síndico Sérgio Fernando Santos, 63, a não implantar no condomínio onde mora, na Vila Paris, o hidrômetro individual. Ele diz que vai perseguir a meta economizando. “É uma medida cara e teria de fazer uma obra muito grande. Vamos investir na conferência de todos os registros para evitar possíveis vazamentos, lavar a garagem com balde uma vez por mês e proibir lavagem de carro”, diz.
Copasa explica
Cálculo. A tarifa é cobrada por faixas de consumo. Por exemplo, em condomínio com 20 apartamentos e consumo de 320m³, cada um paga por 16m³. A tarifa de esgoto (90% do total) é rateada.
Indefinição
Média
O governo do Estado já adiantou que a taxa extra será cobrada em cima da média consumida pelo morador em 2014.
Dúvida
Segundo o especialista em direito imobiliário Kênio Pereira, a norma do governo terá que abrir brecha para a média dos imóveis que estiveram vazios em 2014 e que serão ocupados neste ano.
Tarifa
O presidente da Arsae, Antônio Caram, disse que a agência não foi informada pelo Estado e pelo Igam sobre qual será o valor, nem como vai incidir sobre as tarifas de cobrança da água.
Caça aos vazamentos e gatos
A forma mais barata de economizar água na residência e escapar da taxa extra é investir no combate ao vazamento. O especialista em direito imobiliário, Kênio Pereira, explica que 47% do consumo doméstico são dos chuveiros e 40% da descarga. “Pouca gente sabe disso, mas a descarga consome grande quantidade de água e, muitas vezes, o vazamento é imperceptível. É aconselhável ter um bombeiro para fazer essa conferência em todo o prédio”, orienta.
O especialista também recomendou o combate ao roubo de água, chamado de gato, prática comum no país e que, segundo ele, é crime que deveria ser punido. “Cadê a punição penal no país?”, questiona.
Fonte: http://www.otempo.com.br/