Convivência
É Paris: muito glamour e pouquíssimo espaço
PARIS - O artista plástico e desenhista gráfico Kinkas, capixaba criado no Rio, teve duas lições quando se mudou para Paris, há 20 anos. A primeira: morar em prédio antigo é muito romântico, mas não dá para entrar às escondidas em casa. O chão faz um barulhão de tábua corrida gasta, e as paredes são tão finas que os vizinhos escutam tudo. Segunda lição: não ouse, como ele fez, jogar um balde de água para lavar o banheiro. Não tem ralo.
— Outra coisa: garagem, nem pensar — reclama Kinkas.
Já o paulista Rafael, 40 anos, 19 em Paris, não tem problema com tacos e só vê charme em edifício antigo. Além disso, comprou o imóvel há dez anos, em ótimo negócio. Pagou 100 mil (R$ 228 mil) por um espaço que hoje vale ao menos 400 mil (R$ 1,1 milhão):
— Meu apartamento é de 1695, quando nem tinha taco. O chão é de cerâmica, o pé-direito é alto e tenho lareira — descreve Rafael, funcionário do grupo Cartier, explicando o que pensa dos 32 metros quadrados do imóvel no Marais. — É pequeno para o padrão brasileiro. Mas em Paris é luxo morar no Marais. Não se pode querer tudo.
Kinkas, casado e com filhas, precisa de espaço. Mora num dúplex moderno, sem taco barulhento, no 13 arrodissement — bairro com prédios altos. Considerando-se os preços de aluguel na cidade, é privilegiado: paga 1,5 mil (R$ 3,4 mil) por 120 metros quadrados ao mês: foi selecionado para um imóvel reservado a artistas, a preço reduzido.
Morar em Paris tem seu glamour. Mas, além da falta de ralo, garagem e do pouco espaço, há outras diferenças quanto ao Brasil, lembra Joyce Monteiro, funcionária da Unesco, que vive desde 2006 na cidade, com o marido francês e a filha, num apartamento de 45 metros quadrados. O aluguel? 1.040 (R$ 2.371).
— Não há área de cozinha, nem tanque.
Em dezembro, o metro quadrado em Paris atingiu >EuC2< 7.483 (R$ 17 mil) contra 2.885 de dez anos antes. Um espaço de nove ou dez metros quadrados custa até 80 mil (R$ 182 mil). E é isso: tem gente que mora em áreas menores que um quarto no Brasil. Que o diga a faxineira baiana Angelina Araújo, 50 anos, que em seis anos já fez turnê por quartinhos da cidade. O primeiro que ocupou (reservado a porteiros num prédio chique) não tinha ducha nem pia:
Comprei uma bacia e esquentava água numa chapinha elétrica para tomar banho
Depois, mudou para outro quarto, com chuveiro. Hoje mora com um francês em Argenteuil, uma das áreas onde jovens desfavorecidos queimaram centenas de carros na revolta de 2005. A relação amorosa vai bem. Mas o espaço continua apertado:
— É uma quitinete. Dá para dormir, sair para trabalhar e voltar para cozinhar arroz.
Fonte: http://extra.globo.com