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Mercado

COVID-19 e aluguel

Crise faz subir pedidos de desconto e isenção

segunda-feira, 12 de julho de 2021
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Pandemia aumenta negociações de aluguel

Há mais de cinco anos, o grupo Gazin, um dos maiores varejistas do país, com 243 lojas e forte presença no interior, aluga um determinado imóvel para comercializar colchões. O ponto de venda está fechado desde 20 de março devido a medidas de isolamento social para combater o coronavírus.

Como a Gazin nunca atrasou o pagamento, o proprietário do imóvel, que pediu à reportagem anonimato, diz ter recebido com surpresa um email da varejista informando que pagaria só a metade do aluguel referente a março.

O documento, ao qual a reportagem teve acesso, foi enviado em 25 de março a pelo menos 170 destinatários, entre locadores e imobiliárias responsáveis pelos imóveis alugados pela Gazin.

Nele, o departamento jurídico da empresa afirma que o aluguel de março seria pago em abril pela metade e, ?para os meses subsequentes, requer a concessão de isenção enquanto permanecer o estado de calamidade pública?.

A decisão unilateral não foi negociada, e pode ser contestada por locadores. O proprietário ouvido pela reportagem afirma que toparia dar algum desconto, mas diz ter acionado advogados para contestar a notificação, não contratual.

Procurada pela reportagem, a Gazin não se manifestou.

Essa situação exemplifica algo que tem começado a ocorrer com mais frequência no mercado imobiliário brasileiro, especialmente em capitais. É crescente o número de inquilinos que têm buscado as imobiliárias pedindo descontos temporários de até 60% ou até mesmo isenções no aluguel durante a pandemia.

Cerca de 75% dos pedidos são de locatários de imóveis corporativos, especialmente comerciais e escritórios, segundo Adriano Sartori, vice-presidente de locação do Secovi-SP (sindicato da habitação).

"A recomendação é negociar, e não comunicar de maneira unilateral, até porque a maioria dos contratos prevê multa por inadimplência", diz.

"Já começamos a ver pedidos de inquilinos de imóveis residenciais que trabalham em setores mais atingidos com a crise e perderam o emprego ou tiveram jornada de trabalho reduzida, mas os mais frequentes são referentes a comércios", afirma.

O caso típico é o do comerciante que precisou fechar as portas por causa da quarentena, mas também há grandes empresas que tiveram a demanda drasticamente reduzida e querem desconto nos aluguéis de seus escritórios.

"Temos dito aos proprietários que escutem os pleitos e verifiquem se o pedido faz sentido. Tem empresas que podem comprovar queda no faturamento", diz Sartori. O ideal, segundo ele, é fazer as negociações mês a mês.

O setor tem se posicionado contra a intervenção do governo no tema. O Senado discute um projeto do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) que propõe a suspensão do pagamento de aluguel residencial para trabalhadores que sofrem cortes de salários por conta do avanço do vírus e também a suspensão de despejos.

A proposta original prevê que o pagamento poderia ser suspenso a partir de 20 de março de 2020 até 30 de outubro de 2020, mas o trecho deve ser retirado do texto.

"Se o poder público intervir, pode gerar uma corrida ao Judiciário posteriormente. Não há ainda relatos de ações de despejo. O ideal é negociar".

Na Lello, que administra mais de 11 mil imóveis e tem uma carteira de cerca de 7.000 vagos, 4% dos contratos tiveram algum pedido de renegociação devido à crise provocada pelo coronavírus.

"A tendência é que esse número aumente ao longo do tempo. Até agora, os pedidos residenciais representam 35% das renegociações", diz Roseli Hernandes, diretora de locação da imobiliária, que maior presença em São Paulo.

A maioria dos proprietários aluga um único imóvel, de acordo com ela.

"É uma situação delicada, os locatários dependem da receita do aluguel para viver, mas temos recomendado levar em conta o histórico do inquilino. Muitas vezes é alguém que sempre pagou em dia, mas que agora passa aperto".

A Lopes administra por meio de franqueados aproximadamente 12 mil imóveis. Segundo o diretor-executivo da companhia, Matheus Fabricio, três em cada quatro solicitações de descontos são de endereços comerciais.

"São pedidos de todos os níveis, desde pequenos comércios que pagam R$ 850 ao mês, até grandes locações, com aluguel de R$ 30 mil. O isolamento atingiu todos os perfis".

Na empresa, a solução mais comum tem sido o desconto temporário de até 50% do aluguel por períodos que variam entre 60 a 90 dias.

Em alguns casos, fica acertado que o valor não pago será acertado no fim do contrato ou diluído posteriormente em parcelas sem multas e juros, por exemplo.

"É preciso bom senso na negociação. Da ótica do proprietário, agora também não é o momento de esvaziar o imóvel porque enquanto houver isolamento haverá dificuldade para achar novo inquilino", diz Fabricio.

Na startup QuintoAndar, que fechou em fevereiro 6.500 contratos residenciais, também há casos de renegociação.

Um dos casos é o da professora aposentada Almerinda Capelo, 75, que aluga um imóvel pela plataforma no Jardim Anália Franco, zona leste de São Paulo, há cinco meses. A inquilina, Taiane Paula, 30, é autônoma e trabalha na organização de eventos, uma das mais prejudicadas com o isolamento social.

"A moça queria desocupar a casa, mas eu me sensibilizei e propus um desconto temporário em torno de 50% durante a crise. A gente vai conversar todo mês sobre isso", afirma Almerinda.

"O acordo foi o que me salvou, porque fiquei sem renda. Todos os eventos foram cancelados ou adiados sem data definida. Estou vivendo das minhas economias", diz Taiane.

Almerinda, que vive com o marido aposentado e um filho, aluga uma sala comercial e também conseguiu renegociar o valor. Vai pagar 30% do aluguel enquanto durar a crise.

Para os inquilinos, a QuintoAndar deverá lançar nos próximos dias a alternativa de parcelar o valor do aluguel no cartão de crédito, segundo a gerente da empresa para São Paulo, Flávia Mussalem. A marca estuda liberar o parcelamento em até dez vezes.

A startup Apê11. de compra e venda de imóveis residenciais já sentiu o impacto no caixa e renegociou o aluguel do próprio escritório da empresa.

"Estamos na terceira semana de escritório fechado, com as pessoas em home office, e fechamos o primeiro contrato pós-decretação da pandemia nesta semana. Nessa situação, reduzimos o aluguel em 60% por três meses", diz Leonardo Azevedo, diretor-executivo da empresa.

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br

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